Sem apoio da esquerda, novo primeiro-ministro da França inicia desafio de formar governo

Sem apoio da esquerda, novo primeiro-ministro da França inicia desafio de formar governo

Nomeação do conservador Michel Barnier encerra mais de 50 dias de um governo interino no país, mas a proposta de alcançar a união promete ser complicada

O recém-nomeado primeiro-ministro da França, Michel Barnier, observa durante a cerimônia de posse no Hotel Matignon, em Paris, no dia 5 de setembro de 202 — Foto: Sarah Meyssonnier / POOL / AFP

Porto Velho, Rondônia -
O novo primeiro-ministro francês, o conservador Michel Barnier, iniciou nesta sexta-feira os contatos para formar um “governo de unidade”, conforme foi encarregado na véspera pelo presidente da França, Emmanuel Macron, sob a ameaça de uma moção de censura da extrema-direita. Barnier recebeu primeiramente seu antecessor Gabriel Attal, membro da aliança de centro-direita de Macron, antes de conversar com líderes de seu próprio partido, Os Republicanos (LR), que conta com apenas 47 dos 577 deputados.

— [As discussões seguem] bem, com plena energia — disse Barnier à AFP nesta sexta-feira, enquanto se preparava para visitar o Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, para uma reunião de trabalho com Macron.

A nomeação de Barnier encerra mais de 50 dias de um governo interino na França, mas a proposta de alcançar a união promete ser complicada. O inesperado adiantamento das eleições legislativas (previstas para 2027, mas convocadas para junho por Macron) deixou a Assembleia Nacional dividida em três blocos principais, todos distantes da maioria absoluta. Após semanas de consultas, a escolha por Barnier foi feita depois que o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, descartou por enquanto uma moção de censura contra ele.

Le Pen afirmou que aguardará até conhecer o programa de governo de Barnier. Ela disse que não participará de uma coalizão, mas reiterou suas prioridades: o poder de compra, a luta contra a “imigração fora de controle” e a insegurança, além da modificação do sistema eleitoral francês e o orçamento de 2025. A gestão de Barnier enfrenta um prazo apertado para entregar este último, e a França também está sob pressão da União Europeia (UE) para colocar as suas finanças em ordem, com Bruxelas repreendendo Paris pelo acúmulo de dívidas excessivas.

— [Barnier é] um homem respeitoso com outras forças políticas — disse Le Pen. — É importante porque compromissos terão de ser alcançados, considerando o orçamento da França.

A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP), que venceu as eleições legislativas, anunciou, por outro lado, uma moção de censura. A medida, contudo, só poderia ser bem-sucedida se a extrema-direita de Le Pen votasse a favor. Na França, o presidente compartilha o poder executivo com o governo e tem a prerrogativa de nomear o primeiro-ministro, mesmo que de outro espectro político, sem consultar a Assembleia, cuja única forma de oposição é a moção de censura.

Após a nomeação de Barnier, o líder da extrema esquerda francesa, Jean-Luc Mélenchon, disse que o primeiro-ministro não obteria apoio majoritário dos legisladores e que a escolha do político foi “contra os resultados das eleições”, que foi “roubada do povo francês”.

Primeiros passos

Em uma cerimônia de transferência com Attal, Barnier disse na quinta-feira que sua nova função exigiria “muita escuta e muito respeito”. Durante sua primeira declaração como primeiro-ministro, o novo chefe de governo conservador citou o controle da imigração entre suas prioridades, além do acesso aos serviços públicos, à educação, à segurança, ao emprego e à melhoria do nível de vida no país. Sem maioria legislativa, ele precisará encontrar grupos de apoiadores na Assembleia Nacional para lidar com todas essas questões.

Barnier, de 73 anos, é o mais velho dos 26 primeiros-ministros que serviram à Quinta República da França moderna, publicou a Associated Press. Ele substitui o mais novo, Gabriel Attal, que tinha 34 anos quando foi nomeado, há apenas oito meses. Attal também foi o primeiro premier abertamente gay da França. A mídia francesa e alguns oponentes de Macron criticaram a nomeação de Barnier afirmando que, ao servir no Parlamento em 1981, ele esteve entre os 155 legisladores que votaram contra uma lei que descriminalizava a homossexualidade.

Para construir o apoio que seu governo precisará, Barnier poderia possivelmente oferecer cargos ministeriais a potenciais aliados, disse Christophe Boutin, analista político da Universidade de Caen Normandie, à AP. Ele afirmou que o primeiro-ministro “procurará construir um governo de união nacional, lançando uma rede ampla”, atuando “sem os extremos”, uma referência aos oponentes de Macron na extrema esquerda e na extrema direita da política francesa, que têm influência considerável, apesar de não alcançar a maioria na legislatura.

O atual primeiro-ministro traz consigo a ampla experiência e as redes de contatos de sua carreira política de mais de 50 anos. Ele já serviu como ministros de relações exteriores e europeias, meio ambiente e agricultura, e duas vezes como comissário europeu. Seu perfil, no entanto, também pode deixar Macron exposto a acusações de oponentes de que o presidente não está promovendo a “mudança profunda” que alguns eleitores esperavam nas eleições legislativas, avaliou Boutin. (Com AFP)


Fonte: O GLOBO

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