Diosdado Cabello afirmou que ex-candidato presidencial estaria 'num município conhecido da oposição'; defesa do diplomata pede respeito pelas 'garantias processuais'
Porto Velho, Rondônia - O ministro do Interior, da Justiça e da Paz da Venezuela, Diosdado Cabello, afirmou que já tem a localização do opositor Edmundo González Urrutia. A declaração foi feita na noite de quarta-feira, dias após a Justiça venezuela aceitar um pedido do Ministério Público para emitir um mandado de prisão contra o ex-candidato presidencial, que foi acusado de cinco crimes pelo órgão ligado ao chavismo depois de ter ignorado três intimações para depor. Cabello afirmou que González Urrutia estaria “num município conhecido da oposição”.
— Vou levá-lo a um amigo meu, que é o ministro do Interior e da Justiça — disse Cabello, rindo, durante o programa Con el Mazo Dando.
O advogado de González Urrutia, José Vicente Haro, entregou ao procurador-geral do país, Tarek William Saab, uma carta em que pede o respeito pela “presunção de inocência” e pelas “garantias processuais” que, segundo ele, “não estiveram presentes” nas três convocações emitidas pela Procuradoria Geral da República. À CNN, Haro afirmou que o documento detalha os motivos pelos quais o opositor não compareceu para depor, reforçando que o ex-candidato não foi informado sobre o motivo de sua convocação.
— Este é o tipo de situação pela qual o senhor Edmundo González Urrutia não compareceu à intimação feita a ele — acrescentou Haro. — Porque há uma situação de indefensabilidade, de impossibilidade de garantir seu direito à defesa, ao devido processo. O que teria acontecido se o senhor Edmundo González Urrutia tivesse se apresentado?
As intimações que González Urrutia recebeu tinham como foco o site no qual a oposição, liderada por María Corina Machado, publicou as cópias de mais de 80% das atas eleitorais que supostamente comprovariam a vitória do ex-diplomata contra o atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O chavismo considera que essas publicações foram “forjadas”, embora o Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral no país, tenha dito que os documentos são “consistentes” e que González Urrutia venceu de maneira “clara”.
'Pulando de casa em casa'
A situação da oposição na Venezuela tem sido cada dia mais complicada. González Urrutia está, segundo seus advogados, “pulando de casa em casa”. Sua esposa está no apartamento do casal, em Caracas, contando apenas com a companhia de uma de suas filhas (a outra mora na Espanha). A comunicação entre o opositor, sua família, amigos e colaboradores é escassa, contou ao GLOBO um desses colaboradores. Segundo ele, o ex-candidato “está muito preocupado com sua família, sobretudo com sua esposa” porque “eles receberam ameaças”.
Haro, o advogado de González Urrutia, disse à La W Radio que o opositor descartou a possibilidade de solicitar asilo político. Fontes em Caracas afirmaram que o ex-candidato está escondido numa embaixada, mas fontes do governo brasileiro indicaram que ele não está na missão do Brasil. As opções entre os países latino-americanos são poucas, já que, após as eleições de 28 de julho, a Venezuela rompeu relações com diversas nações vizinhas. Analistas e jornalistas venezuelanos especularam que o opositor poderia estar em uma embaixada europeia.
Para autoridades brasileiras, a ordem de prisão emitida pelo Ministério Público da Venezuela contra González “fecha a janela de oportunidade para uma negociação” entre o regime comandado por Nicolás Maduro e a oposição, avaliando que a situação política no país é “grave”. Também nesta quarta-feira, Diosdado Cabello negou que Maduro tenha planejado uma reunião com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e com os líderes da Colômbia e do México para tratar da crise pós-eleitoral.
A fala de Cabello foi feita depois de o chanceler colombiano Luis Gilberto Murillo ter afirmado, nesta terça-feira, que “provavelmente” o chavista teria um encontro virtual com Lula e com Gustavo Petro, o presidente colombiano. Lula e Petro têm liderado os esforços por uma negociação entre Maduro e a oposição desde a escalada das tensões na Venezuela.
— Esse senhor acha que pode vir meter o nariz na Venezuela — criticou Cabello, em referência a Murillo. — Ele é o chanceler da Colômbia, mas, na verdade, é o chanceler dos Estados Unidos na Colômbia. Ele acha que pode dizer ‘estamos coordenando uma reunião entre Colômbia, Brasil e México para tratar do tema da Venezuela’. Como é isso? O tema da Venezuela é tratado pelos venezuelanos e venezuelanas.
Considerados próximos ao atual governo venezuelano, Lula e Petro expressaram nesta terça-feira sua “profunda preocupação” com a ordem de prisão emitida pela Justiça da Venezuela contra González Urrutia. O petista já havia endurecido o discurso contra Maduro na semana passada, quando afirmou que não reconhecia sua vitória, embora também não reconhecesse a da oposição. Com a declaração, o Brasil se juntou a uma dezena de países latino-americanos, aos EUA e à União Europeia, que rejeitam a validação da vitória do chavista.
(Com AFP; colaborou Janaína Figueiredo)
Fonte: O GLOBO
Diosdado Cabello, número dois do chavismo e novo ministro do Interior da Venezuela — Foto: Raul ARBOLEDA / AFP
Porto Velho, Rondônia - O ministro do Interior, da Justiça e da Paz da Venezuela, Diosdado Cabello, afirmou que já tem a localização do opositor Edmundo González Urrutia. A declaração foi feita na noite de quarta-feira, dias após a Justiça venezuela aceitar um pedido do Ministério Público para emitir um mandado de prisão contra o ex-candidato presidencial, que foi acusado de cinco crimes pelo órgão ligado ao chavismo depois de ter ignorado três intimações para depor. Cabello afirmou que González Urrutia estaria “num município conhecido da oposição”.
— Vou levá-lo a um amigo meu, que é o ministro do Interior e da Justiça — disse Cabello, rindo, durante o programa Con el Mazo Dando.
O advogado de González Urrutia, José Vicente Haro, entregou ao procurador-geral do país, Tarek William Saab, uma carta em que pede o respeito pela “presunção de inocência” e pelas “garantias processuais” que, segundo ele, “não estiveram presentes” nas três convocações emitidas pela Procuradoria Geral da República. À CNN, Haro afirmou que o documento detalha os motivos pelos quais o opositor não compareceu para depor, reforçando que o ex-candidato não foi informado sobre o motivo de sua convocação.
— Este é o tipo de situação pela qual o senhor Edmundo González Urrutia não compareceu à intimação feita a ele — acrescentou Haro. — Porque há uma situação de indefensabilidade, de impossibilidade de garantir seu direito à defesa, ao devido processo. O que teria acontecido se o senhor Edmundo González Urrutia tivesse se apresentado?
As intimações que González Urrutia recebeu tinham como foco o site no qual a oposição, liderada por María Corina Machado, publicou as cópias de mais de 80% das atas eleitorais que supostamente comprovariam a vitória do ex-diplomata contra o atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O chavismo considera que essas publicações foram “forjadas”, embora o Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral no país, tenha dito que os documentos são “consistentes” e que González Urrutia venceu de maneira “clara”.
'Pulando de casa em casa'
A situação da oposição na Venezuela tem sido cada dia mais complicada. González Urrutia está, segundo seus advogados, “pulando de casa em casa”. Sua esposa está no apartamento do casal, em Caracas, contando apenas com a companhia de uma de suas filhas (a outra mora na Espanha). A comunicação entre o opositor, sua família, amigos e colaboradores é escassa, contou ao GLOBO um desses colaboradores. Segundo ele, o ex-candidato “está muito preocupado com sua família, sobretudo com sua esposa” porque “eles receberam ameaças”.
Haro, o advogado de González Urrutia, disse à La W Radio que o opositor descartou a possibilidade de solicitar asilo político. Fontes em Caracas afirmaram que o ex-candidato está escondido numa embaixada, mas fontes do governo brasileiro indicaram que ele não está na missão do Brasil. As opções entre os países latino-americanos são poucas, já que, após as eleições de 28 de julho, a Venezuela rompeu relações com diversas nações vizinhas. Analistas e jornalistas venezuelanos especularam que o opositor poderia estar em uma embaixada europeia.
Para autoridades brasileiras, a ordem de prisão emitida pelo Ministério Público da Venezuela contra González “fecha a janela de oportunidade para uma negociação” entre o regime comandado por Nicolás Maduro e a oposição, avaliando que a situação política no país é “grave”. Também nesta quarta-feira, Diosdado Cabello negou que Maduro tenha planejado uma reunião com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e com os líderes da Colômbia e do México para tratar da crise pós-eleitoral.
A fala de Cabello foi feita depois de o chanceler colombiano Luis Gilberto Murillo ter afirmado, nesta terça-feira, que “provavelmente” o chavista teria um encontro virtual com Lula e com Gustavo Petro, o presidente colombiano. Lula e Petro têm liderado os esforços por uma negociação entre Maduro e a oposição desde a escalada das tensões na Venezuela.
— Esse senhor acha que pode vir meter o nariz na Venezuela — criticou Cabello, em referência a Murillo. — Ele é o chanceler da Colômbia, mas, na verdade, é o chanceler dos Estados Unidos na Colômbia. Ele acha que pode dizer ‘estamos coordenando uma reunião entre Colômbia, Brasil e México para tratar do tema da Venezuela’. Como é isso? O tema da Venezuela é tratado pelos venezuelanos e venezuelanas.
Considerados próximos ao atual governo venezuelano, Lula e Petro expressaram nesta terça-feira sua “profunda preocupação” com a ordem de prisão emitida pela Justiça da Venezuela contra González Urrutia. O petista já havia endurecido o discurso contra Maduro na semana passada, quando afirmou que não reconhecia sua vitória, embora também não reconhecesse a da oposição. Com a declaração, o Brasil se juntou a uma dezena de países latino-americanos, aos EUA e à União Europeia, que rejeitam a validação da vitória do chavista.
(Com AFP; colaborou Janaína Figueiredo)
Fonte: O GLOBO
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