Exército de Israel investiga morte de ativista americana na cisjordana Nablus; retirada militar de Jenin revela rastro de destruição

Exército de Israel investiga morte de ativista americana na cisjordana Nablus; retirada militar de Jenin revela rastro de destruição

Diretor de hospital afirma que mulher foi atingida com 'um tiro na cabeça'; apesar de retirada de cidade e campo de refugiados, militares dizem que operação 'antiterrorismo' segue em outras regiões

Menino palestino anda de bicicleta por uma rua principal destruída no centro de Jenin, na Cisjordânia ocupada — Foto: Zain JAAFAR / AFP

Porto Velho, Rondônia - 
Uma ativista turco-americana solidária à causa pró-Palestina morreu após ser atingida por um "tiro na cabeça" enquanto participava de uma manifestação em Beita, próximo à cidade de Nablus, na Cisjordânia ocupada, palco de incursões coordenadas realizadas pelo Exército israelense há dez dias. Em Jenin e no seu campo de refugiados, também alvo da operação "antiterrorismo", um rastro de destruição mostrou o impacto da ação virulenta dos militares, que deixaram a cidade nesta sexta-feira.

A ativista foi identificada pelas autoridades turcas e americanas como Aysenur Ezgi Eygi, de 26 anos. Ela participava de um protesto contra os assentamentos ilegais no território quando foi atingida, informou um colega manifestante e um morador à CNN. O Exército, segundo a rede americana, admitiu ter atirado contra manifestantes, mas não explicou se havia homens armados na multidão.

"[As Forças Armadas] responderam com fogo contra um instigador principal da atividade violenta que atirou pedras nas forças e representou uma ameaça a elas", informaram as forças armadas, acrescentando que estão investigando o caso. Protestos em Beita são comuns, informou a CNN. A região fica próxima a um posto avançado de colonos israelenses, conhecido como Evyatar, que não havia sido autorizado por Israel, mas foi legalizado no início deste ano, continuou a rede.

A Cisjordânia é um território palestino ocupado por Israel desde 1967. Ali, vivem três milhões de palestinos e pelo menos milhão de judeus israelenses em assentamentos, que são considerados ilegais pelo direito internacional. Em julho, a Corte Internacional de Justiça afirmou que a política de assentamentos na Cisjordânia é ilegal e que a presença israelense na região deve ser encerrada “o mais rapidamente possível”.

O embaixador americano em Israel, Jack Lew, ofereceu aos familiares e amigos da jovem ativista as "mais profundas condolências" e disse que a embaixada estava "reunindo urgentemente mais informações sobre as circunstâncias de sua morte".

A chancelaria turca também lamentou a morte da jovem. "Condenamos este assassinato cometido pelo Governo Netanyahu. Israel está tentando intimidar todos aqueles que vêm em auxílio do povo palestino e que lutam pacificamente contra o genocídio. Esta política de violência não funcionará", afirmou o Ministério das Relações Exteriores turco em comunicado citado pela Reuters.

Destruição em Jenin

Jenin, por sua vez, amanheceu cheia de escombros após a retirada das forças israelenses. Em seu campo de refugiados, um bastião de grupos armados palestinos, muitas casas foram danificadas ou destruídas pelas escavadeiras israelenses, que também reviraram a superfície das estradas em busca de explosivos. De acordo com os palestinos, os soldados abandonaram a região durante a noite — o que ficou evidente no silêncio que reinou ao longo da madrugada.

— Graças a Deus [as crianças] foram embora no dia anterior. Elas ficaram com nossos vizinhos aqui — contou o pai de sete filhos Aziz Taleb, de 48 anos, acrescentando que sua casa foi invadida pelos militares: — Se tivessem ficado, teriam sido mortas sem aviso nem nada.

O exército, os serviços de inteligência internos israelenses (ShinBet), e os guardas de fronteira "têm realizado atividades antiterroristas na área de Jenin há uma semana e meia", disse o Exército israelense em comunicado no Telegram. Desde então, "14 terroristas foram eliminados, mais de 30 suspeitos foram presos, aproximadamente 30 explosivos plantados sob estradas foram desmantelados e quatro ataques aéreos foram realizados na área", afirmou em um balanço. Um soldado foi morto na cidade.

Apesar disso a retirada não significa o fim da operação, o Exército afirmou que "continua agindo para atingir os objetivos" da operação. Para além de Jenin, os militares têm realizado incursões coordenadas em Nablus (onde a ativista foi morta), Tulkarem e Tubas, bem como um campo de refugiados, desde o dia 28. O Ministério da Saúde palestino estima que até 36 palestinos morreram na operação, considerada a primeira deste tipo desde a Segunda Intifada (levante palestino de 2000 a 2005). Jenin concentra a maior parte dessas mortes.

O Hamas e a Jihad Islâmica Palestina, as principais facções palestinas na região, afirmaram que pelo menos 14 mortos eram combatentes.

'Sem solução'

A retirada de Jenin ocorreu em um momento em que Israel está em desacordo com seu principal aliado, os Estados Unidos, sobre as negociações que visam forjar uma trégua na guerra de Gaza, que já está quase em seu 12º mês. Na quinta-feira, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, pediu a Israel e ao Hamas que finalizassem um acordo de trégua, dizendo: “Acho que, com base no que vi, 90% estão de acordo”.

Mas o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu negou isso em uma entrevista à Fox News, dizendo: “Não está perto”. Washington, juntamente com outros mediadores nas negociações, Qatar e Egito, tem promovido uma proposta para preencher as lacunas entre os dois lados, que trocam culpas pelo fracasso em chegar a um acordo.

Netanyahu insiste em uma presença militar israelense na fronteira entre Gaza e o Egito, ao longo do chamado Corredor Filadélfia. O Hamas exige uma retirada israelense completa, dizendo que concordou meses atrás com um acordo de trégua delineado pelo presidente dos EUA, Joe Biden.

Na sexta-feira, em Israel, a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, disse que “uma abordagem puramente militar não é solução para a situação em Gaza”, referindo-se à recuperação de mais seis reféns mortos anunciada no domingo. Ela também alertou contra os apelos de membros da linha dura de direita do gabinete de Israel para que os militares adotem uma abordagem semelhante à de Gaza na Cisjordânia.

“Quando os próprios membros do governo israelense pedem a mesma abordagem na Cisjordânia e em Gaza, é exatamente isso que coloca em risco a segurança de Israel”, disse Baerbock aos repórteres.

Seu colega israelense, Israel Katz, disse que o Irã queria “armar” a Cisjordânia “apreciando Gaza”.

“Ninguém quer um acordo para deixar entrar os reféns e um cessar-fogo mais do que Israel”, acrescentou ele, culpando o Hamas pelo impasse nas negociações.

O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro resultou na morte de 1.205 pessoas, a maioria civis, incluindo alguns reféns mortos em cativeiro, de acordo com dados oficiais israelenses.

Dos 251 reféns capturados por militantes palestinos durante o ataque, 97 permanecem em Gaza, incluindo 33 que os militares israelenses dizem estar mortos. Muitos deles foram deixados entrar durante uma trégua de uma semana em novembro.

A ofensiva retaliatória de Israel em Gaza matou até agora pelo menos 40.878 pessoas, de acordo com o ministério da saúde do território administrado pelo Hamas. A maioria dos mortos são mulheres e crianças, de acordo com o escritório de direitos da ONU.

Netanyahu está sob crescente pressão tanto internacional quanto interna, com os israelenses enfurecidos e de luto depois que os corpos dos seis reféns foram retirados de Gaza. Ele disse que eles foram “executados” com uma bala “na cabeça”.

Em protestos israelenses em várias cidades, os críticos do primeiro-ministro o culparam pelas mortes dos reféns, dizendo que ele se recusou a fazer as concessões necessárias para chegar a um acordo de cessar-fogo. Além da guerra em Gaza, Israel também enfrenta o aumento da raiva dos palestinos na Cisjordânia, território que ocupou em 1967.


Fonte: O GLOBO

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