Embarcações alemãs carregadas de explosivos foram propositalmente afundadas em 1944 para dificultar avanço de tropas soviéticas
Polícia de choque usa spray de pimenta contra manifestantes durante um protesto em frente ao Congresso Nacional em Buenos Aires, em 11 de setembro de 2024 — Foto: Luis ROBAYO / AFP
Esta não é a primeira vez que os navios aparecem no rio Danúbio, o segundo maior da Europa, com 2.850 km de extensão. Secas e ondas de calor recorrentes têm levado a quedas drásticas nos níveis de água todos os anos, expondo as embarcações alemães e, ao mesmo tempo, ameaçando o abastecimento de água potável e dificultando a navegação ao longo da rota que se estende da Floresta Negra, no sudoeste da Alemanha, até o Mar Negro, no leste da Romênia. Espalhados pelo leito do rio, alguns dos navios ainda têm torres, pontes de comando e mastros quebrados, enquanto outros estão submersos sob bancos de areia.
Os navios revelados em Prahovo estavam entre centenas de outras embarcações que foram afundadas ao longo do Danúbio pela frota alemã do Mar Negro em 1944, enuanto recuavam das forças soviéticas. Em 2022, dezenas de embarcações operadas pela frota do Mar Negro da Alemanha nazista apareceram perto de Prahovo após os níveis de água atingirem recordes de baixa. Naquele ano, o programa Copernicus, gerido pela Comissão Europeia, documentou a escassez de água ao longo do Danúbio e afirmou que partes do rio eram inavegáveis.
— Os capitães devem ser extremamente cautelosos, e incidentes como encalhes ocorrem com frequência — disse Damir Vladic, gerente do porto de Prahovo, à AFP. — Basta um pequeno desvio da rota navegável para causar problemas — acrescentou.
Navio caça-minas da frota alemã foi retirado do rio Danúbio, na Sérvia, em agosto de 2024; embarcação foi uma das centenas afundadas por tropas nazistas durante a Segunda Guerra — Foto: OLIVER BUNIC / AFP
Na terça-feira, quando os navios foram descobertos, o nível do Danúbio em Budapeste era de 1,17 metros (o recorde histórico de baixa é de cerca de 0,4 metros, registrado em outubro de 2018). Durante inundações, o rio sobe bem acima de 6 metros. Chuvas que eram aguardadas começaram na segunda-feira, e é esperado que os níveis do Danúbio subam para cerca de 3 metros em Mohacs até o fim de semana, quando os navios deverão voltar a ficar submersos, publicou a CNN.
Como os navios nazistas ficaram presos
A Alemanha nazista e seus aliados ocuparam os Bálcãs Ocidentais de 1941 a 1945, período em ue lutaram contra guerrilheiros comunistas. Após a desastrosa invasão da União Soviética, porém, as forças alemãs recuaram progressivamente em direção às fronteiras. À medida que as tropas nazistas recuavam para o oeste, a Alemanha afundou dezenas de navios de sua frota do Mar Negro ao longo do Danúbio, em 1944. O objetivo era dificultar o avanço do Exército Vermelho, bloqueando o rio, e impedir que as embarcações fossem aproveitadas pelos soviéticos.
— Eles queriam passar pelo desfiladeiro de Djerdap — disse o historiador Velimir Miki Trailovic, referindo-se a um estreito rio próximo. — Mas quando perceberam que não conseguiriam, decidiram afundar os navios — continuou, afirmando que os nazistas afundaram quase 200 embarcações, incluindo balsas de transporte e barcos torpedeiros.
Por 80 anos, os navios permaneceram praticamente intocados no fundo do Danúbio, embora durante os períodos de seca o casco de aço do rebocador alemão UJ-106 ficasse visível. Em 2022, uma iniciativa financiada pelo Banco Europeu de Investimento e pelo Mecanismo de Investimento dos Bálcãs Ocidentais disponibilizou quase 30 milhões de euros (R$ 186 milhões, na cotação atual) para supervisionar uma operação para remover as embarcações. O primeiro navio, um caça-minas, foi retirado do Danúbio em agosto, e trabalhadores locais sugeriram que ele poderia ser relançado após reparos.
A remoção dos navios, no entanto, é uma tarefa complicada, considerando as munições submersas que foram enterradas com eles — e que exigem manobras cuidadosas para evitar o risco de detonação. À AFP, Trailovic disse que, se explodissem, os artefatos poderiam causar “problemas catastróficos” na região. Ao todo, as autoridades sérvias estimam que levará um ano e meio para remover os navios do rio. Ministro da Construção, Transporte e Infraestrutura da Sérvia, Goran Vesic disse que 21 navios serão retirados do local nos próximos meses.
Fonte: O GLOBO
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