Levantamentos da Quaest em capitais ajudam a explicar o quanto a chancela dos dois protagonistas da polarização nacional será determinante no pleito municipal; estratégia pode favorecer nomes sem experiência, mas ser menos eficaz para aspirantes à reeleição
O ex-presidente Jair Bolsonaro fala com jornalistas na saída do Senado — Foto: Brenno Carvalho/O Globo
Especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam, por exemplo, que a participação ativa de Lula ou Bolsonaro nas campanhas pode não ser vantajosa para aqueles que tentam a reeleição e possuem alta aprovação na gestão em curso, mas pode ajudar candidatos com governos menos bem avaliados ou que não têm experiência no Executivo.
No caso do Rio de Janeiro, o apoio do presidente Lula ao atual prefeito Eduardo Paes (PSD), segundo a pesquisa Quaest, tende a afastar eleitores do candidato à reeleição, com o percentual de intenção de voto variando negativamente de 52% para 46%, no limite da margem de erro, em comparação com o cenário geral. A gestão municipal é vista como positiva por 45% dos cariocas, regular por 35% e negativa por 18%, ainda de acordo com o levantamento divulgado em julho.
As intenções de voto do deputado federal Alexandre Ramagem (PL), por sua vez, mais do que dobram quando ele é associado a Bolsonaro (de 14% para 30%). O parlamentar não tem experiência no Executivo e foi diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo do ex-presidente.
A pesquisa também questionou se o eleitor votaria em um candidato chancelado por um dos dois protagonistas nacionais mesmo sem o conhecer. A associação a Bolsonaro levaria ao voto de 27% dos entrevistados, enquanto 71% não votariam no candidato só por conta deste apoio. No caso de Lula, o vínculo atrai 23% e afasta 75% do eleitorado.
— A eleição do Rio me parece mais protegida da interferência da polarização nacional. Devemos observar que a participação proeminente de Lula ou Bolsonaro vale a pena para um candidato cujas intenções de voto estão abaixo da média de eleitores que votariam em qualquer nome apoiado por um dos dois. Nesse sentido, interessa muito mais ao Ramagem do que ao Paes — avalia Luciana Veiga, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio (UniRio).
A nacionalização tem potencial de impactar o pleito de São Paulo com mais intensidade do que na capital carioca, avaliam pesquisadores. Candidato à reeleição, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem 20% e aparece em um empate técnico triplo com o apresentador José Luiz Datena (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL), que somam 19%. A gestão de Nunes tem avaliação inferior à de Paes, sendo considerada positiva por 33%, regular por 36% e negativa por 22%.
— Um prefeito bem avaliado ganha a disputa pela reeleição seja apoiado por Lula ou por Bolsonaro por conta do seu trabalho na esfera municipal, em um efeito incumbência. A nacionalização é mais importante quando a gestão do prefeito não é vista como positiva — aponta o cientista político Antonio Lavareda.
A maioria dos eleitores da capital paulista (51%) diz preferir que o próximo prefeito seja “independente”, enquanto 28% têm predileção por um “aliado do Lula”, e 16% gostariam de ver um “aliado do Bolsonaro” na prefeitura. Quando perguntados se votariam em um candidato desconhecido se este tivesse o apoio do atual presidente, 29% dos entrevistados em São Paulo afirmam que sim e 66% que não. Bolsonaro tem essa mesma confiança de 20% dos paulistanos, enquanto 75% dos eleitores deram resposta negativa.
A Quaest também mediu o impacto do apoio de Lula e Bolsonaro em um cenário sem a candidatura de Datena, que, apesar de rusgas internas no PSDB, acabou oficializada em convenção. Neste quadro, a vinculação com o petista faz com que Boulos oscile positivamente de 23% para 28%, enquanto o apoio de Bolsonaro leva Nunes de 26% a 25%.
A professora Luciana Veiga aponta que a nacionalização da disputa pode ser mais latente na capital paulista por três principais fatores: a avaliação mediana do mandato de Nunes, a divisão no bolsonarismo com a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) e a não experiência de Boulos em cargos executivos.
— A situação de Boulos é, de certa forma, parecida com a de Ramagem. Ambos parecem ser dependentes da adesão dos padrinhos. A questão é que ambos também carregam as altas rejeições de Lula e Bolsonaro, o que pode impor um teto de votos — explica.
Outras capitais
Em Belo Horizonte (MG), a Quaest mostra que Lula é o padrinho mais rejeitado. São 72% os que não votariam em um nome apenas por ser o indicado pelo presidente, contra 23% que responderam que sim. Esse índice é de 65% no caso de Bolsonaro, ante 31%.
A disputa na capital de Minas Gerais é liderada por Mauro Tramonte (Republicanos), com 25%. Em empate técnico próximo ao limite da margem de erro, aparecem o deputado estadual Bruno Engler (PL), aliado de Bolsonaro, com 12%, e Rogério Correia (PT), nome de Lula, com 7%.
O atual presidente também é o padrinho mais rejeitado em Campo Grande (MS) e Manaus (AM). São 65% os que não votariam em um candidato desconhecido indicado pelo petista na capital do Mato Grosso do Sul, contra 30% que deram resposta positiva. Já o apoio irrestrito a um nome do ex-presidente Bolsonaro é rechaçado por 60% dos eleitores e apoiado por 34%.
No pleito de Campo Grande, dois candidatos ligados ao bolsonarismo aparecem empatados no segundo pelotão, atrás da ex-deputada federal Rose Modesto (União Brasil), que lidera com 34%. Apoiada pela ex-ministra Tereza Cristina (PP), a prefeita e candidata à reeleição Adriane Lopes (PP) têm 15%, mesmo percentual do deputado federal Beto Pereira (PSDB), nome apoiado por Bolsonaro. Já Camila Jara (PT), aliada da primeira-dama Janja, aparece com 6%.
Na capital do Amazonas, 72% não votariam em um nome apenas por ser indicado pelo presidente, contra 25% que responderam positivamente ao questionamento. No caso de Bolsonaro, o índice é de 63% e 34%, respectivamente.
O bolsonarista Capitão Alberto (PL) aparece com 12% e o petista Marcelo Ramos tem 8%, em situação de empate técnico. Ambos aparecem atrás do atual prefeito David Almeida (Avante) e do deputado federal Amon Mandel (Cidadania), com 33% e 22% das intenções de voto, respectivamente.
— O vínculo com Lula e Bolsonaro mexe com as intenções de votos, o que indica que os eleitores já chegam no pleito polarizados e o padrinho político importa. A vinculação será explorada a partir da realidade de cada município, e dificilmente veremos candidaturas totalmente independentes competitivas — ressalta Josué Medeiros, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Fonte: O GLOBO
No caso do Rio de Janeiro, o apoio do presidente Lula ao atual prefeito Eduardo Paes (PSD), segundo a pesquisa Quaest, tende a afastar eleitores do candidato à reeleição, com o percentual de intenção de voto variando negativamente de 52% para 46%, no limite da margem de erro, em comparação com o cenário geral. A gestão municipal é vista como positiva por 45% dos cariocas, regular por 35% e negativa por 18%, ainda de acordo com o levantamento divulgado em julho.
As intenções de voto do deputado federal Alexandre Ramagem (PL), por sua vez, mais do que dobram quando ele é associado a Bolsonaro (de 14% para 30%). O parlamentar não tem experiência no Executivo e foi diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo do ex-presidente.
A pesquisa também questionou se o eleitor votaria em um candidato chancelado por um dos dois protagonistas nacionais mesmo sem o conhecer. A associação a Bolsonaro levaria ao voto de 27% dos entrevistados, enquanto 71% não votariam no candidato só por conta deste apoio. No caso de Lula, o vínculo atrai 23% e afasta 75% do eleitorado.
— A eleição do Rio me parece mais protegida da interferência da polarização nacional. Devemos observar que a participação proeminente de Lula ou Bolsonaro vale a pena para um candidato cujas intenções de voto estão abaixo da média de eleitores que votariam em qualquer nome apoiado por um dos dois. Nesse sentido, interessa muito mais ao Ramagem do que ao Paes — avalia Luciana Veiga, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio (UniRio).
A nacionalização tem potencial de impactar o pleito de São Paulo com mais intensidade do que na capital carioca, avaliam pesquisadores. Candidato à reeleição, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem 20% e aparece em um empate técnico triplo com o apresentador José Luiz Datena (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL), que somam 19%. A gestão de Nunes tem avaliação inferior à de Paes, sendo considerada positiva por 33%, regular por 36% e negativa por 22%.
— Um prefeito bem avaliado ganha a disputa pela reeleição seja apoiado por Lula ou por Bolsonaro por conta do seu trabalho na esfera municipal, em um efeito incumbência. A nacionalização é mais importante quando a gestão do prefeito não é vista como positiva — aponta o cientista político Antonio Lavareda.
A maioria dos eleitores da capital paulista (51%) diz preferir que o próximo prefeito seja “independente”, enquanto 28% têm predileção por um “aliado do Lula”, e 16% gostariam de ver um “aliado do Bolsonaro” na prefeitura. Quando perguntados se votariam em um candidato desconhecido se este tivesse o apoio do atual presidente, 29% dos entrevistados em São Paulo afirmam que sim e 66% que não. Bolsonaro tem essa mesma confiança de 20% dos paulistanos, enquanto 75% dos eleitores deram resposta negativa.
A Quaest também mediu o impacto do apoio de Lula e Bolsonaro em um cenário sem a candidatura de Datena, que, apesar de rusgas internas no PSDB, acabou oficializada em convenção. Neste quadro, a vinculação com o petista faz com que Boulos oscile positivamente de 23% para 28%, enquanto o apoio de Bolsonaro leva Nunes de 26% a 25%.
A professora Luciana Veiga aponta que a nacionalização da disputa pode ser mais latente na capital paulista por três principais fatores: a avaliação mediana do mandato de Nunes, a divisão no bolsonarismo com a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) e a não experiência de Boulos em cargos executivos.
— A situação de Boulos é, de certa forma, parecida com a de Ramagem. Ambos parecem ser dependentes da adesão dos padrinhos. A questão é que ambos também carregam as altas rejeições de Lula e Bolsonaro, o que pode impor um teto de votos — explica.
Outras capitais
Em Belo Horizonte (MG), a Quaest mostra que Lula é o padrinho mais rejeitado. São 72% os que não votariam em um nome apenas por ser o indicado pelo presidente, contra 23% que responderam que sim. Esse índice é de 65% no caso de Bolsonaro, ante 31%.
A disputa na capital de Minas Gerais é liderada por Mauro Tramonte (Republicanos), com 25%. Em empate técnico próximo ao limite da margem de erro, aparecem o deputado estadual Bruno Engler (PL), aliado de Bolsonaro, com 12%, e Rogério Correia (PT), nome de Lula, com 7%.
O atual presidente também é o padrinho mais rejeitado em Campo Grande (MS) e Manaus (AM). São 65% os que não votariam em um candidato desconhecido indicado pelo petista na capital do Mato Grosso do Sul, contra 30% que deram resposta positiva. Já o apoio irrestrito a um nome do ex-presidente Bolsonaro é rechaçado por 60% dos eleitores e apoiado por 34%.
No pleito de Campo Grande, dois candidatos ligados ao bolsonarismo aparecem empatados no segundo pelotão, atrás da ex-deputada federal Rose Modesto (União Brasil), que lidera com 34%. Apoiada pela ex-ministra Tereza Cristina (PP), a prefeita e candidata à reeleição Adriane Lopes (PP) têm 15%, mesmo percentual do deputado federal Beto Pereira (PSDB), nome apoiado por Bolsonaro. Já Camila Jara (PT), aliada da primeira-dama Janja, aparece com 6%.
Na capital do Amazonas, 72% não votariam em um nome apenas por ser indicado pelo presidente, contra 25% que responderam positivamente ao questionamento. No caso de Bolsonaro, o índice é de 63% e 34%, respectivamente.
O bolsonarista Capitão Alberto (PL) aparece com 12% e o petista Marcelo Ramos tem 8%, em situação de empate técnico. Ambos aparecem atrás do atual prefeito David Almeida (Avante) e do deputado federal Amon Mandel (Cidadania), com 33% e 22% das intenções de voto, respectivamente.
— O vínculo com Lula e Bolsonaro mexe com as intenções de votos, o que indica que os eleitores já chegam no pleito polarizados e o padrinho político importa. A vinculação será explorada a partir da realidade de cada município, e dificilmente veremos candidaturas totalmente independentes competitivas — ressalta Josué Medeiros, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Fonte: O GLOBO
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