O debate que você não viu: protesto do lado de fora, esposa de Nunes irritada e Datena 'sincerão'

O debate que você não viu: protesto do lado de fora, esposa de Nunes irritada e Datena 'sincerão'

Cinco candidatos à prefeitura de São Paulo tiveram o primeiro confronto na TV Band na noite desta quinta-feira

Porto Velho, Rondônia - Com direito a protestos do lado de fora, troca de ofensas e torcida organizada, o primeiro debate entre os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo ocorreu na noite desta quinta-feira, 9, na Band. O jornal O GLOBO acompanhou de perto o evento e mostra os detalhes do que ocorreu longe das câmeras de TV (clique aqui e veja também como foi no Rio de Janeiro).

Antes mesmo do debate começar, a economista Marina Helena, candidata pelo Novo, organizou um protesto em uma rua de acesso aos estúdios da emissora. Com bandeiras, faixas criticando a Band e megafones, o grupo reuniu cerca de 30 pessoas. Na chegada ao local, Marina reclamou a ausência, insinuando que teria sido uma opção política em prol do apresentador José Luiz Datena (PSDB).

Ela alegou que cumpre os requisitos para receber um convite obrigatório, de o partido ter cinco parlamentares no Congresso, mas a Band alega que a conferência desse dado é referente a 20 de julho, antes da quinta filiação, do deputado federal Ricardo Salles. A candidata afirma que sua equipe teve quatro reuniões antes de ser comunicada de que não participaria.

— Isso para mim é molecagem — disse ela. — Até ontem, um dos candidatos, que é o Datena, estava (trabalhando) aqui. A candidata sugeriu ainda que o adversário poderia estar concorrendo "a serviço do Boulos".

No mesmo horário, militantes de partidos como MDB e PRTB, portando bandeiras e vestindo adereços dos partidos, aguardavam a chegada dos candidatos em seus veículos. Foram provocados pelo grupo do Novo com gritos de "eu vim de graça".

Chegada

O primeiro a chegar aos estúdios da Band foi o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), acompanhado da postulante a vice, a ex-prefeita Marta Suplicy, e do deputado federal licenciado Rui Falcão, ambos do PT. Disse na "zona mista", corredor onde se aglomerava a imprensa para ouvi-lo, que pretendia falar do plano de governo, e não atacar adversários.

— Vou buscar debater propostas. Se os candidatos vão querer baixar o nível e rebaixar o debate, não contem comigo. Eu vim pra esse debate com respeito e compromisso com a população de São Paulo, ao lado da Marta, uma grande prefeita, para falar das realizações que faremos pela cidade de São Paulo.

Ele foi seguido por Datena, que apresentou o programa "Brasil Urgente" por mais de 20 anos na emissora e está "de férias" para concorrer à prefeitura. Ele cumprimentou colegas e disse que o debate era uma "experiência diferente":

— É estranho porque eu nunca participei de debate na minha vida, pra ser sincero eu nunca assisti a um debate na vida. Mas espero que acrescente alguma coisa, principalmente para os eleitores.

Já na entrada, Pablo Marçal (PRTB) deu mostras de que pretendia atirar para todos os lados no debate, referindo-se à eleição paulistana como uma "guerra que começa hoje" e prometendo um "atropelo" contra Boulos e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).

A deputada federal Tabata Amaral (PSB) evitou falar sobre o possível encontro frente a frente com Datena, seu ex-aliado que convidou para ser vice no começo do ano. De fato, isolada nas perguntas, o embate não aconteceu.

Já Nunes chegou ao lado do vice, o policial militar Ricardo Mello Araújo (PL), o ex-governador Rodrigo Garcia e Tomás Covas, filho do ex-prefeito Bruno Covas, de quem herdou o mandato após a sua morte, em maio de 2021, entre outros integrantes do "núcleo duro" da campanha.

— Não vai ter um tema que eles vão abordar que não vou mostrar que a gente melhorou a cidade. Eu sou único candidato do sexo masculino que não tem nenhuma condenação, totalmente ficha limpa, nunca fui preso, diferente de candidatos que estão aí — declarou Nunes, em um curioso método de contagem.

Torcida organizada

Tanto no auditório, onde os principais apoiadores acompanharam o debate perto do palco, quanto no lounge, reservado a outros convidados, o clima era de "torcida organizada" no confronto direto. A cada resposta, grupos próximos entre si aplaudiam, gritavam e riam com o desempenho de seus líderes.

Algumas sacadas, como o "00171 goiano" de Tabata para Marçal, arrancaram risadas até de grupos rivais. Os apoiadores de Boulos também demonstraram simpatia por Datena quando o tucano deu mostras de que iria pela estratégia da "dobradinha" para bater no prefeito. Assessores de Nunes reclamaram sozinhos.

Não durou muito: Datena logo mirou ataques no psolista, dizendo que deveria se candidatar a "prefeito de Caracas", na Venezuela. Não houve mais boa vontade da plateia adversária.

A reportagem flagrou ainda membros filiados ao PSDB que apoiam outros candidatos com credenciais dos rivais, a exemplo de Tomás Covas, filho de Bruno Covas, e Fernando Alfredo, ex-dirigente partidário que tumultuou convenção tucana, que faziam parte da comitiva de Nunes. Orlando Faria, coordenador da campanha de Tabata, era outro.

Dentro do auditório, o momento mais tenso ocorreu quando Nunes foi lembrado de uma acusação antiga de agressão contra a sua esposa. Regina, que estava na plateia, levantou-se e pediu que sua família fosse deixada em paz. Foi contida por assessores e pelo próprio Nunes, que fez um gesto de "calma".

Boulos ganhou um afago de Marta Suplicy quando acusou Nunes de contratar um “compadre” para obras sem licitação. “Vai lá no Google, digita Nunes compadre, vai aparecer”, seguiu, em uma estratégia de jogar informações nas redes sociais que também foi adotada por Tabata no debate. O deputado ganhou sorrisos e joinha da vice, que comentou: “Bateu forte”.

Nos intervalos, marqueteiros das campanhas aproveitaram para atualizar sobre o comportamento dos espectadores e reavaliar estratégias. Marçal chamou atenção gravando vídeos para as redes sociais. Ele chegou a apertar a mão de Nunes e gravar um vídeo com ele, falando que o emedebista deixaria a prefeitura.

Estreantes


A experiência de participar de um debate eleitoral era novidade para a maioria dos candidatos. Apenas Boulos havia participado, em 2018 e 2020, quando concorreu a presidente da República e ao governo da cidade, respectivamente. E nem todos gostaram do próprio desempenho.

Datena saiu do palco admitindo que precisava "pegar traquejo" dos debates. Em conversa com jornalistas, disse que "poderia ter ido melhor", mas reclamou de ter sido atrapalhado por adversários em algumas perguntas e que esqueceu de números. Garante, no entanto, que se preparou para o evento.

Marçal aproveitou o momento para discutir com apoiadores de Boulos, enquanto transmitia uma "live" nas redes sociais. "Vai ser preso", gritou um convidado do psolista por trás da barreira de jornalistas, enquanto o empresário reafirmava ofensas ditas mais cedo. "Cambada de comunista", reagiu Marçal.

Tabata deixou a Band alegando que seus oponentes evitaram fazer perguntas a ela porque "têm medo". Ele está em quinto lugar nas pesquisas. Sobre ofensas de Marçal de que seria uma "adolescente" e "parachoque de comunista", disse que sua resposta será continuar se apresentando. "Claramente ficou descontrolado. Não sabe receber crítica de mulher."

Boulos criticou o "baixo nível" do debate e argumentou com jornalistas que não respondeu diretamente a provocações por achar que não era o que o público gostaria de ouvir. Nunes foi o único a não falar com a imprensa e foi direto para casa. Ambos deixaram o palco sorrindo e sendo parabenizados pelos aliados.


Fonte: O GLOBO

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