Nossa Olimpíada mais importante na educação: formar os jovens no ensino médio

Nossa Olimpíada mais importante na educação: formar os jovens no ensino médio

 Não podemos esquecer que há riscos envolvidos na dedicação precoce a um esporte, como o afastamento dos estudos


Ginásio Educacional Olímpico Isabel Salgado — Foto: Beth Santos / Prefeitura

Porto Velho, Rondônia - Durante o período olímpico, o papel da escola era frequentemente citado em palpites sobre como melhorar a performance brasileira nos Jogos. Alguns comentários, feitos com as melhores intenções, lamentavam a falta de investimento adequado em esportes na educação básica. Ninguém discute que a educação física é um componente essencial da formação, tanto que consta como um dos componentes da Base Nacional Comum Curricular. Mas é importante enfatizar que seus objetivos são muito mais amplos do que a formação de atletas de alto rendimento.

Isso não significa que, em determinados contextos, a formação de atletas seja incompatível com os objetivos pedagógicos. A rede municipal carioca, por exemplo, mantém 12 Ginásios Educacionais Olímpicos, que buscam conciliar o desenvolvimento acadêmico ao esportivo. O pioneiro deles, localizado em Santa Teresa, registrou, em 2019, 73% de alunos com aprendizagem adequada em matemática e 56% em língua portuguesa no 9º ano do ensino fundamental, resultados bem superiores à média nacional nas redes públicas para o mesmo ano (36% e 18%, respectivamente). Mas o sucesso acadêmico e esportivo de um ou poucos estabelecimentos com essa vocação não significa que o modelo seja escalável.

E não podemos esquecer também que há riscos envolvidos na dedicação precoce a um esporte. Um estudo de 2014 do Unicef e do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Bahia ("A infância entra em campo - riscos e oportunidades para crianças e adolescentes no futebol") constatou – a partir de entrevistas em divisões de base – que uma das situações vivenciadas pelos jovens nesses locais era justamente o afastamento do ensino regular. Reportagens recentes sugerem que essa situação segue atual e não se restringe ao contexto baiano.

Saindo desses contextos peculiares e voltando ao debate mais amplo sobre as condições de oferta da educação física, há gargalos a serem superados. Um deles é que apenas 38% das escolas brasileiras possuem quadra esportiva, de acordo com o Censo Escolar de 2023. O mesmo levantamento mostra que 23% dos professores de educação física no segundo ciclo do ensino fundamental não têm formação adequada para a disciplina. No ensino médio, são 18%.

Há também desafios curriculares. Uma contribuição nesse sentido veio do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016, que criou uma plataforma (Transforma) com material didático e oportunidades de formação a professores para trabalharem atitudes e valores olímpicos e paralímpicos por meio de variados esportes e atividades corporais. Essa mudança de cultura, porém, não é tão simples, especialmente para adultos que foram educados a partir de uma perspectiva arcaica das aulas de educação física concentradas em poucos esportes, com baixo ou nenhum alinhamento com o projeto pedagógico.

Será lindo ver mais Rebecas, Martas e Beatrizes em pódios olímpicos. Mas a medalha que realmente importa para a educação brasileira é garantir que todas as crianças e jovens completem o ensino médio com aprendizagem adequada, prontos para ingressar no ensino superior, qualificados para o mercado de trabalho e para o exercício pleno da cidadania.


Fonte: O GLOBO

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