Dono da Temu, app de compras rival de Shein, vira o mais rico da China, com US$ 48,6 bi

Dono da Temu, app de compras rival de Shein, vira o mais rico da China, com US$ 48,6 bi

Com fortuna de US$ 48,6 bi, ele desbanca Zhong Shanshan, o rei da água engarrafada do país, que ocupava o primeiro lugar desde abril de 2021

Porto Velho, Rondônia - Após várias empreitadas moderadamente bem-sucedidas nos setores de jogos e e-commerce, Colin Huang adoeceu e se aposentou. Em certo momento, o jovem empreendedor ficou em casa por um ano, pensando em seu próximo passo.

O ex-engenheiro do Google acabou fundando, em 2015, a Pinduoduo, uma plataforma de e-commerce conhecida por vender produtos extremamente baratos com grandes promoções. Ele rapidamente subiu nas listas das pessoas mais ricas do mundo, com seu patrimônio líquido atingindo o pico de US$ 71,5 bilhões (R$ 401,5 bilhões) no início de 2021.

Como muitos dos chamados bilionários da Covid, sua fortuna desabou tão rápido quanto foi acumulada, caindo 87% em cerca de um ano. O declínio de Huang foi especialmente acentuado quando o fim da pandemia global coincidiu com a repressão abrupta da China ao setor privado do país.

Então, algo surpreendente aconteceu: a PDD Holdings de Huang encenou um retorno. Não tão grande quanto antes, mas estável, com sua expansão fora da China sob a marca Temu ajudando a contrabalançar uma economia doméstica persistentemente fraca.

Como resultado, Huang, agora com 44 anos, tornou-se a pessoa mais rica da China, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg. Com uma fortuna de US$ 48,6 bilhões (R$ 273 bilhões), ele desbanca Zhong Shanshan, o rei da água engarrafada do país, que ocupava o primeiro lugar desde abril de 2021.

A notável ascensão de Huang foi impulsionada pelos hábitos de consumo em mudança na China, após a crise imobiliária do país se transformar em uma desaceleração prolongada.

Zhong Shanshan, magnata da água mineral, era apontado como o homem mais rico da China, e foi desbancado por Colin Huang — Foto: Bloomberg

Ele também é o primeiro magnata da tecnologia a liderar as classificações de riqueza em mais de três anos, após a pressão do governo sobre empresas privadas enredar rivais como o Alibaba Group, de Jack Ma.

Ao longo do caminho, Huang também enfrentou protestos de fornecedores por reduzir preços e impôs um cronograma de trabalho rigoroso para seus próprios funcionários.

—Ma e Jeff Bezos foram líderes corporativos em seus momentos, mas os tempos mudaram e Huang está vendo grande sucesso com uma abordagem diferente, menos visível — disse Brock Silvers, diretor administrativo da firma de private equity Kaiyuan Capital.

Representantes da PDD não responderam aos pedidos de comentários.

Prodígio da matemática

Ao contrário de Ma, o professor de inglês que se tornou fundador do Alibaba, Huang representa uma nova geração de empreendedores de tecnologia chineses que iniciaram suas carreiras com oportunidades globais.

Aos 12 anos, seu talento prodigioso para a matemática lhe garantiu uma vaga na elite da Hangzhou Foreign Languages School, onde foi colega de classe dos filhos da elite política e social da China. Após se formar em ciência da computação pela Universidade de Zhejiang, ele deixou a China em 2002 para fazer um mestrado na Universidade de Wisconsin.

Dois anos após se formar, ele voltou para ajudar a estabelecer o Google China. Fundou sua primeira empresa em 2007, e, depois, a vendeu em 2010 para iniciar uma nova, que ajudava empresas a se promoverem em sites como o Taobao, do Alibaba, ou o JD.com. Quando uma infecção no ouvido o levou a se aposentar em 2013, ele concebeu a ideia da Pinduoduo.

A PDD "não é sobre fazer as pessoas em Xangai sentirem que estão vivendo uma vida parisiense, mas sim garantir que as pessoas em Anhui tenham papel de cozinha e frutas frescas," disse Huang em uma entrevista de 2018 à revista Caijing, acrescentando:

— O objetivo não é ser barato, mas fazer os usuários sentirem que fizeram um bom negócio.

'Temu Time'

Huang permaneceu principalmente fora dos holofotes após deixar o cargo de CEO da PDD, em 2020, e sair do conselho como presidente em 2021, quando Pequim começou a reprimir as gigantes da tecnologia da China. Ele disse que estava perseguindo interesses pessoais, pesquisando sobre alimentos e ciências da vida, de acordo com uma carta aos acionistas.

Foi por volta dessa época que a PDD — e seu patrimônio líquido — começaram a despencar.

Mas a Temu, a oferta da PDD fora da China, impulsionou o crescimento da empresa e sustentou sua recuperação. Ela disparou para o topo das lojas de aplicativos dos EUA após seu lançamento em setembro de 2022, visando americanos preocupados com a inflação, com produtos baratos e sem marca enviados diretamente da China.

Site do Temu — Foto: Bloomberg

A PDD registrou cerca de 248 bilhões de yuans (US$ 35 bilhões ou R$ 196,5 bilhões) em receita no ano passado, um salto de 90% em relação a 2022.

— Neste ambiente econômico, obviamente as pessoas estão procurando grande valor pelo seu dinheiro, as pessoas estão procurando preços baixos — disse Neil Saunders, analista de varejo da GlobalData Retail. — Então, este é um momento para brilhar para varejistas de valor como a Temu.

Tudo isso, junto com a China abandonando sua política de Covid-Zero em dezembro de 2022, impulsionou um aumento na valorização da PDD. Em novembro, a empresa superou o Alibaba pela primeira vez para se tornar a segunda maior empresa de internet da China, e os dois rivais têm se mantido lado a lado desde então.

Jornadas punitivas

Ainda assim, o crescimento acelerado atraiu escrutínio tanto em casa quanto no exterior. Mesmo após uma investigação sobre as condições de trabalho, após a morte de um funcionário em 2021, a PDD continua a exigir que os funcionários trabalhem das 11h às 23h, seis dias por semana, além de horas extras. É uma variação da cultura "996" da indústria, que empresas como a ByteDance e a Alibaba se afastaram após o escrutínio regulatório de Pequim.

As ofertas ultrabaratas da Temu também levaram a uma crescente frustração entre alguns comerciantes e vendedores terceirizados, que sentem que a gigante do comércio eletrônico está cada vez mais apertando-os para obter mais receita.

As tensões culminaram em uma série de manifestações públicas neste verão no hemisfério Norte, quando, em um caso, centenas de pequenos fornecedores gritaram slogans em frente a um escritório da Temu, em Guangzhou, para protestar contra o que chamaram de penalidades injustas impostas pela empresa.

Por outro lado, pequenas empresas dos Estados Unidos também notaram o rápido crescimento da Temu. A empresa atualmente se aproveita de uma brecha comercial que permite o envio isento de impostos de mercadorias até US$ 800 (R$ 4.493) para os EUA, enviando pequenos pacotes de seu armazém na China para consumidores americanos individuais. Lobistas estão pressionando para que o limite seja reduzido para US$ 10 (R$ 56,20).

Mesmo assim, a PDD tem realizado campanhas promocionais agressivas, incluindo o gasto de milhões em um anúncio de 30 segundos da Temu no Super Bowl. A empresa também possui banners chamativos em seu site da Temu, incluindo, entre outros, "Compre Como um Bilionário".

“No momento, a Temu é toda sobre crescimento,” disse Saunders. “Atraia pessoas para o site, fazendo-as comprar. Então, se elas ficarem mais viciadas, talvez se tornem mais tolerantes se aumentarmos um pouco os preços. Então, acho que a Temu está em uma era de conquista de mercado.”


Fonte: O GLOBO

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