Na ata do Copom, BC ainda frisa que projeção do Copom para IPCA está acima da meta
Porto Velho, Rondônia - O Banco Central garantiu que não "hesitará" em elevar a Taxa Selic se considerar apropriado para assegurar a convergência da inflação para a meta de 3%, conforme a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira. A ata detalha a reunião do Copom da última semana, na qual decidiu manter a taxa básica de juros da economia inalterada em 10,50% ao ano.
A afirmação foi feita de forma unânime por todos os diretores do colegiado, inclusive por aqueles indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem criticado recorrentemente o presidente do BC, Roberto Campos Neto, por conta do patamar de juros.
No documento, o BC também deixou bem claro que as atuais projeções do Copom para a inflação no horizonte relevante, que atualmente é o primeiro trimestre de 2026, estão acima da meta. As expectativas são de 3,4%, considerando que a Selic terminaria este ano em 10,50% e 2025 em 9,75%, e de 3,2%, na hipóteses de manutenção dos juros básicos em 10,50% ao ano ao longo do horizonte relevante.
Na ata, o Copom avalia que o cenário é desafiador considerando as projeções mais elevadas para a inflação e o aumento de riscos nessa direção. Nesse contexto, diz que "desenrolar do cenário será particularmente importante para definir os próximos passos de política monetária". A estratégia, acordada de forma unânime, no momento corrente de "ainda maior cautela", é acompanhar "diligentemente" os condicionantes da inflação, como o câmbio e as expectativas de inflação, sem se comprometer com estratégias futuras.
"À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado", explicou o BC na ata.
Tom mais duro
Na última quarta-feira, quando manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano pela segunda vez consecutiva, o BC ja havia adotado um tom mais duro sobre a condução dos juros básicos da economia brasileira, especialmente diante da escalada recente do dólar em meio a questionamentos sobre a política fiscal no país e a evolução da economia global.
Isso colocou de vez no radar do mercado financeiro uma alta da Selic. Hoje, a ata traz mais sinais nessa direção. Além de citar a possibilidade de alta dos juros, caso considere necessário para assegurar a inflação na meta, ao longo de todo o documento o Copom destaca que o momento atual exige maior "cautela" e "vigilância".
O BC considerou que o cenário é mais desafiador para a desaceleração da inflação, reforçou que as expectativas de inflação se distanciaram ainda mais da meta, e destacou o aumento do dólar e o ambiente global incerto, com dúvidas sobre "os impactos e a extensão" da queda de juros nos Estados Unidos.
O detalhamento da ata sobre a visão do BC em relação ao cenário atual não conta, porém, com o episódio desta segunda-feira, em que houve forte turbulência nos mercados ao redor do mundo devido a temores com uma possível recessão nos Estados Unidos. Ontem, a moeda americana chegou a tocar em R$ 5,86, mas se acomodou ao longo do dia com dados mais favoráveis de atividade nos EUA e fechou em R$ 5,73.
Na reunião da semana passada, o Copom considerou como ponto de partida para as projeções de inflação a cotação do dólar a R$ 5,55. As expectativas ficaram em 4,2% para 2024, 3,4% para 2025 e 3,2% no primeiro semestre de 2026, foco do trabalho do BC, considerando a Selic constante em 10,50% ao longo do horizonte relevante. O alvo é de 3,0%.
Mais riscos de alta
Na ata, o BC destacou que todos os membros concordaram que há mais riscos de alta para a inflação no momento corrente do que ameaças que incorreriam em cenário inflacionário mais favorável. O documento também esclareceu que "vários membros" enfatizaram a "assimetria" no balanço de riscos, ou seja, que os perigos para um inflação mais elevada têm hoje mais peso do que os itens que apontam para um ambiente menos inflacionário.
Na semana passada, o Copom incluiu o comportamento do câmbio como mais um risco de alta inflacionária, somando três fatores negativos, contra dois vetores que podem levar a uma baixa da inflação. Segundo o comitê, entre os riscos de alta estão “uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”.
Por outro lado, entre os riscos de baixa para a inflação, o Copom cita a possibilidade de uma desaceleração maior da atividade global, justamente o que se discute agora com mais força em relação aos Estados Unidos.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária. Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância", repetiu na ata o colegiado.
No documento, o BC reforçou que "não há relação mecânica entre a condução da política monetária norte-americana e a determinação da taxa básica de juros doméstica, tampouco entre a taxa de câmbio e a determinação doméstica da taxa de juros". Como de costume, a autoridade monetária afirmou que vai avaliar os efeitos dos eventos externos sobre a dinâmica de inflação brasileira. Mas destacou que "um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos" exige maior cautela na condução da taxa Selic.
Segundo a ata, os movimentos recentes do dólar e das expectativas de inflação foram "amplamente debatidos" pelos diretores do BC. Para o Copom, se esses movimentos se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e "serão devidamente incorporados". O colegiado ainda frisou que a condução da taxa Selic é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas.
"O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e, consequentemente, reduzam o custo da desinflação. O Comitê não se furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação."
Em relação aos dados inflacionários recentes, o BC avaliou que a trajetória "não divergiu significativamente do que era esperado", mas que tem diminuído o ritmo de desaceleração do IPCA, considerando que os bens industriais e os alimentos estão deixando de contribuir para esse alívio.
"Concluiu-se que o processo desinflacionário arrefeceu e que os níveis de inflação corrente acima da meta, em contexto de dinamismo da atividade econômica, tornam a convergência da inflação à meta mais desafiadora."
Sobre a economia brasileira, o Copom avaliou que o mercado de trabalho e a atividade econômica, em particular o consumo das famílias, têm surpreendido e divergido do cenário de desaceleração previsto.
Sustentabilidade fiscal
O Copom ainda reforçou o alerta sobre a condução da política fiscal, deixando mais claro o efeito negativo que vem sendo sentido em preços de ativos e expectativas devido à percepção mais recente do mercado financeiro sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente.
Atualmente, a condução fiscal pelo governo Lula está sob escrutínio do mercado. O governo projeta déficit primário de R$ 28,8 bilhões este ano, no limite inferior da meta, e enfrenta dificuldades para fechar o orçamento do ano que vem.
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, reforçou, no comunicado.
"Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego."
Fonte: O GLOBO
O detalhamento da ata sobre a visão do BC em relação ao cenário atual não conta, porém, com o episódio desta segunda-feira, em que houve forte turbulência nos mercados ao redor do mundo devido a temores com uma possível recessão nos Estados Unidos. Ontem, a moeda americana chegou a tocar em R$ 5,86, mas se acomodou ao longo do dia com dados mais favoráveis de atividade nos EUA e fechou em R$ 5,73.
Na reunião da semana passada, o Copom considerou como ponto de partida para as projeções de inflação a cotação do dólar a R$ 5,55. As expectativas ficaram em 4,2% para 2024, 3,4% para 2025 e 3,2% no primeiro semestre de 2026, foco do trabalho do BC, considerando a Selic constante em 10,50% ao longo do horizonte relevante. O alvo é de 3,0%.
Mais riscos de alta
Na ata, o BC destacou que todos os membros concordaram que há mais riscos de alta para a inflação no momento corrente do que ameaças que incorreriam em cenário inflacionário mais favorável. O documento também esclareceu que "vários membros" enfatizaram a "assimetria" no balanço de riscos, ou seja, que os perigos para um inflação mais elevada têm hoje mais peso do que os itens que apontam para um ambiente menos inflacionário.
Na semana passada, o Copom incluiu o comportamento do câmbio como mais um risco de alta inflacionária, somando três fatores negativos, contra dois vetores que podem levar a uma baixa da inflação. Segundo o comitê, entre os riscos de alta estão “uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”.
Por outro lado, entre os riscos de baixa para a inflação, o Copom cita a possibilidade de uma desaceleração maior da atividade global, justamente o que se discute agora com mais força em relação aos Estados Unidos.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária. Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância", repetiu na ata o colegiado.
No documento, o BC reforçou que "não há relação mecânica entre a condução da política monetária norte-americana e a determinação da taxa básica de juros doméstica, tampouco entre a taxa de câmbio e a determinação doméstica da taxa de juros". Como de costume, a autoridade monetária afirmou que vai avaliar os efeitos dos eventos externos sobre a dinâmica de inflação brasileira. Mas destacou que "um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos" exige maior cautela na condução da taxa Selic.
Segundo a ata, os movimentos recentes do dólar e das expectativas de inflação foram "amplamente debatidos" pelos diretores do BC. Para o Copom, se esses movimentos se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e "serão devidamente incorporados". O colegiado ainda frisou que a condução da taxa Selic é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas.
"O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e, consequentemente, reduzam o custo da desinflação. O Comitê não se furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação."
Em relação aos dados inflacionários recentes, o BC avaliou que a trajetória "não divergiu significativamente do que era esperado", mas que tem diminuído o ritmo de desaceleração do IPCA, considerando que os bens industriais e os alimentos estão deixando de contribuir para esse alívio.
"Concluiu-se que o processo desinflacionário arrefeceu e que os níveis de inflação corrente acima da meta, em contexto de dinamismo da atividade econômica, tornam a convergência da inflação à meta mais desafiadora."
Sobre a economia brasileira, o Copom avaliou que o mercado de trabalho e a atividade econômica, em particular o consumo das famílias, têm surpreendido e divergido do cenário de desaceleração previsto.
Sustentabilidade fiscal
O Copom ainda reforçou o alerta sobre a condução da política fiscal, deixando mais claro o efeito negativo que vem sendo sentido em preços de ativos e expectativas devido à percepção mais recente do mercado financeiro sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente.
Atualmente, a condução fiscal pelo governo Lula está sob escrutínio do mercado. O governo projeta déficit primário de R$ 28,8 bilhões este ano, no limite inferior da meta, e enfrenta dificuldades para fechar o orçamento do ano que vem.
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, reforçou, no comunicado.
"Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego."
Fonte: O GLOBO
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Economia