Ministros superam a marca de 200 viagens ao exterior e irritam Lula, que cobra foco em agendas nacionais

Ministros superam a marca de 200 viagens ao exterior e irritam Lula, que cobra foco em agendas nacionais

Idas recentes de titulares para Estados Unidos e Europa acenderam alerta no Planalto

Porto Velho, Rondônia - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstrou incômodo com viagens internacionais dos ministros e determinou que os integrantes do primeiro escalão fossem orientados a evitar idas ao exterior ou, ao menos, que as avaliassem com mais critério. Lula quer os auxiliares focados em agendas nacionais, rodando o país e fazendo defesa do governo às vésperas do começo da campanha para as eleições municipais.

Levantamento do GLOBO com base em dados do Painel de Viagens apontou que, ao todo, os ministros realizaram 207 viagens internacionais desde o início do mandato, em janeiro de 2023. Em algumas delas, entretanto, dois ou mais ministros podem ter participado de um mesmo evento. Retirando o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, os demais passaram, em média, 27 dias fora do Brasil.

A mensagem de Lula foi passada pela Casa Civil, que reforçou o foco no lançamento de ações das pastas, o que pode render dividendos eleitorais a candidatos a prefeito alinhados ao Planalto. A responsável por esse tipo de orientação é a secretária-executiva da pasta, Miriam Belchior — o recado também é vocalizado por integrantes do gabinete da Presidência, que tem à frente Marco Aurélio Marcola. Estão fora deste escopo ministros que Lula pede que circulem pelo mundo, como Fernando Haddad (Fazenda) e Carlos Fávaro (Agricultura), e aqueles que só saem por ordem do presidente, como Rui Costa (Casa Civil) e o vice Geraldo Alckmin, também titular da pasta de Indústria e Comércio.

Dois casos recentes acenderam em Lula o alerta. O primeiro ocorreu quando o petista quis chamar a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, para uma agenda, e ela estava nos Estados Unidos, participando do Fórum Permanente da ONU sobre Questões Indígenas, em abril.

A ministra discursou na plenária principal da ONU, na cerimônia de abertura do evento. À época, Lula fez chegar à auxiliar a “lembrança” de que ela é ministra dos Povos Indígenas do Brasil. Desde o início do mandato de Lula, Guajajara fez sete viagens ao exterior.

Em maio, a ministra esteve na Venezuela e participou da assembleia do Fundo para o de Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe, quando assumiu a presidência do colegiado.

Em nota, o ministério informou que o foco das agendas internacionais é a promoção dos direitos dos indígenas, além da busca de financiamento externo às políticas públicas, o que já resultou em mais de R$ 100 milhões em recursos para projetos no Brasil. Segundo a pasta, Guajajara é uma “liderança internacionalmente reconhecida e um ativo para o governo e os povos indígenas do Brasil para a articulação de ações que possam beneficiá-los”.

Lula também não gostou da quantidade de solicitações de nomes do primeiro escalão pedindo para ir a Lisboa, onde ocorreu no mês passado um fórum jurídico organizado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

Lula decidiu liberar Jorge Messias (AGU), Vinícius Carvalho (Controladoria-Geral da União), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia).

Turismo pelo mundo

Segundo ministro de Lula que mais viajou para fora do país, apenas atrás do chanceler Mauro Vieira, Celso Sabino (Turismo) justifica os trechos pela natureza do cargo e afirma que tem como obrigação divulgar o Brasil no exterior. Foram 11 viagens (58 dias fora do país), desde que assumiu a pasta, em agosto de 2023. Sabino atribui a uma viagem sua ao Uzbequistão, para a Assembleia da ONU Turismo, em outubro de 2023, a instalação no Brasil de um escritório das Nações Unidas voltado ao tema.

— Em cinco meses de 2024, vieram 3,3 milhões de turistas estrangeiros para o Brasil. Eu poderia estar dentro de um gabinete ou num escritório, trabalhando pelo turismo no Brasil, mas não sei se os resultados seriam os mesmos — disse.


Fonte: O GLOBO

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