De porto no Amapá cobiçado por facções às mortes pela polícia: conheça as 50 cidades do país com maior letalidade

De porto no Amapá cobiçado por facções às mortes pela polícia: conheça as 50 cidades do país com maior letalidade

Primeira do ranking, a amapaense Santana registrou uma taxa de mortes violentas quatro vezes maior do que a média nacional

Porto Velho, Rondônia - Segundo maior município do Amapá, Santana é uma cidade relativamente jovem, a poucos quilômetros da capital Macapá e com uma população de 107 mil habitantes. Conhecida como porta de entrada fluvial do estado, tem um porto com capacidade para receber grandes navios cargueiros de bandeira internacional. Além de empresas interessadas em sua posição geográfica privilegiada para exportação, mais recentemente Santana atraiu outros pretendentes: facções criminosas do Sudeste do país, em busca de novas rotas para o tráfico internacional de drogas, armas e minerais preciosos.

Dados inéditos do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na manhã desta quinta-feira (18), revelam que Santana é a cidade mais letal do Brasil, entre os municípios com mais de 100 mil habitantes. O ranking se baseia nas taxas de mortes violentas intencionais registradas em 2023. Na classificação do levantamento, somam-se os casos de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais em serviço e fora por grupos de 100 mil habitantes.

A taxa de mortes violentas intencionais de Santana (92,9) é mais de quatro vezes maior do que a média nacional (22,8). Em 2023, o município registrou 100 mortes violentas intencionais, sendo 72 delas homicídios dolosos, um latrocínio e 27 mortes decorrentes de intervenção policial. No ano anterior, Santana aparecia em 31º lugar na lista das mais violentas. Chegou ao topo depois de um crescimento de 88,2% do indicador em doze meses.

Na sequência do ranking das mais violentas de 2023, estão Camaçari (BA), Jequié (BA), Sorriso (MT), Simões Filho (BA), Feira de Santana (BA), Juazeiro (BA), Maranguape (CE), Macapá (AP) e Eunápolis (BA).

As dez cidades somaram 1.789 mortes violentas intencionais, das quais 436 foram decorrentes de intervenção policial. Um em cada quatro assassinatos, portanto, foi provocado pelo próprio Estado. Para Renato Sérgio de Lima, diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o uso desmedido da força pela polícia é, em partes, responsável pelo fato de o Brasil não conseguir reduzir seus índices de letalidade.

— Das dez cidades mais violentas, seis estão na Bahia. É um padrão de trabalho [da PM] que não corresponde necessariamente só a uma resposta a facções. É preciso pensar em outra forma de atuação — pontuou Lima.

Disputa pelo tráfico

Mais próximo do Caribe, Estados Unidos e União Europeia do que outros terminais brasileiros, o Porto de Santana serve como porta de entrada e saída da região amazônica. A unidade portuária fechou 2023 com movimentação recorde, a maior dos últimos nove anos, um crescimento de 48,1% em relação a 2022. Granéis sólidos de origem vegetal, como soja, milho, farelo de soja e cavaco de madeira, foram destaque entre as cargas. O geógrafo Thiago Sabino, pesquisador do Instituto Mãe Crioula e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, explica que o crime organizado tem se valido dessa pujança da logística portuária nos últimos anos para contaminar cargas lícitas com droga para exportação.

Há cerca de três anos, diz ele, as facções do Sudeste viram no estado uma oportunidade de expandir suas áreas de atuação se aliando a gangues locais. A paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) se associou à Família Terror do Amapá (FTA) e, juntas, têm o controle da maior parte dos bairros. Já a fluminense Comando Vermelho (CV) se uniu com a Amigos para Sempre (APS), elevando a disputa letal pelo território.

— Essas facções viram o potencial da região, com muitos rios para o transporte e uma geografia que favorece o esconderijo da droga. Além disso, a localização na Foz do Rio Amazonas é estratégica. De lá para o mundo, não tem obstáculo — ressaltou Sabino.

Outra causa da alta letalidade na cidade, segundo o pesquisador, é a violência policial, um fenômeno presente no estado como um todo. O Amapá foi o estado com mais mortes decorrentes de intervenção policial, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Registrou uma taxa de 23,6 por 100 mil habitantes.

Procurados, o governo do Amapá e a Prefeitura de Santana não retornaram. O espaço permanece aberto para manifestação.


Fonte: O GLOBO

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