'Além de não ter graça, normaliza tragédia', diz Anistia após piada de Lula sobre violência contra mulheres

'Além de não ter graça, normaliza tragédia', diz Anistia após piada de Lula sobre violência contra mulheres

Ao lamentar os dados de uma pesquisa que apontou que casos de agressão doméstica aumentam após jogos de futebol, o petista falou que 'se o cara é corintiano, tudo bem'

Porto Velho, Rondônia - A Anistia Internacional repudiou as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez uma piada associada à violência contra as mulheres durante evento no Palácio do Planalto nesta terça-feira. Em nota divulgada em suas redes sociais, o órgão destacou que o comentário feito pelo petista "não tem graça e normaliza uma tragédia brasileira". 

Ao lamentar os dados de uma pesquisa que apontou que os casos de agressão doméstica aumentam após jogos de futebol, o petista complementou, entre sorrisos, que "se o cara é corintiano, tudo bem". Lula é torcedor declarado do clube paulista.

"Uma das pesquisas que aponta para essa situação se chama "Violência Contra as Mulheres e o Futebol", publicada em 2022 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto Avon. Seus achados mostram que no dia em que um dos times de 5 cidades brasileiras (Salvador, Belo Horizonte, Rio, Porto Alegre e São Paulo) entra em campo, B.Os de ameaça contra mulheres chegam a aumentar quase 24%. Se o jogo for em casa, registros de lesão corporal chegam a crescer 26%. Além de não ter graça, o comentário de Lula normaliza uma tragédia brasileira que deveria preocupar todo mundo, principalmente o presidente: pelo menos 10,6 mil mulheres foram vítimas de feminicídio desde 2015, quando a lei tipificou o crime", escreveu o órgão na publicação.

A declaração de Lula foi dada após o presidente voltar a dizer que é cobrado pela primeira-dama, Rosângela da Silva, por conta da agendas oficiais com baixa presença feminina. Pouco antes, ele havia classificado como "louvável" e "extraordinário" o fato de haver nove mulheres presentes ao encontro com empresários do setor da indústria de alimentos. "Eu nunca fiz uma reunião com tantas mulheres aqui dentro", frisou, para logo em seguida tecer o comentário alusivo à violência de gênero.

— Hoje, eu fiquei sabendo de uma notícia triste, eu fiquei sabendo que tem pesquisa, Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda), que mostra que depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corinthiano, tudo bem. Mas eu não fico nervoso quando perco, eu lamento profundamente. Então, eu queria dar os parabéns às mulheres que estão aqui — afirmou Lula aos presentes.

Em nota divulgada à imprensa nesta quarta-feira, o Planalto assegurou que o presidente "em nenhum momento" endossou a violência contra mulheres. O texto acrescenta que "o respeito às mulheres é valor inegociável em todas as esferas do governo federal" e argumenta que a gestão petista "tem atuado de forma sistemática para ampliar continuamente as oportunidades e a proteção para este público".

Nesta quarta-feira, sem citar especificamente o episódio da véspera, Lula reclamou do que chamou de frases "tiradas de contexto" em vez da "notícia completa". A queixa aconteceu em nova solenidade no Palácio do Planalto, desta vez para formalizar a sanção do projeto que estende os prazos de conclusão de cursos do ensino superior para mães e pais estudantes.

— Muitas vezes, (você) está vendo telejornal e o que predomina no telejornal não é a notícia completa, é uma frase da notícia tirada de contexto que, de preferência, se puder fazer intriga, melhor. Se não puder, não tem problema — disse o presidente.


Fonte: O GLOBO

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