‘A vida como ela é’: diretor da Americanas explica em diálogo fraude em planilhas internas

‘A vida como ela é’: diretor da Americanas explica em diálogo fraude em planilhas internas

Em conversa de WhatsApp obtida pela PF, delator explica maquiagem nas finanças do grupo

Porto Velho, Rondônia - O parecer do Ministério Público Federal (MPF) do caso Americanas que embasou a operação da Polícia Federal (PF) contra executivos da empresa nesta quinta-feira detalha como as fraudes contábeis eram combinadas entre diretores por e-mail.

Um dos diálogos revelados mostra o ex-diretor Marcelo Nunes, cuja delação é um dos pilares da investigação, explicando a um colega como diferenciar os valores reais e os fraudados. A Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial em janeiro do ano passado após a revelação de inconsistências contábeis na ordem de R$ 20 bilhões nos balanços da companhia.

Em um diálogo de WhatsApp ocorrido em dezembro de 2021 e obtido pela investigação, o então diretor José Timotheo de Barros pergunta a Nunes por que a planilha financeira do braço digital do grupo, a B2W, trazia duas colunas referentes a receitas e despesas em novembro daquele ano em colorações diferentes.

O colega responde: “A cinza é a vida como ele é. A branca com todas as esticadas [valores fraudulentos]”.

O MPF destaca em seu parecer, obtido pela equipe da coluna, que os valores entre as colunas são “absolutamente diferentes”. Na coluna “a vida como ela é”, a receita líquida de novembro de 2021 é de R$ 1.561.596. Já depois das “esticadas”, o valor salta para R$ 1.946.097.

O diálogo, para o MPF, comprova a “atuação fundamental” de José Timotheo de Barros na construção das fraudes que manipulam o mercado.

As fraudes na Americanas foram relevadas em janeiro de 2023, quando a gestão da companhia foi trocada. Na época, a companhia anunciou ter descoberto “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões. Hoje os valores estão em R$ 25,7 bilhões.

O esquema consistia na maquiagem de operações de risco sacado, mecanismo pelo qual os bancos abrem linhas de crédito para que os fornecedores abatam suas faturas com desconto, e depois cobram o valor da Americanas. É um tipo de financiamento comum no varejo.

Via de regra, o volume de empréstimos feitos nessa modalidade deve aparecer no balanço da companhia como passivo. Mas essas dívidas não apareciam nas demonstrações financeiras pelo menos desde 2016.

No material que embasou a operação de hoje, o Ministério Público Federal descreve as manobras praticadas na companhia e Adriana que elas tinham dois objetivos.

"De um lado, um conjunto de manobras fraudulentas foi marcado pela inserção de receitas fictícias no balanço da empresa, bem como o uso de outros expedientes para maquiar os resultados. De outro lado, um outro conjunto operações foi realizado para gerar caixa, de forma a impedir que o primeiro grupo de manobras fraudulentas fosse descoberto".

O MPF e a PF afirmam ainda que as fraudes se repetiam todos os anos, e começavam a partir da elaboração de um orçamento que funcionava como uma conta de chegada. Definia-se o resultado que a empresa deveria ter, como receita e lucro, e daí se produziam operações fictícias, inclusive falsificando documentos, para se chegar ao resultado pretendido.

A operação da Polícia Federal desta quinta-feira (27) foi deflagrada para cumprir dois mandados de prisão contra o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Ramos Secali. Os dois, no entanto, estão fora do país. Gutierrez vive na Espanha, enquanto Secali, segundo fontes envolvidas na apuração relataram à equipe do blog, está em Portugal com um visto de trabalho.

A PF também cumpriu pedidos de busca e apreensão contra outros 15 alvos. A operação é baseada nas delações premiadas de Marcelo Nunes, que foi diretor executivo financeiro, e Flavia Carneiro, diretora de controladoria.


Fonte: O GLOBO

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