Incertezas fiscais domésticas se somaram ao clima global de aversão ao risco, o que afetou os ativos brasileiros no mês passado
Porto Velho, Rondônia - A Verde Asset Management, uma das maiores gestoras de recursos independentes do Brasil e dirigida pelo veterano do setor Luis Stuhlberger, reduziu posições em bolsa local e renda fixa depois que seu principal fundo registrou a maior queda mensal em anos.
O fundo Verde recuou 3,8% após taxas no mês passado, a maior queda mensal desde o fim de 2021 e o pior desempenho para abril desde 2003, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A performance ficou abaixo do ganho de 0,9% da taxa de referência do CDI e da queda de 1,5% do índice de hedge funds da Anbima no mesmo período.
A Verde Asset Management, que atualmente administra cerca de R$ 22 bilhões, implementou “mudanças substanciais” em seu portfólio após o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciar uma meta fiscal menos ambiciosa para 2025, disse em carta aos cotistas.
As incertezas fiscais domésticas se somaram ao clima global de aversão ao risco, o que afetou os ativos brasileiros no mês passado. O fundo reduziu a sua exposição em bolsa brasileira e praticamente zerou posições que se beneficiavam da queda de juros no âmbito local.
“Caiu por terra qualquer ilusão de que o governo perseguiria alguma, por menor que fosse, disciplina”, disse a Verde, em carta mensal de gestão.
O fundo carro-chefe da Verde sobe mais de 24.000% em moeda local desde seu lançamento. O Credit Suisse, que era um acionista minoritário da empresa, vendeu sua participação no ano passado para a gestora de ativos alternativos Lumina Capital.
Pouco otimismo
Com R$ 30 bilhões sob gestão, o gestor de uma família de fundos da Itaú Asset também não está otimista com a bolsa brasileira.
Segundo Rodrigo Koch, gestor de renda variável da família de fundos Optimus na Itaú Asset, a reprecificação do início do corte de juros pelo banco central dos EUA, o Federal Reserve, e a redução do ritmo de flexibilização da Selic no Copom , deixam o preço-alvo do Ibovespa limitado a 140.000 pontos.
Gestor da Itaú Asset enxuga risco — Foto: Bloomberg
A mudança no cenário do Fed levou a uma correção também do mercado local, que passou a contar com uma Selic mais alta no fim do ciclo do Banco Central. Com isso, o chamado juro real — taxa descontada a inflação — para o Brasil próximo de 6% “veio para ficar por algum tempo”.
Utilities, financeiro e commodities
Os fundos sob gestão de Koch reduziram a exposição ao risco nas carteiras de investimentos nas últimas semanas e focaram ainda mais em ações de “qualidade” e com “assimetria de preço razoável”. “O que a gente fez nas últimas semanas foi focar ainda mais nos nomes que temos mais convicção e com prêmio maior do que o Ibovespa”, diz.
Segundo ele, a maior exposição setorial dos fundos que administra hoje é no setor de utilities, com empresas caracterizadas por um fluxo de caixa mais previsível. Koch também aposta nos setores financeiro e de commodities — onde prefere petróleo e celulose.
Para ele, o cenário para commodities hoje é de estabilidade de preços. Ele vê o setor de óleo e gás aquecido, com boa geração de caixa e “valuation”, e em posição de “ou pagar dividendo, ou fazer M&A (fusões e aquisições)”.
Koch afirma ainda que a intenção é ficar momentaneamente de fora de setores muito cíclicos e de empresas demasiadamente alavancadas. “Não estamos num cenário em que a gente vai para ‘mar aberto’ e sai pegando coisas mais arriscadas”, diz.
Koch vê as recentes movimentações no mercado de fusões e aquisições como “movimentos defensivos”, citando a fusão de Arezzo e Soma e movimentações nos setores de educação e petróleo. Para ele, há potenciais de operações como essas em setores que perderam muita receita, como saúde, varejo e educação.
A família de fundos Optimus reúne R$ 30 bilhões dos R$ 928 bilhões que a asset tem em patrimônio total gerido.
Fonte: O GLOBO
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