Os voluntários que atuam na orla do lago Guaíba, em Porto Alegre
Porto Velho, RO.
Quando alguém é levado à tenda de atendimento instalada ali, passa por
uma avaliação e triagem, recebe roupas secas, lanches e almoço, antes de
ser encaminhado para um abrigo ou local seguro
Os voluntários que
atuam na orla do lago Guaíba, em Porto Alegre, mal conseguem parar para
falar. Eles se dividem entre responsáveis por resgate, que vão de barco
ou jet ski a áreas inundadas, e profissionais de saúde e alimentação
para socorrer os atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Quando
alguém é levado à tenda de atendimento instalada ali, passa por uma
avaliação e triagem, recebe roupas secas, lanches e almoço, antes de ser
encaminhado para um abrigo ou local seguro.
O processo parece
seguir uma ordem simples e lógica, mas acontece em meio a uma caótica
comunicação de gritos, barulhos de motor dos veículos aquáticos e choro.
Joavi Dornelles, 44, é técnica de enfermagem e atua no primeiro
acolhimento a resgatados. Ela trabalha no Hospital de Clínicas e foi
como voluntária para a orla. "Nem na pandemia vi algo assim", contou.
Segundo o relato dela, há pessoas que chegam de áreas submersas que nem
sequer conseguem entender onde estão ou o que está acontecendo.
"Se
não fosse todo mundo fazer e acontecer, ia boiar corpo à revelia",
desabafou Carlos Leão, 38. Ele está desde sexta-feira (3) no resgate a
pessoas ilhadas em Porto Alegre, principalmente nas ilhas. Nesta
segunda-feira (6), passou a integrar uma equipe que ia a Eldorado do
Sul.
Carlos falou com a reportagem enquanto esperava o
abastecimento dos veículos aquáticos. Ele compartilha indignação: "Se
estavam vendo que ia estourar [a enchente], já armassem Brigada Militar e
Exército para retirar as pessoas antes".
Em uma das poucas
pausas, pôde tirar parte da roupa térmica que vestia, deixando visível
manchas vermelhas no tórax. "Até voltou minha psoríase. Fazia dez anos
que não tinha nada. Só aumentando o estresse cada vez mais", disse,
antes de retomar o serviço.
Os grupos não demonstram ter
hierarquia estabelecida. Quando uma equipe de voluntários saía para
buscar mais gasolina, um deles, que ficava na orla, orientava a não
entrar na contramão da "avenida".
Ainda que a maior parte do
pessoal seja de voluntários, agentes de segurança como policiais
militares e civis estão presentes na área de resgate e ajudam a
coordenar as ações.
Barcos do Exército também atuam nos resgates. Há
ainda embarcações que levam alimentos para aqueles que não querem deixar
suas casas por medo de furtos.
Pelo menos duas tendas montadas à
beira do lago Guaíba são destinadas à alimentação de resgatados. Em uma
delas as vítimas recebiam marmitas para o almoço. Na outra, um grupo
montava sanduíches e recebia doações de mais alimentos.
O que
sobra dali é levado depois para abrigos. "Ficamos felizes em poder
ajudar. Não tem explicação para descrever a gratidão que recebemos",
conta a empresária Cristiane de Souza Molon, 32, que diz já planejar
ações para quando a água baixar -ela quer montar um grupo para auxiliar
na limpeza de casas que ficaram submersas.
CONGESTIONAMENTO PARA DEIXAR PORTO ALEGRE
A
Defesa Civil gaúcha emitiu alerta vermelho para fortes chuvas no
extremo sul do estado. Na região de Porto Alegre, mesmo com sol e céu
azul, a preocupação é com a água do lago Guaíba, que continua a receber
volumes do rio Jacuí e avança pela cidade.
Em uma rua do bairro
Menino Deus, a água alcançava o para-brisa dos carros. Bairro vizinho, a
Cidade Baixa, distante 2 km de onde chegavam os veículos de resgate,
tinha bloqueios pela água.
Ambas as localidades receberam
orientação para serem esvaziadas. Segundo dados da Procempa (Empresa de
Tecnologia da Informação e Comunicação da Prefeitura de Porto Alegre),
31.650 pessoas moram no Menino Deus, enquanto 18.450 vivem na Cidade
Baixa.
O principal motivo do avanço da água é o desligamento de
uma das 23 casas de bomba que fazem o escoamento, por risco de choque
elétrico.
Nas vias ainda secas, já sem energia elétrica,
moradores deixam prédios com malas e mochilas rumo a um lugar seguro.
Muitos, contudo, estavam tomados pelo assombro vendo a água se
aproximar.
No domingo, o prefeito Sebastião Melo (MDB) recomendou que quem tivesse condições deixasse Porto Alegre em direção ao litoral.
O
aumento da área de abrangência da inundação levou mais gente a sair da
cidade. As duas saídas possíveis, a RS-040 e a RS-118, estavam
congestionadas e tiveram intensificação de fluxo a partir das 16h desta
sexta, quando foi anunciado o desligamento da casa de bomba.
Fonte: Folhapress