Porto Velho, Rondônia - Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem não admitir publicamente, mas já fazem em conversas reservadas uma leitura dos riscos políticos embutidos em uma eventual cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-PR). O processo contra Moro chegou na semana passada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e aguarda um parecer da Procuradoria-Geral da República.
Um dos temores é o de que, se Moro for cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e novas eleições convocadas, a reviravolta abra as portas do Senado para Michelle Bolsonaro, considerada uma liderança política capaz de produzir mais estragos para o PT – ou para algum outro bolsonarista radical que venha a dar mais dor de cabeça para o governo do que Moro, descrito por várias lideranças lulistas como um “cadáver político”.
É por isso que interlocutores próximos ao presidente já avaliam que talvez seja melhor deixar Moro no cargo, do que trocá-lo por alguém que possa fazer mais barulho e ter mais relevância no campo da direita.
“Para que abrir espaço para uma eleição onde possa surgir uma liderança de verdade na direita? O Moro já está morto, é um cadáver político”, resume um petista com bom trânsito no Palácio do Planalto. “Se tirar o Moro, vem a Michelle.”
Esse argumento, que vem se disseminando na base do governo no Senado, se soma ao esforço do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), nos bastidores para tentar evitar que os processos contra senadores da direita na Justiça Eleitoral resultem em cassação. Estão na fila Jorge Seif (PL-SC), Moro e Magno Malta (PL-ES).
Segundo a equipe da coluna apurou, Pacheco discutiu o assunto em encontro recente, em Brasília, com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, além de ter conversado sobre o tema com outros integrantes da Corte.
Na semana passada, o TSE adiou uma decisão sobre o caso Seif, suspendendo o julgamento para reabrir a etapa de coleta de provas na ação que pede a sua cassação por abuso de poder econômico. Não há previsão para o processo voltar a julgamento.
No mês passado, Moro foi absolvido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná por 5 a 2 das acusações de abuso de poder econômico, caixa 2 e uso indevido dos meios de comunicação. Os únicos dois votos pela cassação vieram de desembargadores indicados pelo presidente Lula: José Rodrigo Sade e Julio Jacob Junior.
O PT de Lula e o PL de Jair Bolsonaro são os autores das ações que pedem a cassação do ex-juiz da Lava-Jato, sob a alegação de que os recursos financeiros despejados na sua pré-campanha à Presidência da República lhe deram exposição pública e vantagem indevida e desequilibraram a disputa a seu favor na disputa pela vaga de senador do Paraná, no pleito de 2022.
Na última quinta-feira (2), os recursos das duas legendas pela cassação de Moro chegaram ao TSE, a quem caberá decidir pela perda de mandato do parlamentar e a convocação de novas eleições para definir quem fica com a vaga.
O relator é o ministro Floriano de Azevedo Marques, que já pediu uma manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR). Azevedo Marques também está cuidando do caso de Seif.
Ao contrário dos senadores petistas, porém, há uma ala do partido que está ávida pela cassação de Moro.
“Respeito a posição de quem pensa o contrário, mas a cassação do Moro é pedagógica, ele cometeu crimes, como o abuso de poder econômico. A perda de mandato é o último prego no caixão da Lava-Jato”, afirma o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do influente grupo jurídico Prerrogativas.
Em meio aos desdobramentos do julgamento de Moro, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP) transferiu o seu domicílio eleitoral de São Paulo para o Estado do Paraná, o que já foi judicializado pelo PT.
Para o partido de Lula, a movimentação de Rosângela está diretamente relacionada à possível cassação do marido.
Fonte: O GLOBO
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