A frase é de um advogado que aguardava com celular em punho a passagem da ministra Cármen Lúcia
Porto
Velho, RO. "Não adianta apenas proclamar direitos, as leis não bastam.
Sem juízes para fazer o que a lei tenha, você não pode dormir em paz",
disse. "Constituição não é aviso, não é proposta, não é consulta, não é
sugestão. Constituição é lei. A lei fundamental."
"Celebridade é
celebridade." A frase é de um advogado que aguardava com celular em
punho a passagem da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal
(STF), para tentar uma selfie. Ela esteve nesta segunda-feira, 29, em um
seminário sobre os 40 anos das "Diretas Já" na seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP).
A participação da
ministra gerou mais comoção na audiência especializada do que a presença
de artistas como Fafá de Belém e Christiane Torloni. Quando o painel
chegou ao fim, ela foi cercada no auditório e precisou da ajuda de
seguranças e funcionários da OAB para atravessar o salão. Na porta do
elevador, mais pedidos de fotos. Enquanto isso, a apresentadora do
evento fazia apelos, em vão, para que todos voltassem aos lugares para
dar sequência ao seminário.
As cenas contrastam com episódios
recentes de hostilidades aos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Cármen Lúcia foi longamente aplaudida diversas vezes ao longo de sua
fala. A plateia até ficou de pé para reverenciá-la.
Com a
Constituição embaixo do braço, a ministra defendeu que o movimento pelas
eleições diretas provou que a sociedade brasileira é capaz de se unir
em defesa da democracia.
"Nós precisamos resgatar o que nos une
para ser uma democracia. Não é o que nos separa que faz um povo viver
junto. Não é o que nos isola um do outro, como se fosse uma pandemia de
ódios permanentes. Superada a covid-19, nós temos um covódio, que é um
corona de ódio, nos corações odientos de uns contra outros. Não se faz
democracia com raivas, se constrói humanidade com afetos, com o que nos
aproxima, que foi o que o movimento das Diretas nos trouxe."
Em
contraponto às críticas recentes dirigidas ao Poder Judiciário, acusado
de "ativismo" e de interferência indevida no exercício do Executivo e do
Legislativo, Cármen Lúcia defendeu a importância da revisão
constitucional para garantir direitos fundamentais previstos na
Constituição.
"Não adianta apenas proclamar direitos, as leis não
bastam. Sem juízes para fazer o que a lei tenha, você não pode dormir
em paz", disse. "Constituição não é aviso, não é proposta, não é
consulta, não é sugestão. Constituição é lei. A lei fundamental."
A
ministra também lembrou os ataques à democracia, que chegaram ao auge
no dia 8 de Janeiro, e afirmou que o Brasil vive "tempos de
desassossego". "Naquele tempo, duas horas mais ou menos, eles (radicais
do 8/1) estilhaçaram até o elevador de aço do Supremo Tribunal Federal,
do teto até o chão."
Cármen Lúcia, que vai dirigir o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) nas eleições municipais de 2024, terminou com
um alerta: "A democracia é a planta mais segura no canteiro da nossa
vida, é a planta mais necessária, é o fruto da igualdade e da liberdade,
mas ela é frágil. A gente tem que cuidar dela todo dia, porque erva
daninha, que é a tirania, o despotismo, toda forma de ditadura, é fácil
de acontecer."
Fonte : Estadao Conteudo