Segundos fontes do governo, vínculo atual do Planalto com o Vaticano é talvez o mais forte que o Brasil já teve com a Santa Sé
Lula mantém contato fluido com o Papa Francisco — por cartas e telefonemas —, e Amorim tem um interlocutor no Vaticano que ocupa um lugar cada vez mais relevante em sua agenda de contatos internacionais: o cardeal Matteo Maria Zuppi, enviado do Papa nos últimos tempos a Ucrânia, Rússia (onde o assessor de Lula esteve esta semana, participando de uma conferência sobre segurança), e China.
O Papa conversou com o presidente brasileiro, confirmam fontes do governo, durante o período em que Lula esteve preso. Francisco também expressa publicamente seu carinho pela ex-presidente Dilma Rousseff, que será recebida por Francisco nesta sexta-feira.
As agendas de Lula e Francisco têm vários pontos em comum, entre eles o combate à pobreza. No discurso anual que faz ao corpo diplomático no Vaticano, no início de janeiro, o Papa defendeu a criação de um fundo global para a erradicação da fome e da pobreza, em sintonia com a agenda de Lula na presidência brasileira do G20 este ano.
Para Lula, a aliança com o Vaticano é valiosa, em momentos de queda de popularidade interna e desafios na frente externa. Já para a Santa Sé, o Brasil é um país central, que exibe o maior número de bispos ativos do mundo: 300, além de 160 bispos eméritos. Em segundo lugar estão os EUA, seguidos por Itália e Índia.
O interesse é mútuo, e dois países latino-americanos que preocupam Francisco e Lula estiveram presentes nas conversas do presidente com Parolin, afirmaram fontes brasileiras: Venezuela e Nicarágua. O presidente admitiu ao enviado do Papa que não conseguiu concretizar um contato telefônico com seu par da Nicarágua, Daniel Ortega, para fazer a mediação que Francisco lhe pedira, no encontro que mantiveram no Vaticano em meados de 2023. O Brasil de Lula e o Vaticano são críticos da guinada autoritária na Nicarágua.
Vários pedidos foram feitos pelo governo brasileiro, mas Ortega esnobou Lula, o que causou profundo mal-estar ao presidente brasileiro, antigo defensor da Revolução Sandinista. O resultado foi o congelamento da relação bilateral com a Nicarágua, incluindo, até mesmo, a suspensão, na prática, do programa de cooperação técnica entre os dois países. A Venezuela de Nicolás Maduro também é assunto da agenda Brasil-Vaticano e foi um tema importante da conversa entre Amorim e Parolin, que foi núncio (embaixador) em Caracas de 2009 a 2013.
Os contatos entre o assessor presidencial e Zuppi são importantes para temas como a guerra entre Rússia e Ucrânia. Zuppi, atual presidente da Conferência Episcopal Italiana, que fala um excelente português, participou das negociações de paz em Moçambique, no início da década de 1990. Como Amorim, o cardeal italiano foi enviado a Moscou, Kiev e até China — país com o qual o Vaticano não tem relações diplomáticas — para dialogar com as mais altas autoridades de cada país sobre a necessidade de buscar uma solução pacífica para o conflito.
A aliança entre Planalto e Vaticano cresce longe dos holofotes, e é estratégica para ambas as partes.
Fonte: O GLOBO
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