De baixo custo e longo alcance, arma foi crucial para conquista de Avdiivka por Moscou em fevereiro e tem pressionado as linhas de defesa de Kharkiv
Porto Velho, Rondônia - Pouco mais de dois anos depois do início da ofensiva russa contra a Ucrânia, o Exército de Moscou parece ter encontrado uma arma capaz de furar a defesa aérea ucraniana e causar destruição em larga escala sem gastar muito para isso.
São as chamadas "glide bombs", ou bombas planadoras, feitas a partir da adaptação de um explosivo da era soviética — que originalmente não eram teleguiado —, ao qual foi adicionado um sistema de controle via satélite e asas, que permitem que as bombas alcancem alvos a mais de 100 km de distância, aumentando a vulnerabilidade de grandes centros, como Kharkiv. Além da precisão, cada modelo pode carregar até 1,5 mil quilos de explosivos, um potencial destrutivo devastador que já está fazendo diferença no campo de batalha.
O kit de conversão, oficialmente conhecido como Módulo Unificado de Planejamento e Correção (UMPK em russo), transforma bombas do arsenal soviético em modelos parecidos com as bombas americanas JDAM, guiadas por GPS. Tudo isso por um custo de cerca de US$ 20 mil cada, enquanto um míssil de cruzeiro pode chegar a US$ 1 milhão, explicou Michael Peck, do think tank Center for European Policy Analysis, ao jornal Le Monde.
O longo alcance destes bombardeiros os torna praticamente inalcançáveis pelos mísseis terra-ar (SAMs) usados pelo Exército ucraniano hoje, e que já estão com o estoque escasso. Além disso, o modelo de baixo-custo lançado de aviões de guerra virou uma importante alternativa no arsenal da Rússia, diminuindo o uso de bombas de queda livre — mais fáceis dos pilotos serem abatidas — e de mísseis de cruzeiro de longo alcance.
Vídeos recentes do conflito sugerem que a Rússia também já integrou o kit com a bomba FAB-1500, mais pesada, e munições de fragmentação RBK-500, que dispersa dezenas de bombas menores e é proibida por 120 países, indica um artigo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, em inglês).
Apenas nas 10 primeiras semanas do ano, mais de 3,5 mil "glide bombs" foram lançadas contra o território ucraniano pela Rússia, segundo o vice-ministro da Defesa da Ucrânia, Ivan Gavrylyuk, em um artigo publicado pelo Ukrinform. Em abril, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky declarou que 3 mil haviam sido usadas somente em março.
Frederik Mertens, pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, explicou, em entrevista ao Le Monde, que as bombas planadoras têm a habilidade de executar bombardeios contínuos e precisos com taxas de desgaste razoáveis para a Força Aérea russa.
— A única maneira de evitar isso (as glide bombs) é derrubar os aviões que transportam as bombas — disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em entrevista recente.
Impacto na guerra
"Essas bombas destroem completamente qualquer posição. Todos os prédios e estruturas simplesmente se transformam em um buraco após a chegada de apenas uma KAB (bomba planadora). E eles lançam 60-80 peças sobre nós em um dia (!!!) Imagine as condições em que nossos combatentes estão lutando aqui hoje", escreveu em seu conta no X o militar Egor Sugar, que participou da defesa ucraniana de Avdiivka, poucas horas de se retirar da cidade após a sua conquista por tropas russas, em fevereiro.
As bombas planadoras tiveram um papel fundamental na vitória russa em Avdiivka, e tem sido usadas em mais batalhas no país, como em Kharkiv, uma das maiores cidades da Ucrânia, e Chassiv Yar, uma das últimas barreiras na estrada para Kramatorsk, em Donetsk.
Segundo oficiais do alto escalão militar ucraniano ouvidos sob anonimato pelo jornal Politico, o potencial de destruição das "glide bombs" combinado com a superioridade numérica de soldados russos pode romper as linhas de defesa do país e pender a balança ainda mais para Moscou.
Desde março, Kharkiv, que atualmente abriga 1,3 milhão de pessoas, tem sido bombardeada com as "glide bombs". Nas últimas três semanas, 15 bombas planadoras guiadas tiveram a cidade como alvo. Segundo autoridades ucranianas, desde janeiro, mais mísseis atingiram Kharkiv do que em qualquer outro momento desde os primeiros meses da guerra. A população dos vilarejos no leste da cidade foi evacuada, à medida que a violência ao longo da fronteira aumenta.
— É uma estratégia para intimidar as pessoas, uma estratégia para fazer com que as pessoas deixem suas casas, para fazer com que as pessoas evacuem — disse o prefeito de Kharkiv, Ihor Terekhov, durante uma entrevista recente, realizada em um local secreto, já que seu escritório é um alvo. — É a destruição da própria cidade.
A diminuição do fornecimento de armas de defesa aérea tornou as cidades ucranianas mais vulneráveis nas últimas semanas, uma situação que Kiev espera que comece a ser remediada pelo pacote de assistência militar de US$ 60 bilhões que o presidente americano, Joe Biden, deve assinar esta semana após aprovação na Câmara, depois de meses de adiamentos.
Para a Ucrânia, o crescimento no uso de glide bombs pela Rússia e a falta de equipamentos de defesa para combatê-las poderá ser usado como mais um argumento para convencer seus aliados a enviarem armas de última geração, como os mísseis Patriot americanos e os caças F-16, cuja primeira leva deve chegar no meio do ano.
Fonte: O GLOBO
O kit de conversão, oficialmente conhecido como Módulo Unificado de Planejamento e Correção (UMPK em russo), transforma bombas do arsenal soviético em modelos parecidos com as bombas americanas JDAM, guiadas por GPS. Tudo isso por um custo de cerca de US$ 20 mil cada, enquanto um míssil de cruzeiro pode chegar a US$ 1 milhão, explicou Michael Peck, do think tank Center for European Policy Analysis, ao jornal Le Monde.
O longo alcance destes bombardeiros os torna praticamente inalcançáveis pelos mísseis terra-ar (SAMs) usados pelo Exército ucraniano hoje, e que já estão com o estoque escasso. Além disso, o modelo de baixo-custo lançado de aviões de guerra virou uma importante alternativa no arsenal da Rússia, diminuindo o uso de bombas de queda livre — mais fáceis dos pilotos serem abatidas — e de mísseis de cruzeiro de longo alcance.
Vídeos recentes do conflito sugerem que a Rússia também já integrou o kit com a bomba FAB-1500, mais pesada, e munições de fragmentação RBK-500, que dispersa dezenas de bombas menores e é proibida por 120 países, indica um artigo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, em inglês).
Apenas nas 10 primeiras semanas do ano, mais de 3,5 mil "glide bombs" foram lançadas contra o território ucraniano pela Rússia, segundo o vice-ministro da Defesa da Ucrânia, Ivan Gavrylyuk, em um artigo publicado pelo Ukrinform. Em abril, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky declarou que 3 mil haviam sido usadas somente em março.
Frederik Mertens, pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, explicou, em entrevista ao Le Monde, que as bombas planadoras têm a habilidade de executar bombardeios contínuos e precisos com taxas de desgaste razoáveis para a Força Aérea russa.
— A única maneira de evitar isso (as glide bombs) é derrubar os aviões que transportam as bombas — disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em entrevista recente.
Impacto na guerra
"Essas bombas destroem completamente qualquer posição. Todos os prédios e estruturas simplesmente se transformam em um buraco após a chegada de apenas uma KAB (bomba planadora). E eles lançam 60-80 peças sobre nós em um dia (!!!) Imagine as condições em que nossos combatentes estão lutando aqui hoje", escreveu em seu conta no X o militar Egor Sugar, que participou da defesa ucraniana de Avdiivka, poucas horas de se retirar da cidade após a sua conquista por tropas russas, em fevereiro.
As bombas planadoras tiveram um papel fundamental na vitória russa em Avdiivka, e tem sido usadas em mais batalhas no país, como em Kharkiv, uma das maiores cidades da Ucrânia, e Chassiv Yar, uma das últimas barreiras na estrada para Kramatorsk, em Donetsk.
Segundo oficiais do alto escalão militar ucraniano ouvidos sob anonimato pelo jornal Politico, o potencial de destruição das "glide bombs" combinado com a superioridade numérica de soldados russos pode romper as linhas de defesa do país e pender a balança ainda mais para Moscou.
Desde março, Kharkiv, que atualmente abriga 1,3 milhão de pessoas, tem sido bombardeada com as "glide bombs". Nas últimas três semanas, 15 bombas planadoras guiadas tiveram a cidade como alvo. Segundo autoridades ucranianas, desde janeiro, mais mísseis atingiram Kharkiv do que em qualquer outro momento desde os primeiros meses da guerra. A população dos vilarejos no leste da cidade foi evacuada, à medida que a violência ao longo da fronteira aumenta.
— É uma estratégia para intimidar as pessoas, uma estratégia para fazer com que as pessoas deixem suas casas, para fazer com que as pessoas evacuem — disse o prefeito de Kharkiv, Ihor Terekhov, durante uma entrevista recente, realizada em um local secreto, já que seu escritório é um alvo. — É a destruição da própria cidade.
A diminuição do fornecimento de armas de defesa aérea tornou as cidades ucranianas mais vulneráveis nas últimas semanas, uma situação que Kiev espera que comece a ser remediada pelo pacote de assistência militar de US$ 60 bilhões que o presidente americano, Joe Biden, deve assinar esta semana após aprovação na Câmara, depois de meses de adiamentos.
Para a Ucrânia, o crescimento no uso de glide bombs pela Rússia e a falta de equipamentos de defesa para combatê-las poderá ser usado como mais um argumento para convencer seus aliados a enviarem armas de última geração, como os mísseis Patriot americanos e os caças F-16, cuja primeira leva deve chegar no meio do ano.
Fonte: O GLOBO
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