Rui Costa assume negociações com Lira, mas não consegue destravar impasse sobre emendas

Rui Costa assume negociações com Lira, mas não consegue destravar impasse sobre emendas

Chefe da Casa Civil se reuniu com presidente da Câmara em busca de saída para a insatisfação com vetos

Escalado para as negociações com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro Rui Costa (Casa Civil) vê limitações para o governo recompor o veto de R$ 5,6 bilhões às emendas de comissão feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao sancionar o Orçamento de 2024. Ele argumenta que, caso o Planalto atenda à pressão dos deputados, poderá colocar em risco programas de governo. Costa assumiu a interlocução com Lira diante do desgaste do ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), com quem o deputado sequer tem conversado.

Lira e Costa se reuniram na quarta-feira, antes de o presidente da Câmara viajar a Alagoas para cumprir compromissos em sua base eleitoral. O principal assunto do encontro foram os vetos ao Orçamento aprovado pelo Congresso.

O chefe da Casa Civil afirmou a interlocutores que uma possibilidade em análise é o Executivo ir recompondo o valor travado por Lula ao longo do ano, cenário que dependeria do aumento de receitas no curso de 2024. Os parlamentares, no entanto, pressionam o Palácio do Planalto para terem acesso a um grande volume de emendas ainda no primeiro semestre, devido ao período eleitoral.

O ministro reforçou a auxiliares que o combinado com o Congresso foi o Orçamento prever um volume de R$ 11 bilhões para as emendas de comissão — o texto veio com R$ 16,6 bilhões. O governo justifica o veto com o argumento de que a medida era necessária para recompor gastos, sob risco de impactar o pagamento de políticas públicas, como a Farmácia Popular e a escola em tempo integral, além de ações ligadas à defesa civil e saneamento, especialmente para pequenas localidades.

Desde o rompimento com Padilha, Lira também elegeu como interlocutores o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O estopim para o rompimento, segundo aliados do presidente da Câmara, foi a edição de uma portaria do governo que prevê novas regras para liberação de recursos apadrinhados por parlamentares na área da Saúde.

Ganhando tempo

Enquanto busca uma solução para o impasse com os parlamentares, o governo tenta ganhar tempo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que até o momento não agendou a sessão do Congresso em que os vetos serão analisados.

Embora Costa demonstre resistência a alterar o valor do veto, articuladores políticos do governo ponderam que algum remanejamento o Planalto precisará fazer como forma de aceno aos parlamentares. O governo vai avaliar como se comporta a arrecadação, se haverá nova queda de juros e outras movimentações que abram espaço no Orçamento. Auxiliares dizem que Lula só deve bater o martelo sobre o tema após retornar da viagem à África, no final de fevereiro.

Uma possibilidade foi levantada nesta quinta pela ministra do Planejamento, Simone Tebet: apresentar um projeto de lei para recompor parte do corte das emendas de comissão. Integrantes da Casa Civil que acompanham essa discussão de perto, no entanto, afirmam que o debate ainda é “embrionário” e que não há uma definição concreta.

— Eles (os parlamentares) estão percebendo que não tiramos deles para incorporar ao governo. É para recompor políticas públicas que, de alguma forma, foram cortadas no Orçamento e interessam a eles também — pontuou Tebet.

Relação com o planalto tem histórico de atritos
  • Orçamento secreto: Os atritos com Lira começaram antes mesmo da posse de Lula. Após a vitória do petista nas urnas, em 2022, o presidente da Câmara irritou-se com a articulação do governo eleito para derrubar o orçamento secreto no STF, o que acabou ocorrendo de fato.
  • Ministérios: Na composição dos ministérios, Elmar Nascimento (União-BA), aliado de Lira, acabou preterido em cima da hora na Integração Regional por Waldez Góes (PDT-AP), chancelado por Davi Alcolumbre (União-AP). Para piorar, Renan Filho (MDB-AL), herdeiro político de seu rival estadual Renan Calheiros (MDB-AL), ficou com a pasta dos Transportes.
  • Articulação: Ao longo de todo o primeiro semestre da gestão, Lira enfileirou críticas à articulação política do governo. Ele impôs uma série de derrotas ao Planalto no Congresso, em uma relação que só distensionou com a entrada do PP no governo.
  • 8 de janeiro: Após um período de aparente alinhamento, a ausência de Lira no evento organizado por Lula na efeméride do 8 de janeiro voltou a acender o sinal de alerta.

Fonte: O GLOBO

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