Há grandes desafios para o setor, mas melhora em indicadores macroeconômicos e programas de incentivos podem trazer surpresas positivas
A produção industrial brasileira cresceu 1,1% em dezembro de 2023 frente a novembro, na série com ajuste sazonal, surpreendendo os analistas de mercado. Na avaliação de Stéfano Pacini, economista do FGV Ibre, o resultado indica que a indústria voltou a produzir após o início de uma normalização dos estoques, que vinham há tempos em patamares considerados excessivos, mostrando uma expectativa de melhora nos negócios futuros. O fechamento do ano, no entanto, que registrou alta de 0,2%, é um indicador de que o setor andou de lado em 2023.
Segundo dados do IBGE, as influências positivas mais importantes vieram indústrias extrativas (2,2%), produtos alimentícios (2,1%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (14,5%). Indústrias extrativas registram o segundo mês seguido de avanço na produção, período em que acumulou ganho de 5,9%.
- Parece que a indústria está confortável em normalizar seus estoques e reaquecer a produção, acreditando que vai haver uma demanda futura. Na Sondagem da Indústria, em todas as categorias de uso - bens duráveis, intermediários, de capital - há a expectativa de crescimento de demanda. A indústria, de fato, andou de lado em 2023, mas o quatro trimestre foi muito positivo. Até então a gente estava no zero a zero. Houve um sinal de fôlego. Se a gente olhar o ano todo, foi um ano difícil, mas 2024 pode ser melhor - avalia Pacini.
Apesar de afirmar ter uma visão "relativamente positiva para 2024", Igor Cadilhac, economista do PicPay, dizque há preocupações que impõem um viés baixista. Na sua lista de senões para este ano estão a projeção de um menor crescimento da economia global, os juros ainda altos e o comprometimento de renda das famílias que "são ruins para consumo de bens de maior valor agregado e dependentes de crédito". Cadilhac pondera que " o governo tem promovido políticas de estímulos à atividade econômica, que podem incentivar a indústria". Ele prevê que a produção industrial brasileira deve ter alta de 0,6% este ano.
Com uma visão mais otimista, Pacini avalia que os indicadores macroeconômicos apontados por Cadilhac estão evoluindo positivamente e a recessão global prevista há alguns meses já está praticamente descartada. Ele reforça que as sondagens feitas pelo Ibre apontam maior confiança do empresariado, o que pode se converter em investimento e novas contratações.
Para João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro, avalia que o elo frágil continua sendo o investimento, mas acredita que podem para 2024 podemos ter surpresas positivas.
"A manutenção dos cortes de juros, a taxa de câmbio bem-comportada e as novas políticas de estímulo à indústria e à infraestrutura são elementos que colaboram para um afrouxamento das condições financeiras e creditícias no país", ressalta.
Fonte: O GLOBO
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