Bruno Bianco, então titular da AGU, também agiu em busca de serenar os ânimos junto ao TSE
Um dia depois de endossar o discurso contrário ao sistema eleitoral em uma reunião com a cúpula do governo Bolsonaro — encontro que, segundo a Polícia Federal (PF), “revela o arranjo de dinâmica golpista” que orbitava o ex-presidente —, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira adotou tom oposto ao participar de uma audiência pública na Câmara dos Deputados.
Enquanto, a portas fechadas e junto dos aliados mais próximos, ele classificava a participação das Forças Armadas em uma comissão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como estar na “linha de contato com o inimigo”, publicamente o general assegurou que confiava no sistema de votação. Pouco mais tarde, no Senado, compartilhou com os parlamentares que ficava “chateado” ao ler que atacava a democracia.
Na última sexta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo do vídeo da reunião ministerial do dia 5 de julho de 2022 no Palácio do Planalto. A gravação foi considerada peça central para montar a operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF um dia antes contra Bolsonaro e figuras de seu entorno. O encontro foi marcado pela discussão de uma “alternativa” a ser executada antes das eleições caso o TSE não acatasse as sugestões do governo para as urnas eletrônicas.
Naquele dia, o general Paulo Sérgio Oliveira pediu a palavra e fez um longo discurso. Ele explicou a atuação das Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições (CTE), criada em 2021 pelo TSE, e abriu fogo contra o tribunal:
— O que eu sigo nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo (...). Vou falar e muito claro: a comissão é para inglês ver. Nunca sentou numa mesa e discutiu uma proposta.
Na avaliação da Polícia Federal, que consta na decisão de Alexandre de Moraes que autorizou a operação, as falas do general na reunião demonstram sua desconfiança em relação ao TSE e “admite que a atuação das Forças Armadas para ‘garantir transparência, segurança, condições de auditoria’ nas eleições tinha a finalidade de reeleger o então presidente Jair Bolsonaro.
As falas na reunião, porém, contrastam com o que o oficial afirmou apenas um dia depois do encontro. Na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ele disse que as sugestões das Forças Armadas ao TSE tinham “espírito colaborativo”.
— Não se está duvidando ou achando isso ou aquilo outro (sobre as urnas) — garantiu.
Menos de dez dias depois, o ministro esteve na Comissão de Transparência do Senado e manteve o estilo conciliador, distante das tramas privadas entre os bolsonaristas.
— O que se escuta muito, me deixa bastante chateado, chateado como ministro, como membro das Forças Armadas, é por vezes ouvir, ler: “ataque à democracia”. Como se nós estivéssemos atacando a democracia mostrando um produto acabado de algo interessante para o sistema eleitoral brasileiro, que é essa parte técnica — afirmou aos senadores.
O GLOBO não conseguiu localizar o advogado do ex-ministro. Já o Exército afirmou, a respeito da participação do general na reunião de 5 de julho, que Paulo Sérgio Nogueira se encontra na reserva, e que o Centro de Comunicação Social “não possui seu contato”.
Encontros com Moraes
Nas duas últimas semanas de agosto, o general ainda teve duas reuniões com Alexandre de Moraes, um dos principais alvos do bolsonarismo, que havia acabado de assumir a presidência do TSE. As agendas foram consideradas uma tentativa de “pacificar” a relação entre as Forças Armadas e a Corte eleitoral.
Outro presente à reunião de julho já havia adotado estratégia semelhante. Então advogado-geral da União, Bruno Bianco encontrou-se com Edson Fachin, antecessor de Moraes, em busca de serenar os ânimos. Interlocutores do Planalto à época afirmaram que a tentativa teve o aval do próprio Bolsonaro.
A visita de Bianco ao TSE ocorreu 17 dias depois da reunião ministerial investigada pela PF e apenas dois após o ex-presidente fazer diversos ataques infundados em um encontro com embaixadores. Enquanto aliados abrandavam o discurso, Bolsonaro dobrava a retórica:
— O senhor Barroso (Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE), também como senhor Edson Fachin, começaram a andar pelo mundo me criticando, como se eu estivesse preparando um golpe. É exatamente o contrário o que está acontecendo — afirmou Bolsonaro aos diplomatas, em meio a uma série de ilações sem provas sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral como um todo.
O episódio resultou na condenação do ex-presidente pelo próprio TSE e na consequente inelegibilidade por oito anos.
Fonte: O GLOBO
Na última sexta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo do vídeo da reunião ministerial do dia 5 de julho de 2022 no Palácio do Planalto. A gravação foi considerada peça central para montar a operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF um dia antes contra Bolsonaro e figuras de seu entorno. O encontro foi marcado pela discussão de uma “alternativa” a ser executada antes das eleições caso o TSE não acatasse as sugestões do governo para as urnas eletrônicas.
Naquele dia, o general Paulo Sérgio Oliveira pediu a palavra e fez um longo discurso. Ele explicou a atuação das Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições (CTE), criada em 2021 pelo TSE, e abriu fogo contra o tribunal:
— O que eu sigo nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo (...). Vou falar e muito claro: a comissão é para inglês ver. Nunca sentou numa mesa e discutiu uma proposta.
Na avaliação da Polícia Federal, que consta na decisão de Alexandre de Moraes que autorizou a operação, as falas do general na reunião demonstram sua desconfiança em relação ao TSE e “admite que a atuação das Forças Armadas para ‘garantir transparência, segurança, condições de auditoria’ nas eleições tinha a finalidade de reeleger o então presidente Jair Bolsonaro.
As falas na reunião, porém, contrastam com o que o oficial afirmou apenas um dia depois do encontro. Na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ele disse que as sugestões das Forças Armadas ao TSE tinham “espírito colaborativo”.
— Não se está duvidando ou achando isso ou aquilo outro (sobre as urnas) — garantiu.
Menos de dez dias depois, o ministro esteve na Comissão de Transparência do Senado e manteve o estilo conciliador, distante das tramas privadas entre os bolsonaristas.
— O que se escuta muito, me deixa bastante chateado, chateado como ministro, como membro das Forças Armadas, é por vezes ouvir, ler: “ataque à democracia”. Como se nós estivéssemos atacando a democracia mostrando um produto acabado de algo interessante para o sistema eleitoral brasileiro, que é essa parte técnica — afirmou aos senadores.
O GLOBO não conseguiu localizar o advogado do ex-ministro. Já o Exército afirmou, a respeito da participação do general na reunião de 5 de julho, que Paulo Sérgio Nogueira se encontra na reserva, e que o Centro de Comunicação Social “não possui seu contato”.
Encontros com Moraes
Nas duas últimas semanas de agosto, o general ainda teve duas reuniões com Alexandre de Moraes, um dos principais alvos do bolsonarismo, que havia acabado de assumir a presidência do TSE. As agendas foram consideradas uma tentativa de “pacificar” a relação entre as Forças Armadas e a Corte eleitoral.
Outro presente à reunião de julho já havia adotado estratégia semelhante. Então advogado-geral da União, Bruno Bianco encontrou-se com Edson Fachin, antecessor de Moraes, em busca de serenar os ânimos. Interlocutores do Planalto à época afirmaram que a tentativa teve o aval do próprio Bolsonaro.
A visita de Bianco ao TSE ocorreu 17 dias depois da reunião ministerial investigada pela PF e apenas dois após o ex-presidente fazer diversos ataques infundados em um encontro com embaixadores. Enquanto aliados abrandavam o discurso, Bolsonaro dobrava a retórica:
— O senhor Barroso (Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE), também como senhor Edson Fachin, começaram a andar pelo mundo me criticando, como se eu estivesse preparando um golpe. É exatamente o contrário o que está acontecendo — afirmou Bolsonaro aos diplomatas, em meio a uma série de ilações sem provas sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral como um todo.
O episódio resultou na condenação do ex-presidente pelo próprio TSE e na consequente inelegibilidade por oito anos.
Fonte: O GLOBO
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POLÍTICA