Presidente deu ao ministro de Minas e Energia a missão de convencer os principais acionistas da mineradora a abrir uma vaga na cúpula da mineradora para o ex-ministro da Fazenda
A nova estratégia do governo é acomodar Mantega no Conselho de Administração — em vez de no posto de CEO da mineradora, como chegou a ser cogitado nos bastidores do Planalto. Em troca, o governo apoiaria a manutenção do atual CEO, Eduardo Bartolomeo, no comando da Vale.
A articulação é lida por gestores do mercado financeiro que têm participação na companhia como um ajuste de rota capaz de tornar realidade um plano até então classificado de inviável. Para executivos que trabalham no Leblon e na Faria Lima, sede de boa parte das empresas de investimento do país, a estratégia é factível e poderia ser aprovada por outros acionistas financeiros, especialmente estrangeiros, como as gestoras BlackRock e Capital.
Um interlocutor dos principais acionistas da Vale observa que a hipótese de transformar Mantega em novo CEO da companhia foi lida, desde o ano passado, como “um balão de ensaio estapafúrdio”. Já a possibilidade de torná-lo apenas conselheiro “é algo que para de pé” e tem caminhos claros para se concretizar.
Péssimo seria a presidência
A opção, aliás, não é vista como necessariamente prejudicial à mineradora, avalia o dono de uma gestora carioca que tem ações da Vale e falou sob a condição do anonimato:
— Colocá-lo como CEO seria praticamente impossível, mas, no Conselho, o governo consegue. Não seria uma ameaça em si, uma vez que o governo é acionista indireto e já tem dois assentos via Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil). O que seria péssimo é transformá-lo em presidente do Conselho. Isso é um consenso entre investidores e enfrentaria a oposição de acionistas como a Cosan.
Governo quer que MAntega ingresse no Conselho da Vale — Foto: Givaldo Barbosa/O Globo
A negociação em curso incluiria ainda a indicação de Luís Henrique Guimarães, ex-presidente do grupo Cosan, para a diretoria da companhia. Guimarães é membro do Conselho da Vale desde abril de 2023 e sua saída abriria uma vaga para Mantega no colegiado.
O grupo Cosan, controlado pelo empresário Rubens Ometto — gigante do açúcar e do etanol, com negócios também na distribuição de combustíveis e na logística ferroviária — anunciou o investimento numa fatia da Vale em outubro de 2022 e tem trabalhado para ampliar a influência na gestão da companhia.
Por ora, segundo fontes, as tratativas do governo se desenrolam no âmbito político. A articulação ainda não foi levada ao Conselho nem foi posta em prática uma estratégia de convencimento dos acionistas.
O governo tem o apoio explícito da Previ, maior acionista individual da Vale, com quase 9%. Na chapa de conselheiros eleita em abril de 2023, o fundo de pensão emplacou dois membros, incluindo o atual presidente da fundação, João Fukunaga.
A aprovação do nome de Fukunaga como integrante da chapa foi citada como análoga a uma eventual indicação de Mantega. Segundo uma das fontes ouvidas pelo GLOBO, Fukunaga teria currículo insuficiente para estar no cargo.
Na verdade, a aprovação do nome de Mantega poderia ser mais fácil. Como todos no colegiado da Vale foram eleitos ou reeleitos na assembleia de abril de 2023, nenhum conselheiro está em fim de mandato. Para Mantega entrar, alguém teria que renunciar e, conforme o estatuto, um substituto seria escolhido pelo próprio Conselho.
— É fácil eleger assim. É diferente de incluir o nome (de Mantega) numa chapa — disse uma fonte a par dos planos mais recentes do governo.
Fonte: O GLOBO
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