Nunes faz dobradinha com Tarcísio em ofensiva contra Enel enquanto adversários culpam prefeito por falta de luz

Nunes faz dobradinha com Tarcísio em ofensiva contra Enel enquanto adversários culpam prefeito por falta de luz

Emdebista cobrará auditoria do TCU em contrato de concessão da distribuidora. Boulos e Tabata usam poda de árvores para atacar o rival

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), reforçou nas últimas semanas suas críticas à Enel, concessionária responsável pela distribuição de energia elétrica na cidade, numa estratégia que visa a minimizar os danos que as recorrentes quedas de luz na capital paulista podem representar para sua candidatura à reeleição. O emedebista viaja nesta quarta-feira a Brasília para pedir ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma auditoria no contrato da empresa com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e cobrar sanções.

Nunes já acionou a Justiça contra a Enel, chamou o presidente da empresa de “mentiroso” e defendeu a rescisão do contrato de concessão, que é válido até 2028. Na semana passada, no aniversário de São Paulo, disse que cortou o diálogo com a distribuidora e apoiou a proposta de convocação dos executivos da empresa para depor no Congresso Nacional.

O prefeito ganhou neste mês o apoio público de Tarcísio de Freitas (Republicanos) na campanha contra a concessionária. O governador vinha adotando tom moderado ao se referir à Enel desde novembro, quando milhões de moradores da região metropolitana ficaram sem luz após um vendaval. Publicamente, Tarcísio direcionava suas críticas ao acordo assinado pela União em 1998, durante o governo FHC, classificado por ele como “malfeito”. Já no dia 16 deste mês, em entrevista concedida ao lado de Nunes, o governador declarou que a Enel “deixa o paulistano na mão” e se disse favorável à rescisão do contrato.

Enquanto Nunes busca culpar a empresa, adversários políticos do prefeito têm promovido o discurso de que o emedebista tem responsabilidade pelos frequentes apagões na cidade. A campanha do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) distribui panfletos onde se lê: "São Paulo no escuro: a culpa é do prefeito!". O material atribui as quedas de energia à demora na poda de árvores e tira de contexto uma declaração feita por Nunes em novembro, quando o prefeito disse que moradores poderiam pagar uma taxa de contribuição voluntária para propor o enterramento de fios em determinadas regiões. "Nunes quer te taxar. (...) Nós não vamos pagar mais essa conta", diz o panfleto.

— A reação do prefeito mostra que ele sente a necessidade de se desvencilhar desse tema, que há um desgaste. Parte da responsabilidade por essa situação é da prefeitura, que não poda as árvores. Cada um deve responder pelas suas atribuições, e nesse ponto a prefeitura tem falhado — diz o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT), integrante do conselho político da campanha de Boulos.

O expediente de responsabilizar o prefeito pelas quedas de energia também já foi adotado pela deputada Tabata Amaral (PSB-SP) em publicações nas redes sociais. No entorno da pré-candidata, há o entendimento de que o tema será relevante nas eleições, mesmo após a temporada de chuvas, e de que Nunes tenta "transferir responsabilidades".

— Ele (Nunes) está tentando se descolar, mas a prefeitura tem que exigir a boa prestação de serviços públicos. Isso tem que partir do poder público, inclusive da gestão estadual. O prefeito sabe que existe uma insatisfação grande e quer transferir responsabilidades — diz Marcelo Arbex, um dos responsáveis pela comunicação da campanha de Tabata.

O secretário de Governo da gestão Nunes, Edson Aparecido, rebate as acusações e diz que os adversários do prefeito promovem uma “narrativa mentirosa”:

— Só a Enel é responsável por essa situação, não a prefeitura. O papel de fiscalizar o contrato com a empresa é do governo federal, mas a Aneel não faz nada, é omissa, e aposta que o desgaste recaia sobre o prefeito. As pessoas que atacam o Nunes de modo desonesto são as mesmas que integram esse governo que não fiscaliza.

Na Câmara Municipal, uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga a atuação da Enel pode colaborar com o discurso Nunes. O presidente do colegiado, vereador João Jorge (PSDB), é aliado do prefeito e migrará para um partido da base de Nunes na próxima janela partidária, entre março e abril. A comissão convocou o presidente da empresa em São Paulo, Max Xavier Lins, para prestar depoimento na próxima quinta-feira (8).

— Tenho conversado com o prefeito para criarmos condições de forçar a Enel a melhorar a qualidade dos serviços. Pode ser que ao final dos trabalhos a gente também peça à Aneel o cancelamento do contrato de concessão. A Tabata e o Boulos deveriam se voltar ao governo federal. O Boulos, especialmente, em vez de apontar o dedo para o prefeito, deveria perceber que é cúmplice dessa falta de manifestação da União — diz o vereador.

Procurada pelo GLOBO, a Enel disse que mantém "atuação colaborativa e conjunta com as autoridades públicas, visando oferecer um adequado serviço aos seus clientes e à sociedade". "Nesse sentido, está sempre aberta e disponível para ações integradas e parcerias”, completou, em nota.


Fonte: O GLOBO

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