Macron pede que UE suspenda negociação com Mercosul, e comissão diz que condições para acordo 'não estão reunidas'

Oposição do presidente francês se intensificou, em meio a protestos de produtores agrícolas na França. Eles querem alívio nos custos e acusam países estrangeiros de concorrência desleal

A Comissão Europeia disse nesta terça-feira que as condições para conclusão do acordo entre União Europeia e Mercosul "não estão reunidas". A afirmação ocorre após o presidente da França, Emmanuel Macron, ter pedido ao bloco que interrompa as negociações para a implementação da parceria. Macron enfrenta uma onda de protestos de agricultores, que pressionam o governo por alívio nos custos e acusam outros países de concorrência desleal.

Na semana passada, Macron contatou a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, solicitando o término das atuais negociações, de acordo com fontes. Na noite desta segunda-feira, um porta-voz da presidência francesa confirmou o pedido.

— O presidente expressou, em diversas ocasiões, sua oposição muito clara à conclusão do acordo a Von der Leyen — declarou o porta-voz à AFP, acrescentando que a Comissão "entendeu que era impossível fechar" um acordo diante das condições atuais.

— Entendemos que (Marcon) deu instruções a seus negociadores para que coloquem fim às sessões de negociação que estavam em curso no Brasil e, em particular, a visita que o vice-presidente da Comissão havia previsto em caso de conclusão — acrescentou.

De acordo com a Bloomberg, o recado de Macron para a líder da UE foi de que o acordo não deveria ser concluído a menos que os agricultores dos quatro países do Mercosul estejam sujeitos às mesmas normas ambientais que os da Europa.

Nesta terça-feira, a Comissão Europeia disse ainda não é possível fechar o acordo:

- Atualmente, a análise da comissão é que as condições para concluir as negociações com o Mercosul não estão reunidas, mas a UE continua determinada a alcançar o acordo - afirmou o porta-voz da comissão, Eric Mamer.

Duas décadas de negociações

As negociações entre a UE e os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) têm mais de duas décadas. Em 2019, foi anunciado um acordo, mas nunca foi implementado devido a novas exigências ambientais da UE.

Manifestantes bloqueiam estradas francesas pelo segundo dia consecutivo — Foto: Bertrand Guay/AFP

A ação de Macron é, em última análise, um esforço para acalmar os agricultores franceses, que começaram a bloquear estradas ao redor de Paris com seus tratores. O objetivo é pressionar o governo por mais concessões que aliviem os crescentes custos e a burocracia.

Muitos manifestantes também apontam o que descrevem como concorrência desleal de países estrangeiros, facilitada por acordos de livre comércio como o Mercosul.

Na semana passada, cerca de cem parlamentares do partido de Macron enviaram uma carta a Von Der Leyen alertando sobre os "perigos" do Mercosul para os agricultores franceses, rotulando-o como "anacrônico".

Viagem ao Brasil

Em uma conferência da ONU sobre o clima em Dubai, em dezembro, Macron já havia afirmado que as concessões ambientais obtidas pelo bloco não eram suficientes, acrescentando que os produtos importados dos países do Mercosul teriam "uma pegada de carbono repugnante".

Por outro lado, o chanceler alemão, Olaf Scholz, tem pedido publicamente uma conclusão rápida das negociações.

Macron planeja viajar para o Brasil em março. Uma fonte próxima ao presidente disse que ele confia que sua posição sobre o Mercosul não afetará o relacionamento com Brasília.


Fonte: O GLOBO