Ataque contra o KyoAni, em 2019, deixou 36 mortos; réu ficou com 90% do corpo queimado durante o atentado
O incêndio que devastou os estúdios Kyoto Animation há quatro anos e meio foi o crime mais mortal em décadas no Japão, e chocou os fãs de anime dentro e fora do país.
Na manhã de 18 de julho, Shinji Aoba, agora com 45 anos, forçou a entrada no prédio, jogou gasolina no chão, acendeu-o e gritou “caiam mortos”, segundo relatos dos sobreviventes.
— O ato de derramar uma enorme quantidade de gasolina e atear fogo é extremamente provável que seja letal, e imolar pessoas é verdadeiramente cruel e desumano — disse o presidente do tribunal, Keisuke Masuda, em sua decisão.
Tribunal Distrital de Kyoto decidiu pela pena de morte nesta quinta — Foto: Jiji Press/AFP
Muitos dos mortos eram jovens, incluindo uma mulher de 21 anos.
— [As vítimas] foram engolfadas pelo fogo e pela fumaça num piscar de olhos (…) Tiveram uma morte agonizante quando o estúdio subitamente pegou fogo— acrescentou.
Várias vítimas foram encontradas em uma escada em espiral que conduzia ao telhado do edifício, sugerindo que estavam enfraquecidas enquanto tentavam desesperadamente escapar.
— Houve uma pessoa que pulou do segundo andar (…) mas não pudemos ajudá-lo porque o fogo era muito forte — disse uma mulher à imprensa local na época do crime. — Foi como olhar para o inferno.
Mais de 30 pessoas ficaram feridas. Os bombeiros consideraram o incidente “sem precedentes” e disseram que resgatar as pessoas que estavam lá dentro foi “extremamente difícil”.
Delírio
Aoba foi preso perto do local do acidente e enfrentou cinco acusações, incluindo homicídio, tentativa de homicídio e incêndio criminoso. A promotoria exigiu a pena capital.
Seus advogados tentaram obter a declaração de inocência afirmando que ele “não tinha capacidade de distinguir entre o certo e o errado, nem de parar de cometer o crime devido a um transtorno mental”.
Réu condesso ficou com 90% do corpo queimado durante o ataque — Foto: Jiji Press/AFP
Mas na quinta-feira, o juiz determinou que Aoba “não era louco nem tinha capacidade mental diminuída no momento do crime”, segundo a NHK.
No tribunal, repleto de familiares das vítimas, uma pessoa gritou e cobriu os olhos com as mãos enquanto o magistrado lia a sentença, informou esta rede.
— Não pensei que tantas pessoas iriam morrer e agora acho que fui longe demais — disse Aoba ao tribunal distrital de Kyoto quando o julgamento começou em setembro.
Aoba tinha a “ilusão” de que o estúdio, conhecido como KyoAni, roubou suas ideias, disseram os promotores, alegação que a empresa negou.
Aoba sofreu queimaduras em 90% do corpo e só recuperou a consciência e a fala semanas depois. Segundo a imprensa, ele precisou de 12 cirurgias para se recuperar.
Apoio e reconstrução
Fundada em 1981, KyoAni era um estúdio bastante conhecido entre os fãs de anime, responsável por séries de televisão populares como “Suzumiya Haruhi” e “K-ON!”. Após o ataque, uma empresa de animação americana arrecadou US$ 2,4 milhões (R$ 11,8 milhões no câmbio de hoje) para ajudar o estúdio japonês a se recuperar.
O presidente do estúdio, Hideaki Hatta, comemorou o veredicto, mas disse que pensar em todos os funcionários que morreram partia seu coração. Em frente ao tribunal, dezenas de fãs do estúdio aguardavam o veredicto sob a neve.
— Espero que isso expanda o nome de KyoAni e leve seu trabalho para mais pessoas e que mais pessoas o conheçam. Ficarei feliz —disse Renji Kiriyama, 27 anos.
Pena de morte no Japão
O Japão é um dos poucos países desenvolvidos que ainda utiliza a pena capital, geralmente em casos de homicídio com mais de uma vítima. O nível de apoio da população a esta punição é elevado.
No entanto, grupos de direitos humanos criticam estas sentenças e a forma como são executadas, informando frequentemente os prisioneiros na mesma manhã de que serão enforcados.
A última execução ocorreu em 2022. Em dezembro, 107 presos estavam no corredor da morte. Um dos casos mais notórios dos últimos anos foi em 2018, quando o Japão enforcou 13 pessoas de uma seita pelo ataque com gás sarin no metrô de Tóquio em 1995.
Fonte: O GLOBO
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