IPCA: após dois anos, inflação volta a ficar dentro da meta e fecha 2023 em 4,62%

IPCA: após dois anos, inflação volta a ficar dentro da meta e fecha 2023 em 4,62%

Foi o menor valor acumulado no ano desde 2020. Em dezembro, índice subiu 0,56%, puxado por alimentos

A inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou dentro da meta em 2023 após dois anos de descumprimento. O índice fechou o ano com alta de 4,62%, a menor desde 2020. Em dezembro, o índice acelerou e subiu 0,56%. As informações foram divulgadas na manhã desta quinta-feira pelo IBGE.

A meta estabelecida pelo governo, e que orientava a política de juros do Banco Central, era de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo - ou seja de 1,75% a 4,75%. Esta é a primeira vez, após dois anos, que a inflação encerra dentro da banda projetada.

Inflação perde força em 2023; Alimentos tem menor alta desde 2017

Os números apontam que os preços no país seguiram uma trajetória de desaceleração - a chamada "desinflação", como dizem os economistas. O indicador subiu menos ao longo de 2022 e 2023 após uma escalada dos preços entre 2020 e 2021 em meio à pandemia, que elevou custos das cadeias globais de suprimentos. Gradualmente o IPCA foi "perdendo força", apesar de certo aumento da demanda pressionar custos de bens e serviços.

Boa parte desse alívio nos preços veio dos alimentos e bebidas, que tem maior peso no índice, e teve ligeira alta de 1,03% em 2023. Foi o menor valor registrado desde 2017, quando fechou aquele ano com queda de 1,87%. O óleo de soja ficou 28% mais barato no ano passado, seguido do frango em pedaços (-10,12%) e das carnes (-9,37%).

— O grupo de produtos alimentícios ajudou a segurar o índice de 2023. A queda na alimentação no domicílio reflete as safras boas e a redução nos preços das principais commodities no mercado internacional, como a soja e o milho — analisa o gerente do IPCA, André Almeida.

Outra boa notícia foi a inflação de serviços, que cedeu para 6,22% em 2023 e foi a menor desde 2021. O segmento abarca diferentes preços - desde refeições em restaurantes e aluguel, até consulta médica, escolas, passagem aérea e serviços de beleza. E são justamente estes serviços que são acompanhados de perto pelo Banco Central (BC), pois quando sobem de preço, a tendência de desaceleração é lenta.

Por outro lado, os chamados itens "monitorados" (que são fixados pelo governo, agências reguladoras ou por empresa estatal) foram os principais 'vilões' da inflação em 2023. O grupo de maior impacto no ano foi Transportes (7,14%), cujo resultado foi puxado pela gasolina, que ficou 12% mais cara.

Boa parte do aumento se deve à retomada dos impostos federais sobre o produto pelo governo Lula, após o ex-presidente Jair Bolsonaro cortar tributos no período eleitoral, em 2022.

— Vale lembrar que a gasolina teve o impacto da reoneração dos tributos federais e das alterações nas cobranças do ICMS — destaca Almeida.

Também pesou na inflação o emplacamento e licença, que subiu 21,22% no ano. Segundo o IBGE, o aumento se deve ao IPVA mais caro em 2023, que reflete os preços dos automóveis em 2022. As passagens aéreas também puxaram o índice, com alta de 47,24%.

Planos de saúde, energia elétrica e taxa de água e esgoto também pressionaram o IPCA no ano. Almeida, do IBGE, lembra que esses itens foram bastante afetados pelos reajustes tarifários - seja da ANS, no caso dos planos de saúde, ou das concessionárias, que aplicaram aumentos aos consumidores.

Em dezembro, IPCA sobe 0,56%

Em dezembro, o IPCA acelerou e subiu 0,56%, com todos os grupos pesquisados registrando alta no período. A maior delas veio do grupo alimentação e bebidas, que subiu 1,11%. Só esse grupo foi responsável por 0,23 ponto percentual da inflação no mês.

Preços de itens que compõem a cesta básica, como o feijão-carioca e o arroz, subiram 14% e 6%, respectivamente. Já a batata-inglesa e as frutas subiram 19% e 3%, na sequência. O leite longa vida, porém, caiu pelo sétimo mês seguido.

Segundo Almeida, do IBGE, a produção do arroz foi impactada pelo clima desfavorável. Já o feijão mais caro tem relação com o clima adverso, redução da área plantada e aumento do custo de fertilizantes.

— O aumento da temperatura e o maior volume de chuvas em diversas regiões do país influenciaram a produção dos alimentos, principalmente dos in natura, como os tubérculos, hortaliças e frutas, que são mais sensíveis a essas variações climáticas — explica o gerente.

O grupo Transportes foi o segundo que mais contribuiu para a alta em dezembro, com avanço de 0,48%. Muito demandadas no fim de ano por conta das férias e das datas comemorativas, as passagens aéreas subiram pelo quarto mês seguido e puxaram o resultado, com alta de 8,87% em dezembro. Os combustíveis, por outro lado, tiveram queda: diesel, etanol, gasolina e GNV tiveram quedas entre 0,21% e 1,96%.

Já o grupo Habitação ficou em 0,34% no mês, com destaque para as altas da energia elétrica residencial (0,54%), da taxa de água e esgoto (0,85%) e do gás encanado (1,25%). Os demais grupos da pesquisa do IBGE - que inclui Artigos de residência, Vestuário, Despesas pessoais, Educação, Comunicação e Saúde e cuidados pessoais - variaram entre 0,04% e 0,76%.

O que esperar de 2024?

Analistas esperam alguma pressão sobre preços, principalmente de alimentos, no mês de janeiro. Mas o cenário para o ano em geral é de alívio no indicador - com bens duráveis e serviços sem grandes altas, sendo impactados pela desaceleração global e pelo efeito dos juros ainda altos no país.

Segundo relatório do Santander, as coletas de preços no atacado mostraram que os preços de alimentos sofreram um choque nas últimas semanas por conta de eventos climáticos relacionados com o El Niño. Mas estas mesmas pesquisas já indicam um arrefecimento no valor dos itens, o que mostra que o efeito teve curta duração e deve fazer com que a inflação ao consumidor volte a uma dinâmica favorável.

O resultado do IPCA de 2023 também não deve alterar a rota do Banco Central de seguir reduzindo a taxa básica de juros, a Selic, em 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões do Copom.

"Essas perspectivas contribuem para manter a trajetória da Selic rumo a 9% no final de 2024, por meio de quedas de 50 pontos-base por reunião do Copom até o final do primeiro semestre e mais uma redação de 25 pontos no início do terceiro trimestre", afirma o economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, em relatório.

Economistas ficam de olho, contudo, na taxa de juros dos Estados Unidos. "Para que a probabilidade de aceleração no ritmo de afrouxamento monetário aumente, será necessária maior clareza sobre cortes do Fed ainda no primeiro trimestre de 2024", informou relatório da Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander.


Fonte: O GLOBO

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