Diante de crises, governo mira em campanha sobre segurança pública

Diante de crises, governo mira em campanha sobre segurança pública

Plano da gestão petista envolve mostrar perda de patrimônio de grupos paramilitares e do crime organizado no Brasil e exaltar agentes da PF e da PRF

Questão sensível para o Planalto, a segurança pública será tema da primeira campanha publicitária do governo em 2024. Com o mote Brasil Unido Contra o Crime, o plano é mostrar que somente no ano passado o crime organizado e as milícias perderam R$ 6 bilhões em patrimônio, incluindo imóveis, veículos, aeronaves e dinheiro durante operações das forças de segurança.

As peças da campanha vão exaltar ações da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e das Forças Armadas nas fronteiras, em portos e aeroportos e estão sendo produzidas para rádio, televisão e internet. A previsão era que a divulgação do material começasse em dezembro, mas o governo optou por esticar as campanhas que visam à redução da polarização no país.

Em dezembro, uma pesquisa da Quaest em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais publicada pelo GLOBO mostrou que a sensação de insegurança havia crescido na avaliação da população. Oito em cada dez brasileiros veem agravamento da violência no país nos 12 meses de 2023. A mesma fatia (81%) avalia que a segurança pública e o crime organizado são problemas nacionais e as facções criminosas têm ganhado força (83%).

A sensação de que a criminalidade avançou, aponta a Quaest, é alta tanto entre eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto entre os do ex-chefe do Planalto Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022, embora seja maior no segundo grupo (71% a 88%). O levantamento mostra ainda que a atuação do governo petista da área de segurança divide os brasileiros: 43% acham que o presidente vai melhor do que o adversário; 43% consideram que o desempenho é pior. Apesar dos dados, os índices de criminalidade como homicídio doloso e latrocínio, caíram de janeiro a outubro do ano passado se comparados com o mesmo período de 2022, segundo dados do Ministério da Justiça. 

As crises na segurança sobretudo em estados como a Bahia, governado pelo petista Jerônimo Rodrigues, e o Rio de Janeiro, administrados por Cláudio Castro (PL), aliado de Bolsonaro, reacenderam a discussão sobre a separação do Ministério da Justiça e Segurança Pública. 

Embora o debate tenha esfriado, há uma leitura entre auxiliares do presidente que o governo precisa demonstrar uma atitude mais forte ao abordar o tema e que, embora a atribuição de policiamento seja dos estados, a população acaba atribuindo também a Lula as crises de segurança pública. Outra preocupação é de que recrudescimento de casos deem fôlego ao discurso bolsonarista em ano de eleições municipais.

Evolução do registro de posse de armas de fogo no Brasil — Foto: Editoria de Arte

Alta na sensação de insegurança — Foto: Editoria de Arte

Percepção sobre a insegurança aumentou entre os brasileiros — Foto: Editoria de Arte

Recortes da violência em 2022 e 2023 — Foto: Editoria de Arte

Expectativa

A campanha Brasil Unido Contra o Crime deverá ir ao ar no momento em que Lula decidir quem será substituto de Flávio Dino no Ministério da Justiça. A expectativa é de que o presidente resolva a questão na próxima semana, perto da data que marcará um ano dos ataques do 8 de Janeiro. No Palácio do Planalto, os dois nomes favoritos ao posto são do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski e do coordenador do Grupo Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho.

Ambos têm apoio do PT e são nomes de confiança do presidente. Lewandowski foi presidente do STF e é considerado um dos poucos juristas que falaria de igual para igual com qualquer ministro do Supremo. 

Já Carvalho é militante petista e vem conquistando apoios do MDB e de movimentos sociais. Lula tem indicado buscar um perfil que tenha, ao mesmo tempo, energia para o debate da segurança pública, pauta capturada pelo bolsonarismo, e seja conciliador, capaz de construir pontes com diferentes instituições. 

A ideia é devolver ao Ministério da Justiça o perfil que a pasta tinha sob o comando de Marcio Thomaz Bastos, que foi titular entre 2003 e 2007, no primeiro mandato do petista, e se tornou um dos principais conselheiros jurídicos de Lula.

Ocupando o comando interino da pasta, o secretário-executivo, Ricardo Cappelli, tem capitalizado ações do Ministério, como a queda nos índices de violência do país e o sucesso do programa Celular Seguro, que teve um milhão de cadastrados.

Movimentação

Cappelli deu entrevistas projetando a redução do índice de homicídios no Brasil e, nas redes sociais, tem buscado exaltar os resultados da pasta: “Pauta da extrema direita? Por quê? Reduzimos homicídios e os demais indicadores da segurança pública em 2023. O extremismo prepara uma candidatura “da segurança” no Rio e testa uma em SP. O que fizeram para as polícias? Nada. Resultados na área? Nada. Temos que fazer este debate.”

A permanência de Cappelli como ministro da Segurança é vista como improvável por auxiliares do presidente. No entanto, há movimentação para que o secretário permaneça no MJ, ocupando o comando da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), a principal pasta do ministério.

Cappelli teve sua conduta elogiada ao assumir a intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal, após os atos golpistas de 8 de janeiro, e ao comandar interinamente o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) depois da saída do general Gonçalves Dias, porém, acabou sofrendo uma série de desgastes com o PT durante os meses que antecederam a indicação de Flávio Dino ao STF.

No entanto, não há disposição nem de Lewandowski nem de Carvalho para permanência de Cappelli — ambos sinalizam preferência por autonomia na montagem da equipe, na hipótese de serem indicados.


Fonte: O GLOBO

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