Berço da maior lenda do boxe brasileiro, centro desportivo Baby Barioni tem megaestrutura subutilizada por falta de professores

Berço da maior lenda do boxe brasileiro, centro desportivo Baby Barioni tem megaestrutura subutilizada por falta de professores

Sem aulas, espaço de 35 mil m² fica deserto em grande parte dos dias

Legado olímpico da Rio 2016 na cidade de São Paulo e considerado por muitos o "templo do boxe", por ter sido o berço de talentos como Éder Jofre, maior pugilista brasileiro de todos os tempos, e Adilson Maguila, o Complexo Desportivo Baby Barioni, na Zona Oeste paulistana, sofre com a falta de professores e equipamentos em manutenção, mesmo após reforma que durou quase oito anos. 

Na ausência de oferta de aulas, o espaço de 35 mil m² permanece deserto em grande parte dos dias, com a megaestrutura esportiva de quadras, piscinas e alojamentos subutilizada.

O Baby Barioni foi fechado para reforma em 2014, sob a promessa de ser um centro de treinamento para atletas que disputassem as Olimpíadas de 2016, que aconteceu no Rio. Depois, se tornaria um legado olímpico para a capital paulista. 

Mas os planos foram frustrados, e a reforma acabou se arrastando até dezembro de 2022, quando o espaço foi reinaugurado pelo governador em exercício, Carlão Pignatari (PSDB), então presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Os investimentos no complexo, na ordem de R$ 34,4 milhões, serviram para repaginar áreas como a piscina coberta e os alojamentos. Além de criar uma pista de skate que não existia antes.

Todo esse potencial, porém, está longe de ser explorado em sua totalidade. O GLOBO esteve no local e foi informado por funcionários da segurança de que a única modalidade oferecida no complexo atualmente é a natação — e para um grupo seleto que já sabe nadar ao menos três estilos. As demais aulas não estão acontecendo por falta de professores. 

Em anos anteriores, o conjunto desportivo recebia inscrições para cursos gratuitos de diversas categorias esportivas, entre elas, musculação, futsal, vôlei, patinação, tênis de mesa, handebol e basquete.

Em nota, o governo paulista disse que, até o fim de março, a secretaria de Esportes vai abrir chamamento público para contratação de Organização de Sociedade Civil para a gestão de todo o complexo esportivo, que abrigará modalidades aquáticas, esportes de quadra, lutas, skate e desporto olímpico e paralímpico. 

"A pasta já havia promovido um chamamento no segundo semestre de 2023, porém a OSC participante não cumpriu as exigências do edital. Já a pista de skate está em fase final de melhorias e deverá ser liberada em até 20 dias", informou a gestão Tarcísio de Freitas.

Nos últimos dias, o acesso às dependências do complexo estava bloqueado, e uma folha A4 colada na parede informava manutenção na piscina "por tempo indeterminado". A pista de skate, que era uma das mais utilizadas no pós-reforma, também está fechada para reparo.

Sem uma recepção formal, funcionários da segurança se revezam para atender ao público logo na entrada. Eles ficam sentados numa mesa de plástico improvisada. Os servidores logo informam que a única modalidade para a qual é possível se inscrever é a natação, e dentro dos critérios pré-estabelecidos. 

Quem tiver interesse, deve preencher à mão uma ficha com dados como nome e telefone. Os servidores também entregam um pedaço de papel com um endereço de e-mail para onde é possível enviar possíveis dúvidas.

'Ninguém conhece'

Frequentadora assídua do Baby Barioni nos anos 1990, a cientista social Marisa Villi, de 38 anos, não escondeu a felicidade quando soube que o complexo finalmente reabriria, em dezembro de 2022, após tantos anos de portas fechadas. Sócia da Urbã Cozinha Vegana, restaurante que fica a apenas 20 metros do equipamento estadual, ela imaginou que pudesse reviver os tempos de infância, quando fez aulas de natação no centro esportivo e pôde acompanhar grandes competições esportivas.

A cientista social Marisa Villi, de 38 anos, não conseguiu uma vaga para fazer aulas de natação no conjunto desportivo Baby Barioni — Foto: Bianca Gomes/O Globo

— Eu fiquei muito animada e logo fui me inscrever. No entanto, ao chegar, encontrei apenas o pessoal da segurança e os trabalhadores do museu (das Culturas Indígenas, que fica no complexo e foi inaugurado em julho de 2022). Perguntei sobre atividades esportivas, e me informaram que ainda não havia funcionários disponíveis. Disseram que as inscrições abririam em fevereiro de 2023 — lembra ela. 

— Em fevereiro eu retornei, preenchi uma ficha com meus dados, indicando interesse na modalidade. Quase cinco meses depois, recebi um e-mail informando sobre o teste para a natação, marcado para uma sexta-feira às 8h. Respondi dizendo que estava em uma viagem de trabalho e não poderia participar. Questionei se haveria outra opção de data, mas nunca me retornaram.

Marisa é também cofundadora da ONG Rede Conhecimento Social e chegou a enviar e-mails ao complexo perguntando se poderia utilizar as quadras em atividades em horários livres. Mas foi novamente ignorada. A cientista social conta que, no passado, o complexo era sempre movimentado, mas que após as reformas muitos moradores da região esqueceram da sua existência.

—As pessoas nem sabem que o Baby Barioni existe, porque parou a movimentação. Eu fico com pena, tenho muita saudade do espaço — diz ela, que vê poucas atividades no local. — Às vezes vemos competições, uma vez teve um baile da terceira idade. Mas é pouco comparado ao que já foi no passado. A única movimentação realmente espontânea era na pista de skate.

Reconhecido como um santuário do boxe no Brasil, o Baby Barioni foi cenário de prestigiosos torneios, a exemplo do Forja dos Campeões, que impulsionou alguns dos principais talentos da modalidade, e o Luvas de Ouro. Por seu ginásio, passaram figuras renomadas como Éder Jofre, Maguila, Acelino Freitas, conhecido como "Popó", e Esquiva Falcão , conhecido medalhista olímpico.


Fonte: O GLOBO

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