Conselho de Administração decidirá, até a semana que vem, se renovará mandato de Eduardo Bartolomeo ou iniciará seleção de outro comandante para a mineradora. Lula mantém pressão por Mantega
Desde o início do novo governo Lula, no ano passado, conversas de bastidores dão conta de que o Planalto gostaria de fazer do ex-ministro Guido Mantega o substituto de Bartolomeo, mas o atual CEO já declarou publicamente que quer permanecer.
Como mostrou o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, as pressões por parte do governo aumentaram nesta quarta-feira, dia 24, com ligações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a representantes de acionistas em nome de Lula.
Há articulações de alternativas, como a recondução do ex-presidente da Vale Murilo Ferreira ao comando da mineradora. Ele dirigiu a empresa durante governos do PT e ficou conhecido pelo bom trânsito com políticos.
Conforme a política de sucessão da empresa, o Comitê de Pessoas e Remuneração é responsável por "conduzir o processo de avaliação e/ou sucessão" do CEO e por "emitir recomendação para deliberação" do Conselho. A decisão final sobre a renovação do contrato de Bartolomeo ou sua substituição será tomada pelo Conselho como um todo, em votação, na semana que vem.
Conselho tem reunião já marcada para o dia 31
O Conselho da Vale tem reunião, já marcada, no próximo dia 31, quarta-feira da semana que vem. A sucessão de Bartolomeo segue fora da pauta, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, mas o item poderá ser incluído nas deliberações a qualquer momento – uma das fontes disse que deverá ser convocada uma reunião extraordinária, só para tratar da sucessão, um ou dois dias antes.
Caso a decisão seja pela substituição de Bartolomeo, será iniciado um processo seletivo, com apoio de "empresa de padrão internacional, reconhecida por sua expertise na seleção de executivos globais". A consultoria, então, elaboraria uma lista tríplice com nomes de candidatos para o cargo, a partir da qual o Conselho escolherá.
Uma decisão precisa ser tomada até a semana que vem porque, pela política de sucessão, o processo "deve ser iniciado entre 6 e 4 meses antes do vencimento do prazo de gestão (mandato)" do atual CEO. O mandato de Bartolomeo termina no fim de maio.
Disputa inflamada
A proximidade do fim do mandato do CEO vem inflamando as disputas entre acionistas da Vale, mais abertas desde que a mineradora se tornou uma corporação sem controle definido, em 2020. Acionistas financeiros, como fundos de investimento estrangeiros, ganharam poder.
Mais recentemente, a entrada do grupo Cosan, gigante do açúcar e etanol, no fim de 2022, e a volta do PT ao governo federal, no início de 2023, agitaram o quadro, como mostra a pressão do governo pelo nome de Mantega.
Com a pulverização do capital e a saída do BNDES do capital de mineradora, em 2021, o governo perdeu influência direta sobre a Vale, mas ainda tem poder indireto porque mineradoras dependem de concessões, desde lavras de minas, passando por licenciamento ambiental e operações de ferrovias.
Pressão do governo para levar Mantega ao comando da Vale tem marcado as disputas entre acionistas da mineradora — Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados/22-05-2019
Alternativa em articulação
Na semana passada, veio a público uma articulação alternativa. Nela, o governo indicaria Mantega como membro do Conselho, já que dificilmente o currículo do ex-ministro seria avalizado pela consultoria de recrutamento para o cargo de CEO, e aceitaria a renovação do mandato de Bartolomeo.
O plano dependeria da renúncia de algum dos 13 atuais membros do Conselho da Vale, o que também poderia ser um obstáculo.
Murilo de volta?
Apesar do aumento das pressões do governo federal para emplacar Mantega no comando da Vale, parte dos acionistas da mineradora discute a indicação de Murilo Ferreira, presidente da companhia entre 2011 e 2017, como substituto de Bartolomeo.
O nome de Ferreira vem sendo ventilado desde a semana passada, inclusive entre alguns membros do Conselho de Administração da empresa, disse uma fonte que pediu anonimato.
Segundo essa fonte, Ferreira aparece como solução para pacificar a disputa em torno da sucessão. Ferreira se destacou, ao substituir Roger Agnelli – presidente da Vale que deixou o cargo por pressão do Planalto –, pelo bom relacionamento com os governos do PT.
O executivo é mais um nome na bolsa de apostas para substituir Bartolomeo. Além de Mantega, já foram ventilados em publicações da imprensa nomes como o ex-presidente da Cosan Luís Henrique Guimarães, hoje membro do Conselho da Vale, o CEO da fabricante de celulose Suzano, Walter Schalka, o CEO da holding dona de universidades particulares Yduqs, Eduardo Parente e o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda Paulo Rogério Caffarelli, hoje na Simpar, holding do grupo de logística JSL.
Fonte: O GLOBO
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