Breno Alberto da Cunha Rebelo da Silva foi preso na Operação 'Aracnídeo' por venda de rifas ilegais e 'robô' para operações digitais; Polícia acredita que intermediadores no Brasil usavam patrocinavam vida de luxo de influenciadores que teriam potencial de enganar as vítimas nas redes
Os investigadores da Polícia Civil de Minas Gerais, que realizaram a Operação “Aracnídeo”, responsável por prender um influencer de 27 anos, com aproximadamente 500 mil seguidores nas redes sociais, vão pedir uma cooperação internacional para descobrir quem está no topo do esquema criminoso, que envolve uma operadora financeira sediada na Ilha de Granada, paraíso fiscal no Caribe.
Breno Alberto da Cunha Rebelo da Silva, conhecido também como Breno Vespão, é suspeito de promover vendas de rifas ilegais na internet e vender um "robô" sem licença ou regulamentação para realizar operações financeiras no mercado. Segundo o delegado da Força-Tarefa de Combate ao Crime Organizado, Márcio Rocha, o influencer é apenas a ponta do esquema, que conta com intermediários no Brasil para cooptar influenciadores com potencial para aplicar os golpes.
— Vamos atrás de quem comanda o esquema fora do país, mas já sabemos que quem faz os pagamentos está no Brasil. Eles são feitos através de bancos e transações digitais, que são mais difíceis de serem rastreadas. A plataforma que ele divulgava recebia investimentos das vítimas, que pagavam ao influencer R$ 1 mil para ter acesso a um robô que apenas espelhava os gráficos de transações. Ou seja, não faziam absolutamente nada — afirma o delegado.
Breno vendia uma vida de luxo na internet, depois de sair da pobreza com investimentos na plataforma — Foto: Reprodução
Como funcionava o esquema?
A polícia chegou até Breno após denúncias de supostas vítimas após a Operação “Provérbios 16:18”, que prendeu outros seis influenciadores que também faziam rifas ilegais na internet. Mas, o esquema de Breno era mais sofisticado: ele usava a influência que tinha nas redes, para estimular a venda do “robô” que faria a gestão dos investimentos digitais na Quotex, empresa.
Mas, na realidade, o robô só espelhava os gráficos de transações na bolsa operados pela Quotex, e não fazia nada com o dinheiro das vítimas. No final das contas, as pessoas não conseguiam retirar seus investimentos, nem buscar reparação na Justiça, já que a empresa não tem representação no Brasil.
— Após a prisão dele e da divulgação dos casos, recebemos inúmeras denúncias nas redes sociais de pessoas que foram lesadas por ele, que perderam dinheiro no esquema. Estamos falando de vítimas de todos os estados, já que o alcance dele era muito grande, e na casa das centenas de pessoas — declarou o delegado Márcio Rocha.
'Engenharia social' para enganar seguidores
Segundo a Polícia Civil, as investigações indicam que o esquema era muito bem estruturado, passando pela empresa na Ilha de Granada, intermediadores no Brasil e os influenciadores que divulgavam o golpe. Os intermediadores seriam os responsáveis por realizar os pagamentos, mas também cooptar pessoas que querem crescer nas redes sociais e que estariam dispostos a entrar no esquema.
Antes e depois publicado por Breno nas redes sociais — Foto: Reprodução
Para os investigadores, o crime é executado com uma verdadeira engenharia social nas redes, lugar onde o “influenciador” vende uma narrativa para fazer seus seguidores acreditarem que ele enriqueceu com o robô e os investimentos na plataforma e que, com poucos recursos, seus seguidores também poderiam ficar ricos.
— Essas plataformas cooptam influenciadores digitais, patrocinam eles para levarem uma vida de luxo e alcançarem cada vez mais clientes. Queremos chegar nos intermediários, que oferecem um verdadeiro serviço para montar esses perfis nas redes sociais. A intenção é mostrar que eles eram pobres e convencer que é possível mudar de vida com o investimento na plataforma. Mas é tudo montado e esquematizado para enganar pessoas nas redes — disse Rocha.
Em uma postagem no Instagram, Breno conta que veio de origem humilde e fez um discurso motivacional para seus seguidores. "Nunca vou me esquecer dos picolés que eu vendia na rua, das panelas que eu lavava no restaurante, dos banheiros que eu lavava em comércio, tudo isso me fez ser quem eu sou hoje, determinado sempre em buscar o melhor dessa terra. Tenho total orgulho de quem eu era antes e muito mais de quem eu tenho me tornado", disse ele.
Breno compartilhava um estilo de vida luxuoso com seus seguidores — Foto: Reprodução
Empresa citada na CPI das Pirâmides Financeiras
Essa não é a primeira vez que a Quotex aparece no noticiário: no último ano, outro influenciador envolvido com a empresa caribenha foi convocado a prestar depoimento na CPI das Pirâmides Financeiras, no Congresso Nacional. Diego Aguiar, com mais de 1 milhão de seguidores, “pode ter informações sobre fatos potencialmente criminosos apurados por esta CPI”, disse o deputado Ricardo Silva (PSD-SP) em seu pedido.
Robô falo vendido por Breno apenas espelhava página da Quotex — Foto: Reprodução
O deputado Áureo Ribeiro também conseguiu aprovar um requerimento para a quebra do sigilo bancário, fiscal, e de dados junto às corretoras de criptoativos de Aguiar, “influencer de criptomoedas e suspeito de fraudes com investimentos em criptomoedas envolvendo a empresa Quotex”.
A corretora de ações binárias também bateu recorde de reclamações nas redes sociais, com mais de 1.500 queixas na plataforma Reclame Aqui. A maioria das publicações citam contas que foram encerradas sem nenhum aviso, dinheiro que desapareceu, depósitos que nao caem, reembolsos nunca efetivados e suspeitas de manipulação.
Fonte: O GLOBO
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