Sexta-feira, 14 de março de 2025

Facilitação para asfaltar rodovia amazônica fecha 2023 de reveses de Marina Silva no Congresso

Facilitação para asfaltar rodovia amazônica fecha 2023 de reveses de Marina Silva no Congresso

Texto passou na noite de terça-feira com amplo apoio de parlamentares de partidos da base e a chancela até da liderança do governo, a exemplo do que já ocorrera em outras ocasiões

A aprovação pela Câmara do projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental e abre caminho ao asfaltamento da BR-319, rodovia que liga o Amazonas a Rondônia, engrossa a lista de derrotas sofridas pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente) no Congresso. 

O texto passou na noite de terça-feira com amplo apoio de parlamentares de partidos da base e a chancela até da liderança do governo, a exemplo do que já ocorrera em outras ocasiões. Neste ano, entre os reveses aplicados à personagem do Executivo escolhida para simbolizar o compromisso de uma gestão ambientalmente responsável, estão a aprovação da proposta que facilita o uso de agrotóxicos, o que retirou poderes da pasta de Marina e o que concedeu benefícios a usinas a carvão.

Votaram a favor do texto sobre a estrada amazônica 198 deputados da base. Com cerca de 900 quilômetros de extensão, a BR-319 liga Manaus e Porto Velho e foi definida como inviável “economicamente e ambientalmente” por Marina em sessão da CPI das ONGs do Senado em novembro. A pavimentação do trecho do meio da rodovia, única conexão terrestre da capital do Amazonas com o restante do país, preocupa pesquisadores.

Geógrafo e diretor da ONG Wildlife Conservation Society (WCS) Brasil, Carlos Durigan aponta que a obra representa um “grande desafio”, pelo impacto no desmatamento.

— O desmatamento na Amazônia está muito associado com a abertura destes caminhos. Quando uma rodovia é asfaltada, forma-se ao menos um grande corredor de 100 km de largura de degradação — afirma.

Depois de dizer que rodovia é inviável “economicamente e ambientalmente”, Marina pode ver Congresso aprovar mudanças nas regras gerais de licenciamento ambiental em 2024 — Foto: Paulo Pinto / Agência Brasil

Fundo Amazônico

O texto aprovado torna os procedimentos de licenciamento ambiental das obras de pavimentação da rodovia amazônica “simplificados ou por adesão e compromisso”. Coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo critica a possibilidade criada de uso de verbas do Fundo Amazônico na obra e avalia que o texto fere a autonomia dos Poderes.

— Tem uma série de tentativas de forçar politicamente a finalização da BR-319, o que não cabe ao Legislativo. As leis nacionais não são para um empreendimento específico — pondera.

No início do ano legislativo de 2024, Marina pode sofrer outra derrota. O Senado deve votar o projeto de lei sobre regras gerais de licenciamento ambiental. O texto da Câmara tem o apoio da bancada ruralista e é criticado por ambientalistas.

A reforma da BR-319 tem como principal entusiasta um integrante de um partido da base, mas bolsonarista, o governador do Amazonas, Wilson Lima (União), ao lado de parlamentares do estado. O projeto foi incluído Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pacote de medidas de infraestrutura prioritárias do Executivo, assim como outro que preocupa pelos efeitos no meio ambiente: o Ferrogrão, que liga Mato Grosso e Pará por uma linha férrea de 933 km que atravessará terras indígenas e parques nacionais. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, apoia o empreendimento.

Em novembro, Fávaro obteve uma vitória sobre a ministra quando o Congresso aprovou um projeto para facilitar o licenciamento e uso de agrotóxicos — com texto final relatado pelo senador petista Fabiano Contarato (ES), em negociação com a bancada ruralista. Também no mês passado, a Câmara aprovou o projeto que regulamenta a geração de energia eólica em alto-mar com um “jabuti”, jargão para emenda não relacionada diretamente ao tema da matéria. Ele prorrogou a contratação de energias movidas a carvão, fonte considerada a maior emissora de gás de efeito estufa do planeta, no Sul do país, até 2050.

Esvaziamento em maio

Embora o mês passado tenha sido de derrotas acumuladas, os choques da ministra com o Congresso começaram no primeiro semestre. Em maio, o esvaziamento do ministério de Marina foi levado adiante após um acordo da liderança do governo no Congresso. Deputados flexibilizaram o Código Florestal, criando facilidades para desmatamento de áreas protegidas na Mata Atlântica. O governo orientou a bancada a votar a favor das regras mais brandas, agradando aos ruralistas.

Na época, a ministra afirmou que “parte do Congresso quer impor ao governo Lula o modelo de gestão de Bolsonaro”. Lula vetou a facilitação de desmatamentos na Mata Atlântica e algumas transferências de poderes da pasta de Marina para outros ministérios. Mas ela perdeu para o Ministério da Gestão e Inovação o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que integra informações de propriedades rurais para o combate ao desmatamento.


Fonte: O GLOBO

Postar um comentário

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem