Sexta-feira, 14 de março de 2025

Com Selic reduzida a 11,75% na última reunião do Copom no ano, como ficam os juros em 2024?

Com Selic reduzida a 11,75% na última reunião do Copom no ano, como ficam os juros em 2024?

Comitê de Política Monetária manteve trecho que garante pelo menos mais duas reduções de meio ponto da Selic, nas reuniões de janeiro e março. Para analistas, taxa pode cair a um dígito no ano que vem

Na última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou ontem a taxa básica de juros em meio ponto percentual e indicou que o ritmo será mantido. A Taxa Selic recuou de 12,25% para 11,75% ao ano. Esse é o menor patamar desde março de 2022.

Foi a quarta redução consecutiva dos juros, que começaram a cair em agosto, quando estavam em 13,75% ao ano. O comunicado do BC afirma que a intensidade de corte de meio ponto será mantida nas “próximas reuniões”, o que incluirá, pelo menos, os encontros de janeiro e março. O comitê se reúne a cada 45 dias para decidir o rumo da taxa básica da economia.

Esse sinal reforçou as previsões de analistas de que a Selic pode terminar 2024 abaixo dos 10%. Pelas projeções do Boletim Focus, publicação semanal do BC que compila previsões de agentes do mercado, a Selic deve terminar o ano de 2024 em 9,25% ao ano.

A política monetária vem refletindo a queda da inflação medida pelo IBGE, mas também a redução das expectativas, medidas pelo Boletim Focus. Um fator decisivo para o início do ciclo de cortes foi a manutenção da meta de inflação de 2024, em 3%.

Ambiente internacional ajuda

No cenário internacional, também há uma conjuntura favorável. Ontem, o banco central dos EUA, o Fed, manteve inalterados os juros na maior economia do mundo, no intervalo entre 5% e 5,25%. O comunicado do Fed foi considerado mais "leve" que o previsto no mercado, o que ajuda a redução da Selic no Brasil.

Quanto mais cedo os juros caírem mais lá, mais confortável fica o BC brasileiro a cortar a aqui. Isso por causa do chamado "diferencial de juros". Se a taxa por aqui fica muito próxima da americana, reduz-se a atração de capital estrangeiro para o país, o que desvaloriza o real frente ao dólar e alimenta a inflação. Baixando lá, é mais fácil baixar a Selic sem eliminar o diferencial em relação aos EUA.

Segundo o economista-chefe do G5 Partners, Luis Otávio Leal, o Fed reduziu as projeções de inflação de 5,1% para 4,6%, em 2024, de 3,9% para 3,6% em 2025, permanecendo em 2,9%. em 2026.

No comunicado de ontem, o Banco Central apontou que houve uma melhora no cenário para a inflação no cenário global, que se mostrou "menos adverso" que na última reunião do Copom. Além disso, no Brasil, a economia perdeu força e a inflação também está desacelerando.

Risco fiscal continua pesando, diz economista

Para o economista Marcelo Fonseca, da Reag Investimentos, o BC afirmou que o processo de queda da inflação atual é mais lento, o que fez com que o ritmo de 0,5 ponto fosse mantido. Além disso, ele entende que o risco fiscal continua pesando sobre as decisões de política monetária:

— Minha avaliação é que, apesar de o BC não mencionar explicitamente, a incerteza fiscal tem sido preponderante para o Copom manter o tom de cautela, apesar da melhora da inflação.

Segundo o economista-chefe do Banco UBS/BB, Alexandre Ázara, apesar de o plano de voo do BC ser de dois cortes de 0,5 ponto, em janeiro e março, o cenário externo ficará melhor do que o esperado pelo Copom. Com isso, ele entende que a Selic irá cair 0,75 ponto em março.

— Se tudo acontecer como prevê o BC brasileiro, cairá 0,5 ponto. Mas nosso cenário é que o Fed vai cortar os juros em março, já indicando isso em janeiro, e que a inflação ficará mais baixa no Brasil. Com isso, acreditamos que o Copom vai acelerar os cortes em março para 0,75 ponto — afirmou Ázara.

Comunicado mais suave não altera previsão de cortes

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, entende que o comunicado do BC foi mais “suave”, mas ainda dentro do previsto pelo mercado. Ela aposta na manutenção do ritmo de cortes em 0,5 ponto por todo o primeiro semestre de 2024. Uma eventual aceleração, diz, teria de ser indicada antes pelo próprio BC:

— Esperamos que o Copom continue cortando a Taxa Selic de 0,5 em 0,5 ponto percentual ao longo de parte do primeiro semestre de 2024 e entendemos que qualquer mudança no ritmo será antecipada pelo próprio comitê.

Governo quer acelerar redução dos juros

A queda em doses de meio ponto vem sendo alvo de críticas do governo. No sábado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que as medidas apresentadas ao Congresso para o ajuste fiscal e correções tributárias, aliadas à promulgação da Reforma Tributária sobre o consumo, criam um ambiente para “exigir” o corte da taxa básica de juros.

Nesta terça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou um movimento de pressão ao chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, para a aceleração da queda da taxa básica de juros.

Ontem, após a decisão do Copom, Haddad comemorou e destacou que o BC sinalizou que outros cortes na taxa de juros virão. Disse que a economia vai crescer de forma sustentável com inflação e desemprego baixos:

— O Copom, como esperado, fez mais um corte sinalizando que outros virão. Isso significa que os investidores brasileiros podem se preparar para um ciclo de crescimento sustentável com baixa inflação e baixo desemprego. Isso é uma boa notícia para as famílias brasileiras — disse o ministro.


Fonte: O GLOBO

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