Sem previsão de volta da energia pela Enel, bairros de SP completam 21h sem luz

Sem previsão de volta da energia pela Enel, bairros de SP completam 21h sem luz

Segundo o último balanço da Defesa Civil, seis pessoas morreram em decorrência das chuvas que registraram ventos acima de 100 km/h, sendo duas na capital

Diversos bairros da cidade de São Paulo já estão sem energia elétrica há 21 horas, depois que uma tempestade com ventos de mais de 100 km/h atingiu a capital na tarde desta sexta-feira. 

A Enel, empresa responsável pelo fornecimento de eletricidade, não conseguiu definir, até o momento, um prazo para o restabelecimento do serviço. As regiões mais afetadas foram as zonas Sul e Oeste. 

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) vai solicitar uma reunião com a Aneel, agência reguladora do setor, para discutir as falhas da empresa.

"Devido à complexidade do reparo e necessidade de reconstrução de trechos da rede, o restabelecimento da energia se dará de forma gradual e, em alguns casos, pode levar mais tempo", informou a Enel em comunicado divulgado na manhã deste sábado.

Vila Mariana, na zona Sul, e Alto de Pinheiros, na zona Oeste, estão entre os bairros que seguem sem energia desde às 16h30 de sexta-feira. Em alguns locais da capital, a luz voltou ainda de madrugada — no Ipiranga, por exemplo, o restabelecimento da energia ocorreu por volta das 3h30.

Segundo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a Sabesp trabalha para retomar o fornecimento de água, que também foi impactado pela queda de energia.

Inação e irritação

Ao GLOBO, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, apontou inação da Enel no momento de crise. Ele pedirá uma reunião com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para discutir as falhas da companhia.

—Essa Enel é terrível. Estamos sofrendo com falta de respostas deles — disse o prefeito. — As chamadas demoram, tem pouca equipe. Eu falei para o presidente da Enel chamar a equipe de outras concessionárias, trazer pessoas de outros estados. Nunca houve tantos pedidos para a Defesa Civil como agora. Eles precisariam ser rápidos.

Nós aumentamos de 300 para 1,4 mil o número de homens trabalhando só no corte e remoção de árvores. Precisa ter uma resposta rápida. Faltou e está faltando ação para a resposta (ao que aconteceu) — completou Nunes.

O prefeito está, nesta tarde, ao centro de operações da Enel, para tratar sobre restabelecimento de energia na cidade.

Ricardo Nunes junto ao presidente da Enel no Brasil, Nicola Cotugno — Foto: Bianca Gomes

Com cerca de 1.900 homens da limpeza divididos de 190 equipes, 1.470 agentes das subprefeituras, 40 equipes de iluminação pública e 24 de reparos em semáforos nas ruas, a prefeitura paulistana trabalha desde o início do temporal, na tarde de sexta-feira, para restabelecer a normalidade na capital.

De 94 semáforos inoperantes às 20h de sexta-feira, 77 já haviam sido restabelecidos às 6h deste sábado. A prefeitura também informou que houve 618 chamados por falta de iluminação pública às 17h de ontem, e 523 haviam sido consertados até as 6h deste sábado. Das 76 árvores que caíram, 43 já haviam sido removidas.

Efeitos por todo estado

A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros registraram mais de 2 mil chamados em ocorrências em 40 municípios do estado até agora. Só na sexta-feira, o Corpo de Bombeiros foi acionado para atender a 1.281 chamados de queda de árvores e 48 de desabamentos, enchentes e alagamentos. 

Os estragos causados pelas chuvas foram registrados por moradores da capital, que divulgaram nas redes sociais imagens de árvores caídas sobre postes de luz e explosões em transformadores.

No Autódromo de Interlagos, onde acontecerá o GP de São Paulo de Fórmula 1 neste domingo, torcedores filmaram, na sexta-feira, o momento em que o vento arrancou algumas lonas que serviam como cobertura em arquibancadas montadas para o evento. 

Seis pessoas ficaram feridas, mas nenhuma com gravidade, disse a assessoria do GP. A sessão classificatória foi encerrada com bandeira vermelha por conta da forte chuva que transformou o dia em noite ontem à tarde.

Os ventos chegaram a 103,7km/h na capital paulista, recorde histórico nos últimos cinco anos. A estação meteorológica de Santana/Tucuruvi registrou ventos de 94,1km/h, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE). O Aeroporto de Congonhas, por sua vez, teve uma das maiores medições: 103,7km/h.

Em Santos (SP), no litoral paulista, as rajadas de vento atingiram 151 km/h e chegaram a ser comparadas a um furacão categoria 1 — o que, explica o diretor de Comunicação da Defesa Civil do Estado de São Paulo, Roberto Farina, não procede:

— Um furacão é um fenômeno que se caracteriza pela formação de ventos giratórios na atmosfera que alcançam a superfície terrestre. No caso de Santos, os ventos não giraram em formato circular —diz ele.

Farina afirma que a tempestade de sexta-feira é resultado de uma frente fria ocasionada indiretamente pelo ciclone extratropical do Sul do país. Segundo o capitão, as chuvas e os ventos tendem a diminuir nos próximos dias, podendo ocorrer chuvas isoladas e mais fracas.

Ao menos 6 pessoas morreram

As chuvas deixaram ao menos seis mortos, de acordo com o último balanço da Defesa Civil. Na capital, duas pessoas morreram em decorrência da queda de uma árvore sobre o veículo em que estavam.

"A chuva que caiu na capital, na Região Metropolitana e Baixada Santista hoje foi excepcional. A capital paulista ficou em estado de atenção por quase 2 horas. Tivemos rajadas de ventos, em alguns locais, como na região de Congonhas que chegou a 104 km/h. 

Estou acompanhando as equipes, constitui um grupo de trabalho e estaremos todos empenhados para que a cidade retome a sua normalidade o quanto antes", escreveu o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), na sexta-feira à noite.

Em Osasco, na Região Metropolitana, um homem morreu após ser atingido por um muro e duas árvores. O caso ocorreu na Avenida Luis Rink, onde o rapaz estava dentro de um carro estacionado. Outra morte foi registrada em Santo André, após o desabamento de uma parede no 18º andar de um prédio em construção. 

No mesmo ocorrido, uma segunda pessoa ficou ferida. Em Limeira, houve um óbito também em decorrência do desmoronamento de um muro, desta vez em uma obra. E em Suzano, uma pessoa morreu após ser atingida por uma árvore.

Campeã de reclamações

Nas redes sociais, moradores de São Paulo acusam a Enel de desligar os canais de comunicação após a tempestade. A companhia, que é alvo de uma Comissão parlamentar de inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), foi a segunda com mais reclamações no Procon no ano passado. Em 2020 e 2021, ela ocupou a primeira posição.

"A Enel tem que ser indiciada e responsabilizada pela barbaridade que cometeu hoje. O apagão gerado pelas fortes chuvas em São Paulo poderia até ser compreensível, porém, desligar todos os canais de comunicação e negar atendimento aos usuários da rede elétrica é omissão", disse uma usuária do "X" (antigo Twitter).

"A Enel desativou o canal de SMS, um serviço simples para informar falta de luz da falecida Eletropaulo. Um canal muito funcional, que inclusive vinha com a previsão de restabelecimento", escreveu a conta identificada como Aline Nobre. Ela está há mais de 12h sem luz.

A falta de comunicação com a Enel e a demora da empresa em restabelecer a energia viraram até meme nas redes sociais:

Aeroporto de Congonhas

O Aeroporto de Congonhas opera normalmente neste sábado, sem atrasos, afirmou a assessoria de imprensa da gestora Aena. A tempestade causou queda de energia no terminal de passageiros na sexta-feira, e foi necessário ativar os geradores do local.

A organização da 35ª Bienal de São Paulo informou que estará excepcionalmente fechada neste sábado devido à interdição do Parque Ibirapuera para o restabelecimento das condições de visitação. A Urbia, que administra o Ibirapuera, disse que fechou o parque com autorização da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

"Para garantir a segurança e bem-estar dos visitantes, a Urbia informa que o local permanecerá fechado até o restabelecimento das condições adequadas de visitação. Além do Ibirapuera, dos parques administrados pela Urbia, apenas o Parque Eucaliptos está fechado no momento. Os demais Parques Tenente Brigadeiro Faria Lima, Jacintho Alberto, Jardim Felicidade e Lajeado permanecem abertos", diz a nota.

2 mil pães perdidos

Em Taboão da Serra, cidade na Grande São Paulo, há registros de bairros inteiros no escuro. Em dois mercados na região do Parque Marabá, o proprietário contabiliza que foram perdidas 2 mil unidades de pãezinhos, que estavam prontos para sair nas fornadas desta manhã.

— Estamos desde ontem sem energia. Nossos vizinhos perderam telhados e nós precisamos repor seis telhas. Os produtos perecíveis colocamos em uma câmara refrigeradora grande, acomodamos tudo lá. Saí comprando gelo nos bairros próximos, mas já está começando a acabar também — afirma Antônio Queiroz, a frente dos dois negócios. 

— Tentamos falar com a Enel e está ocupado desde ontem. Perdemos muitos pães, algo como 2 mil. Tínhamos deixado prontos ontem, achando que hoje teria energia. E nada. A carne não conseguimos vender, pois está sem energia no balcão. Até o fim do dia de hoje segura, se for passar para amanhã não sei. Os dois mercados estão sem energia até agora.

Previsão para os próximos dias

O dia será marcado por tempo estável e sem expectativa de chuva para a capital e cidades da região metropolitana. A expectativa é que o domingo também seja marcado pela estabilidade atmosférica. No dia, acontecem as provas do Enem e Grande Prêmio de Fórmula 1 de São Paulo.

O sol vai predominar ao longo do domingo e não há previsão de chuva, diz o CGE. As temperaturas variam entre mínima de 13ºC na madrugada e a máxima deve ficar em torno dos 23°C nas primeiras horas da tarde.


Fonte: O GLOBO

Postar um comentário

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem