Especialista alerta para consequências para saúde, meio ambiente e economia. Sul é exceção na previsão e deve ter ainda mais chuva forte e com potencial destrutivo
A quebra de recordes de temperatura é esperada nesta oitava e potencialmente mais severa onda de calor do ano. Mas os recordes não são a pior parte, frisa o coordenador geral de Operações do Cemaden, Marcelo Seluchi. Ele destaca que os efeitos mais perigosos virão por conta da duração da onda e da quantidade de pessoas atingidas.
A onda de calor se prolongará com grande intensidade pelo menos até sexta-feira no Sudeste e não tem fim à vista no restante do país. Dia e noite, sem alívio, pessoas, animais e plantas serão expostos a estresse térmico severo em quase todo o Brasil, com consequências para a saúde, o meio ambiente e a economia. E mesmo no Sudeste os termômetros poderão baixar um pouco na próxima semana, mas não significa, adverte Seluchi, que voltarão a temperaturas mais toleráveis. Ainda é cedo para saber.
— Os maiores problemas são a abrangência e a duração. Boa parte do Brasil pode passar os 40 graus Celsius. Mas passar uma semana sob temperaturas elevadas dia e noite é grave até para habitantes de cidades muito quentes, como Cuiabá. A agropecuária sofre demais, as florestas. É ruim para as pessoas, a natureza e o PIB — destaca Seluchi.
Tanto as máximas quanto as mínimas — que são registradas à noite e no início da manhã — seguirão elevadas, com ou sem recorde.
— O corpo não tem descanso, todos sofrem. Vai ser uma semana muito ruim. Poderemos ter apagões devido ao aumento da demanda, queimadas, mal-estar generalizado e queda da produtividade. A consciência coletiva de que vivemos num país tropical e estamos acostumados não corresponde mais à realidade — afirma a meteorologista do Cemaden Mariana Pallotta, especialista em extremos e seus impactos.
O verão costuma levar a fama de quente, mas é novembro, historicamente, o mês dos recordes. Ele é o mês das maiores temperaturas registradas no Brasil. O recorde nacional, de 44,8 graus, foi registrado em 4 e 5 de novembro de 2020, em Nova Maringá (MT). O anterior, de 44,7 graus, era de Bom Jesus do Piauí (PI), em 21 de novembro de 2005.
Isso acontece porque em novembro a estação chuvosa ainda está no início, mas a radiação solar já chega com mais intensidade e o número de horas de sol é maior que no inverno e em outubro e já se aproxima do padrão do verão. Porém, por novembro ser mais seco que os meses de verão, que têm chuvas que ajudam a amenizar um pouco o calor, pode registrar temperaturas mais elevadas.
Seluchi diz que o Brasil ainda não tem estatísticas sobre as ondas de calor. Mas enfatiza que a combinação do El Niño com as mudanças climáticas pode fazer deste o ano com as ondas mais agressivas.
— Não sei se essa onda vai ser pior que as de 2014, mas será desastrosa — diz Seluchi.
A exceção do calor são os três estados do Sul, que, sob influência do El Niño, continuarão a ser castigados por chuvas torrenciais, colocando o país numa situação de extremos e receita para mais desastres.
— Esta semana será perigosa para o Sul, com muita chuva e risco de desastres devido aos elevados acumulados. A situação pode ficar péssima — frisa Seluchi.
E esta pode ser a pior onda de calor do ano até agora, mas não a mais devastadora, porque o El Niño, que influencia o clima, ainda se fortalece e terá seu auge no verão. A pior onda de calor no Brasil ocorreu no verão de 2014 e 2015, diz Seluchi.
Fenômeno continental
A onda de calor é resultado de um sistema de alta pressão atmosférica que se estende por todo o centro da América do Sul, uma bolha quente, que esquenta o ar por compressão e não permite a formação de nuvens de chuva. É um fenômeno continental. Argentina, Bolívia e Paraguai têm sido duramente atingidos e os paraguaios enfrentam temperaturas acima dos 44 graus Celsius.
Os fortes ventos associados à alta pressão também causam problemas. A queda de braço entre a alta pressão que não deixa as nuvens se formarem e o calor, que tende a gerar tempestades, pode gerar rajadas extremamente poderosas.
Uma frente de rajadas pode viajar longas distâncias e seus efeitos são graves e visíveis. Semana passada foi uma frente assim que levantou a areia do leito seco dos rios amazônicos e cobriu Manaus com uma nuvem de poeira. Na sexta-feira, uma colossal nuvem de fumaça das queimadas, escureceu o céu do Pantanal, no Mato Grosso do Sul.
E ainda os ventos quentes, explica Seluchi, que sopram do interior para a costa, espalhando o calor por vastas áreas.
Fonte: O GLOBO
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