'Vamos morrer e ninguém vai saber da gente': Relembre a história de Shahed al-Banna, jovem que narrou a guerra nas redes

'Vamos morrer e ninguém vai saber da gente': Relembre a história de Shahed al-Banna, jovem que narrou a guerra nas redes

Nascida em Gaza e com cidadania brasileira, estudante de 18 anos ficou conhecida por mostrar a situação do grupo do Brasil na região; ela foi repatriada nesta segunda

"Quando começou a guerra, em 7 de outubro, deveria ser um dia normal", relembrou a jovem Shahed al-Banna, de 18 anos, em discurso após retornar ao Brasil nesta segunda-feira. A estudante afirmou que estava se preparando para ir à faculdade quando, de repente, bombas começaram a cair. "Chegamos a pensar que não conseguiríamos sair de lá; que iríamos todos morrer, e que ninguém iria saber da gente", relatou.

Antes do conflito entre Israel e o Hamas ter início, Shahed já estava há um ano e meio em Gaza. Palestina com cidadania brasileira, ela chegou a ir para a casa de uma tia, e depois passou dias em uma escola que servia de abrigo. Em todos os momentos, registrou o desespero da procura por um espaço seguro. Junto do grupo do Brasil, ela saiu da região neste domingo, e na segunda retornou ao país, onde morou por seis anos.

— Eu estava morando aqui em São Paulo com a minha mãe, mas ela estava com câncer e estava passando mal. A gente teria que voltar para Gaza para ela se despedir da família dela lá. Infelizmente, ela faleceu quando chegamos — disse ela em discurso. — Quando começou a guerra, deveria ser um dia normal (...). Começaram a bombardear todos os lugares, sem avisos. A gente ficou assustado.

Quando retornou ao enclave palestino, a jovem não imaginou que apenas alguns meses mais tarde estaria narrando um cenário de destruição: água acabando, falta de luz, sem internet e com pratos cada vez mais vazios em uma casa alugada pelo governo brasileiro em Rafah, ao sul de Gaza.

Em vídeo gravado em outubro, a estudante contou que a situação estava "difícil" e que, apesar da ajuda enviada pela Embaixada do Brasil, estava cada dia mais trabalhoso encontrar mantimentos essenciais. E, com a falta de energia, a comunicação também era dificultada. Ao lado do pai, Ahmed al-Banna, ela mostrou cerca de três celulares desligados com os carregadores, além do que pareciam ser duas baterias portáteis. Disse, ainda, que tentaria uma tomada disponível num mercado próximo.

'Cada dia está ficando pior'

Em outro vídeo, ela mostraou uma construção de apenas um cômodo, onde vários celulares e baterias eram carregados ao mesmo tempo, com diversas extensões para dar conta da demanda. A conexão com a internet dependia de buscas por lugares com sinal disponível. Naquela ocasião, um bombardeio havia destruído o sistema de telecomunicação da única companhia que ainda operava no enclave palestino, a Palestine Telecommunications Company (Paltel), deixando a região sem internet.

— Daqui a alguns dias acho que a gente já não vai mais conseguir encontrar água. Não temos luz. Olha o tanto de carregador. Não temos internet também, temos que ficar procurando um lugar com internet para conseguir manter contato com as pessoas daí [do Brasil] — explicou a jovem. — Está difícil, gente. As fronteiras estão fechadas, muita gente está morrendo todo dia. Cada dia está ficando pior do que o dia anterior.

Al-Banna comentou que a comida não estava entrando pelas fronteiras. Naquele momento, 140 comboios com ajuda humanitária chegaram no enclave, variando entre 10 e 20 por dia. Ainda assim, o número é irrisório, já que o mínimo necessário para atender às necessidades são 100, segundo a UNRWA, agência da ONU para os refugiados palestinos. Antes da guerra, entravam cerca de 300 a 500 comboios no local, conforme a organização Médico Sem Fronteiras (MSF).


Fonte: O GLOBO

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