Executivos largam bancos para administrar o dinheiro dos brasileiros ricos

Executivos largam bancos para administrar o dinheiro dos brasileiros ricos

Após forte aumento na taxa de juros, executivos migram para a gestão de patrimônio

À medida que o lançamento de novos fundos de hedge no Brasil diminui, após um forte aumento nas taxas de juros, todos estão migrando para a gestão de patrimônio. Um número crescente de executivos está abandonando os bancos em prol da criação de empresas que sirvam famílias ricas, enquanto alguns consultores de investimentos independentes estão se fundindo para ganhar escala.

Trinta novas empresas de gestão de fortunas (wealth management) foram abertas no primeiro semestre do ano, incluindo várias fundadas por ex-banqueiros do Credit Suisse, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

— Um grande número de profissionais deixou suas organizações para montar suas casas de assessoria de investimentos e acabou criando uma estrutura de multifamily offices — disse Fernando Vallada, diretor da Anbima. — É uma evolução natural do mercado.

O Brasil tem R$ 460,4 bilhões (US$ 91 bilhões) em riquezas administradas por 141 empresas independentes, segundo a Anbima. Elas competem com bancos que supervisionam quase R$ 2 trilhões de reais através dos seus negócios locais de private banking.

Embora haja mais mediadores do que nunca, a quantidade de nova riqueza não tem crescido tão rápido. Nenhuma empresa brasileira abriu capital em 2022 ou 2023, já que os acionistas controladores evitam vender ações a preços deprimidos. Algumas famílias ricas tiveram de injetar dinheiro nas suas empresas para lidar com o crescente peso da dívida, reduzindo a liquidez disponível para a gestão dos multifamily offices.

E isso tem impacto nas taxas. Embora os fundos de hedge possam cobrar dos clientes 2% de seus ativos mais uma taxa de desempenho de 20%, os gestores de patrimônio geralmente recebem de 0,30% a 0,70%. A baixa rentabilidade é uma das razões pelas quais bancos globais, incluindo JPMorgan, BNP Paribas e Crédit Agricole, venderam os seus negócios de private banking onshore no Brasil.

— Não tivemos muitos eventos de liquidez recentemente — disse Vallada. — Eles são importantes para que gestores de patrimônio e consultores financeiros independentes ganhem volume.

A turbulência no Credit Suisse nos últimos anos contribuiu para a saída de banqueiros experientes com clientes de longa data.

A Sten Gestão Patrimonial foi fundada em agosto por Sávio Barros e Bruno Rodrigues, ex-executivos do banco suíço. A Wealth High Governance, com sede em São Paulo, foi fundada pelo ex-chefe de private banking do Credit Suisse no Brasil, Marco Aurélio Abrahão. Ele deixou o banco com vários colegas em 2020 e agora eles administram cerca de R$ 40 bilhões.

Antonio Costa, ex-chefe no Brasil da Azimut, ingressou na B.Side Investimentos no ano passado. A empresa com sede em São Paulo foi fundada em 2019 por Rafael Christiansen, que anteriormente foi superintendente geral do private banking do Banco Safra. Ambos são veteranos do Credit Suisse.

Outros bancos também estiveram envolvidos no êxodo. Ex-executivos do Itaú Unibanco, maior banco da América Latina em valor de mercado, ingressaram na We Capital.

A B.Side, que foi criada como uma empresa registrada de consultoria de investimentos e tem R$ 6 bilhões sob gestão, negocia uma aquisição para expandir para serviços offshore depois de concluir um acordo anterior em maio. Espera-se mais atividade de fusões e aquisições, uma vez que a concorrência mais forte e a falta de ofertas públicas comprimem as taxas.

— Mais cedo ou mais tarde veremos uma consolidação ainda maior — disse Costa, numa entrevista. — As maiores empresas continuarão se aproximando das menores e proporão algum tipo de acordo comercial, para cortar custos e ganhar escala.

Mesmo as empresas de gestão de fortunas mais antigas, como a Taler Gestão de Património, fundada em 2005, estão se fundindo com intervenientes mais recentes. A Galápagos Capital, empresa de investimentos fundada por ex-sócios do Banco BTG Pactual, adquiriu a Taler em setembro. Tem agora R$ 20 bi sob gestão.

— Estamos muito focados em nos cercar de pessoas altamente experientes — disse Arnaldo Curvello, sócio da Galápagos, responsável pelo negócio de gestão de patrimônio.

Um diferencial entre as gestoras independentes é a capacidade de oferecer consultoria de investimento sem tentar forçar produtos internos aos clientes, disse Ian Dubugras, CEO do multifamily office Carpa, que tem R$ 6,3 bilhões sob gestão.

Como essas empresas recebem uma taxa fixa, o pagamento dos consultores não está vinculado aos produtos que vendem aos clientes, disse Dubugras.

Muitas empresas patrimoniais começam a trabalhar com clientes com fortunas tão baixas quanto R$ 3 a 10 milhões, enquanto outras exigem de R$ 20 a 100 milhões de reais.

Serviços como planejamento tributário e sucessório são cruciais para atrair clientes de alto patrimônio, disse Sigrid Guimarães, cofundadora da Alocc, que atende cerca de 400 famílias e tem R$ 10,5 bilhões sob gestão.

— Apesar de tudo, o Brasil é resiliente — disse ela. — E temos empresas que sobrevivem às crises e continuam a gerar lucros.


Fonte: O GLOBO

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