Copom: entenda por que o BC manteve a perspectiva de novos cortes de juros em suas próximas reuniões

Copom: entenda por que o BC manteve a perspectiva de novos cortes de juros em suas próximas reuniões

BC reduz juros a 12,25%, repete defesa da meta fiscal e mantém ritmo de corte da Selic

Pela terceira vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu, em meio ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), confirmando a expectativa do mercado financeiro. A taxa caiu de 12,75% para 12,25% ao ano, o menor patamar desde maio de 2022.

No comunicado, os diretores do BC repetiram o alerta de que o equilíbrio das contas públicas é importante para a queda dos juros, mas indicaram que vão continuar o ciclo de cortes na Selic no mesmo ritmo, com novas reduções de meio ponto nas próximas reuniões do Copom. A última do ano será em dezembro.

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o texto do Copom, formado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, e seus oito diretores.

— A grande dúvida de hoje, que era se a sinalização de corte de 0,5 ponto seria só para dezembro ou se seria estendida também para janeiro, foi sanada no penúltimo parágrafo, quando o comunicado mantém o plural no trecho “nas próximas reuniões” — avaliou Lucas Farina, analista da Genial Investimentos.

O ponto que mais atraiu a atenção no comunicado do BC foi a repetição do recado sobre a política fiscal. Apesar do risco de mudança da meta de resultado primário das contas públicas em 2024, após o presidente Lula ter afirmado na semana passada que dificilmente o país vai cumprir a meta de déficit zero estabelecida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o BC optou por manter o mesmo tom, sem confrontar diretamente o Executivo.

O trecho que defende o cumprimento das metas fiscais do governo no comunicado divulgado ontem (que é redigido pelo diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, ex-braço direito de Haddad) é exatamente igual ao texto da reunião de setembro:

“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.”

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, ao enfatizar que a Selic vai cair meio ponto em dezembro, o BC quis evitar apostas num corte mais acentuado. Na visão dele, o destaque do comunicado foi o BC não ter adotado um tom mais duro em relação às contas públicas, após a repercussão negativa das declarações de Lula:

— Faltou ser mais enfático sobre fiscal, especialmente depois dos últimos dias. A sinalização de corte de 0,5 ponto já era esperada. Dada a grande incerteza recente, foi importante o BC evitar discussões sobre queda de 0,75 ponto.

O novo corte nos juros reflete a queda da inflação no país e a melhora das expectativas. A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3,25% em 2023 e 3% em 2024, com margem de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

No boletim Focus divulgado na segunda, agentes do mercado ouvidos pelo BC estimaram que o IPCA vai encerrar 2023 em 4,63%, abaixo do limite de tolerância da meta (4,75%). Para 2024, a projeção é 3,9%. Os analistas projetam a Selic em 11,75% no fim deste ano, confirmando o novo corte de 0,5 ponto indicado pelo BC, mas elevaram de 9% para 9,25% a previsão para a Selic no fim de 2024.

No comunicado, o Copom pontuou que o panorama internacional permanece adverso, com aumento dos juros pelos principais bancos centrais do mundo, além de riscos geopolíticos. Por isso, o BC “avalia que o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes”.

O BC afirmou que a queda do IPCA a partir de agora será mais lenta e que ainda é preciso que as expectativas de inflação caiam mais. Com o cenário global desafiador, a condução da política monetária “demanda serenidade e moderação”, diz o texto.

Sergio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, pontuou, em relatório, que houve leve piora, de 0,1 ponto, nas projeções de inflação do BC para 2024 e 2025, além da ênfase do comunicado sobre o cenário externo mais adverso.

Fed, nos EUA, influencia B3

A decisão do Copom foi divulgada no início da noite de ontem, após o fechamento dos mercados. Mais cedo, o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, decidiu manter os juros básicos da maior economia do mundo entre 5,25% e 5,5%, maior patamar desde 2001. Logo após a divulgação da decisão, a Bolsa por aqui intensificou a tendência de alta. O Ibovespa, principal índice da B3, terminou o dia com avanço de 1,69%. O dólar caiu 1,34%, para R$ 4,97.

Apesar do terceiro corte de na Selic, o Brasil voltou ao topo do ranking global dos juros. A taxa real no Brasil, segundo o site Moneyou, fica em 6,90%, seguida pelas de México (6,89%) e Colômbia (5,48%). O cálculo considera inflação projetada para 12 meses e juros DI a mercado no mesmo período.

— As recentes declarações do governo em relação à questão fiscal afetaram a abertura das curvas de juros e a combinação com projeções mais baixas de inflação, levaram à subida do Brasil no ranking — explica o economista Jason Vieira, responsável pela lista.


Fonte: O GLOBO

Postar um comentário

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem