Buscas por termo 'dopamina' mais que triplicam no Brasil

Buscas por termo 'dopamina' mais que triplicam no Brasil

A dopamina é um neurotransmissor produzido pelo organismo que dá sensação de prazer e recompensa: também é chamado de hormônio do vício

Você sabe o que é dopamina? Dados exclusivos do Google Trends mostram que as buscas pelo termo mais que triplicaram no Brasil (+230%) e dobraram no mundo (+100%) na comparação de 1º de janeiro a 14 de novembro de 2023 com o mesmo período de 2018.

Segundo o levantamento, o Brasil é o 2º país da América do Sul (atrás apenas da Bolívia) e o 4º do mundo com mais interesse de busca por dopamina em 2023. A dopamina é um neurotransmissor produzido pelo organismo que dá sensação de prazer e recompensa: também é chamado de hormônio do vício.

Para entender melhor esse interesse dos brasileiros por dopamina conversei com a endocrinologista Alessandra Rascovski, de São Paulo. Ela é membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), da The Endocrine Society, EUA, da European Society of Endocrinology e é especialista em gerenciamento de estresse pelo Mind Body Institute, da Harvard Medical School.

“A dopamina representa uma linha tênue entre o prazer demais e a infelicidade demais. Ela está relacionada ao mecanismo de recompensa: a produção pelo organismo gera um pico de prazer, seguido de queda. E da sensação de quero mais. Por isso é o mecanismo é considerado viciante”, afirma.

Confira mais alguns dados do levantamento do Google Trends.

Os nomes dos livros "Dopamina: a molécula do desejo" e "Nação Dopamina" estão entre os termos com maior crescimento junto a dopamina em 2023 no Brasil.

Outros termos mais buscados são: "dopamina serotonina", "aumentar dopamina", "dopamina função", "TDAH dopamina", "dopamina alimentos" e "jejum dopamina”.

As pesquisas por “serotonina“ também cresceram no Brasil e no mundo. Na comparação de 1º de janeiro a 14 de novembro de 2023 com o mesmo período de 2018, a alta foi de +70% e +40%, respectivamente.


As perguntas mais buscadas este ano relacionadas a dopamina são:
  • O que é dopamina?
  • Para que serve a dopamina?
  • Como aumentar a dopamina?
  • Como fazer jejum de dopamina?
  • Como liberar dopamina?
  • Dopamina é hormônio?
  • Como a dopamina age no corpo?
  • Qual é a diferença entre serotonina e dopamina?
  • Como liberar dopamina em outra pessoa?
  • O que causa dopamina em excesso?
"Como fazer detox de dopamina?" é a pergunta com maior crescimento sobre o assunto no Brasil na comparação de 2023 com o período anterior (+420%).

Os dados globais mostram que, desde 2022, a dopamina é mais buscada no Google do que a serotonina. No Brasil, as pesquisas por dopamina ultrapassaram as feitas por serotonina em 2023.

A serotonina é considerada o hormônio do humor e do bem-estar.

“É um neurotransmissor que dá a sensação de uma felicidade mais estável, enquanto a dopamina é a sensação de prazer em pico. Praticar ioga e meditar liberam serotonina. Corrida libera dopamina. Quem corre uma maratona, completa uma prova de ironman, tem muita liberação de dopamina. Quando a prova termina e a pessoa passa a ir três vezes por semana à academia, muitas vezes acaba achando que não faz nada…”, exemplifica Alessandra.

Sobre os dados do Google Trends, ela afirma: “Você posta nas redes, ganha views e libera dopamina. Não ganha, deprime. Acredito que essa gangorra de emoções despertou o interesse das pessoas pelo termo dopamina”.

Para a especialista, as mídias sociais foram o principal gatilho para a dopamina nos últimos anos, em especial durante a pandemia. “Esse mecanismo de recompensa estimulado pelas mídias sociais desencadeia o que chamamos de Fomo (fear of missing out), a sensação de que estamos sempre perdendo alguma coisa.”

E todo mundo pode sentir isso em algum momento. “Eu, por exemplo, faço parte de grupos de médicos que compartilham artigos científicos. São vários artigos por dia e fico desesperada para ler tudo. Às vezes é 1h da manhã e estou lendo artigos, com medo de algo novo ser publicado e eu não estar sabendo”, conta.

Alessandra diz que para ela, como endocrinologista, a dopamina é o maior desafio hoje, pois o mundo está hiperestimulador. “Mídias sociais, álcool, chocolate, comidas gordurosas, compras, séries na TV, games, apostas, sexo, pornografia… São coisas que dão um prazer rápido e aumentam a produção de dopamina. As pessoas querem mais e tem um estímulo dando mais. E muita gente não consegue falar 'não' para esses estímulos. Por conta de tanta oferta, esse ciclo piora e resulta em compulsão.”

A médica lembra o perigo que o álcool representa nesse processo. “É uma droga legal socialmente aceita e que muitas vezes funciona como uma válvula de escape. E o alcoolismo entre mulheres cresceu muito nos últimos anos, principalmente a partir da pandemia.”

Mas o que fazer para quebrar esse ciclo?

“O melhor tratamento para o vicio da dopamina, na minha opinião profissional, é a desaceleração”, diz. Para crianças e adolescentes, é importante limitar o uso de telas. Porque muitas vezes o jovem não consegue se controlar. “Mas não é só limitar o uso de celular ou games. O resultado vai depender do que esses jovens fazem quando estão sem o celular ou o jogo.”

Independentemente da idade, meditar, fazer ioga e exercícios respiratórios comprovadamente contribuem para desacelerar. São atividades estimulam a liberação de serotonina e ocitocina, o hormônio da conexão. Caminhar ao ar livre, ficar em contato com natureza, conversar com os amigos e fazer terapia também ajudam a quebrar esse ciclo.

“A ocitocina é liberada no convívio social, nos momentos em que estamos com amigos na vida real, desfrutando da sensação de pertencer a um grupo, em contrapartida ao desejo de ser aceito no mundo virtual”, conclui Alessandra.


Fonte: O GLOBO

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