Hospital Al-Shifa luta para manter atendimento a prematuros diante de cerco de Israel, que acusa Hamas de manter centro de comando subterrâneo abaixo da unidade de saúde
Bebês prematuros, recém nascidos no Hospital Al-Shifa, no norte da Faixa de Gaza, foram retirados de suas incubadoras e estão sendo mantidos enrolados em toalhas e cobertores térmicos, diante do corte de energia que afeta a principal unidade de saúde palestina no enclave. Seis bebês e nove pacientes da unidade de terapia intensiva já morreram, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, a medida que a ofensiva terrestre israelense se intensifica.
— Eles [os recém-nascidos] estão expostos porque os tiramos das incubadoras. Nós os embrulhamos em papel alumínio e colocamos água quente ao lado deles para que possamos aquecê-los — disse o diretor do centro médico, Muhammad Abu Salmiya, a Al-Araby TV neste domingo.
Yusef Abu Rish, vice-ministro da Saúde do governo do Hamas, afirmou à AFP, nesta segunda-feira, que todos os hospitais do norte da Faixa de Gaza estão "fora de serviço", diante do avanço das tropas de Israel, dos bombardeios e dos cortes de energia, provocados sobretudo pela falta de combustível para alimentar os geradores que mantêm as infraestruturas em funcionamento.
Os hospitais de Gaza, sobretudo o Al-Shifa, tornaram-se o centro das acusações trocadas por israelenses e palestinos a respeito da desumanidade da guerra. Israel acusa o Hamas de utilizar a população civil como escudo e denunciou que um centro de operações do grupo terrorista palestino foi construído abaixo do hospital. Os palestinos, por outro lado, acusam o governo de Benjamin Netanyahu de utilizar essa narrativa como pretexto para cometer crimes contra a humanidade, atacando infraestruturas civis protegidas pelo direito internacional.
O Al-Shifa entrou na mira de Israel antes mesmo da invasão por terra se confirmar. Na última semana de outubro, Netanyahu publicou um vídeo nas redes sociais, apontado que o Hamas utilizaria o hospital como escudo para um complexo de operações subterrâneo.
"O Hamas-Estado Islâmico é doente. Eles transformaram hospitais em quartéis-generais do terror", escreveu Netanyahu, em 27 de outubro, ao divulgar o vídeo com ilustrações da estrutura subterrânea, em projeções criadas a partir de informações colhidas pela inteligência israelense.
O Hamas nega as alegações de Israel, e as autoridades do hospital dizem que as instalações não abrigam nada além de doentes, feridos e profissionais médicos dedicados a ajudá-los. Na opinião da maioria dos palestinos, a obsessão por Al-Shifa é uma prova da vontade de Israel de atacar até mesmo os civis mais indefesos, sem justificativa.
Abu Salmiya, o diretor do hospital, descreveu categoricamente as alegações israelenses como “falsas” em uma entrevista na sexta-feira.
Teorias à prova
Embora seja impossível verificar de forma independente muitas das afirmações de Israel e do Hamas, é provável que as afirmações sejam testadas em breve. O hospital, disseram autoridades israelenses, foi poupado em operações anteriores em razão da preocupação com os civis, mas ao custo de deixar intacto o que quer que possa estar embaixo dele. É um erro que Israel não repetirá desta vez, disseram as autoridades.
— Os hospitais serão cercados e as pessoas serão pressionadas para que saiam — disse Chuck Freilich, ex-conselheiro adjunto de segurança nacional israelense. — Não vejo Israel indo de frente contra os civis, mas o hospital — ou pelo menos o que está por baixo dele — precisa ser esvaziado.
Nos últimos dias, soldados israelenses cercaram pelo menos um outro hospital no norte de Gaza, intensificando a pressão para esvaziar as instalações, segundo oficiais militares. No Hospital Especializado para Crianças Al Rantisi, o único centro médico com uma enfermaria de câncer pediátrico no enclave, o chefe do hospital, Bakr Gaoud, disse que as forças israelenses avançaram no final da semana passada, danificando o andar térreo e destruindo vários veículos.
— Arrastamos nossos pacientes em suas camas na rua ao sul. Fui o último a sair do hospital — disse ele, acrescentando que os pacientes em pior situação foram para o Al-Shifa, enquanto todos os outros seguiram para o sul, longe da principal área de combate.
Um segundo hospital, o Al-Nasr, foi igualmente esvaziado por Israel na sexta-feira, e o Ministério da Saúde relatou ataques contra outros hospitais no fim de semana.
Em Al-Shifa, o médico Ahmed Al-Mokhallalati, que tirou as fotos dos bebês fora das incubadoras, afirmou que não há eletricidade suficiente para alimentar o gerador do hospital, que está em uma ala danificada por bombardeios.
Israel anunciou no sábado que está disposto a ajudar na transferência dos bebês da unidade de pediatria para um local mais seguro, mas a operação não foi concretizada e o hospital continua exposto à ofensiva terrestre de Israel no território governado pelo Hamas.
O Exército israelense também informou que seus soldados entregara, 300 litros de combustível para o hospital. O diretor do centro médico, Mohammad Abu Salmiya, afirmou que recebeu uma ligação do Exército e foi informado que o combustível seria deixado a 500 metros do hospital.
— Eu disse a eles que, se querem ajudar, precisamos de pelo menos 8 mil litros para fazer o principal gerador funcionar e salvar centenas de pacientes e feridos — contou.
Fonte: O GLOBO
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