Alvos de loteamento, Dnit e Dnocs estão entre os órgãos com menos mulheres em cargos de confiança no governo Lula

Alvos de loteamento, Dnit e Dnocs estão entre os órgãos com menos mulheres em cargos de confiança no governo Lula

Necessidade do presidente em abrir espaço para o Centrão o levou a reduzir a representação feminina no primeiro escalão

Órgãos ligados à infraestrutura e obras, tradicionalmente loteados pelo governo entre partidos da base, como os do Centrão, estão entre os setores com menor representação feminina em cargos de confiança. No Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), por exemplo, as mulheres ocupam 25,6% de um total de 683 dessas funções, e no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), 29,4% de 211 vagas.

Foi justamente a necessidade de negociação com o Centrão, para garantir maioria em votações no Congresso, que levou o presidente Lula, nos últimos meses, a retirar mulheres do alto escalão do seu governo. O caso mais recente ocorreu na presidência da Caixa Econômica. No comando do banco público, Rita Serrano cedeu lugar a Carlos Antônio Vieira, indicado pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e por outros líderes desse grupo político.

O petista também demitiu Ana Moser e Daniela Carneiro dos ministérios do Esporte e do Turismo, respectivamente, para atender aos interesses do bloco. Elas foram substituídas pelos deputados André Fufuca (PP-MA) e Celso Sabino (União-PA).

— Quando um partido político quer indicar uma pessoa e ele não tem mulher, eu não posso fazer nada — justificou Lula em entrevista a jornalistas após a demissão na Caixa.

O Dnocs é comandado por um indicado do Avante, partido sob influência de Lira. Já o diretor-geral do Dnit foi apadrinhado pelo ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB).

Qualificação

Cofundadora da Mahin Consultoria Antirracista, Ellen da Silva afirma que é estratégico ter, especialmente, mulheres negras em postos de tomada de decisão e destaca que é preciso criar condições para a permanência desse segmento nessas funções. 

Ela enfatiza que houve mudança no cenário brasileiro, com crescente acesso da população negra ao ensino superior e que é preciso abandonar o imaginário único do que é uma liderança e a narrativa de que não há profissionais qualificados:

— Temos pessoas capazes de ocupar os cargos. Mas é preciso apostar que o conhecimento na vida prática adiciona (nesses postos). Muitas vezes, há pessoas que estão tomando decisão no serviço público que nunca pisaram em uma escola pública, ou nunca usaram o Sistema Único de Saúde (SUS). 

Mais de 80% das pessoas que usam exclusivamente o SUS são pessoas negras. A gente sabe como o sistema funciona do ponto de vista do usuário e estamos qualificados para aprender as especificidades da gestão pública.


Fonte: O GLOBO

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