Cidade teve 32.430 ocorrências até o fim de agosto. Motoristas reclamam de demora na repintura de faixas após obras de recapeamento. Prefeitura diz que intervenções são ‘amplamente sinalizadas’ e que ‘capa de sacrifício’ é confundida com trabalho finalizado
A cidade de São Paulo teve neste ano, até o fim de agosto, 32.430 acidentes de trânsito catalogados no sistema Infosiga, do governo estadual. Trata-se do maior número já registrado para o período desde ao menos 2019 (antes disso, a base de dados sobre as ocorrências está incompleta).
Esses números não são finais, já que a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) cruza as informações do Infosiga com as de outras bases, como a do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Polícia Civil, para produzir seus relatórios anuais sobre acidentes de trânsito. Ainda assim, o dado acende um alerta preocupante para a cidade que possui a maior frota de veículos em toda a América Latina.
Paulo Guimarães, CEO do Observatório Nacional de Segurança Viária, afirma que o número de colisões e atropelamentos aumentou não só na capital paulista, mas em todo o estado. Segundo levantamento do Observatório, também com base nos dados do Infosiga, junho foi o mês com maior número de ocorrências em toda a série histórica, com mais de 18.000 acidentes.
— Vimos um fenômeno no pós-pandemia, com o aumento na circulação das pessoas, de um maior grau de agressividade no trânsito. Temos mais brigas, mais pessoas se agredindo. Há muita gente que não conseguiu se recolocar no mercado, com nível de stress elevado, e isso se reflete diretamente na forma como as pessoas conduzem os veículos — afirma o especialista.
Infográfico mostra raio-X dos acidentes de trânsito em São Paulo — Foto: Editoria de Arte
O aumento no número de acidentes na capital ocorre em um momento em que o prefeito Ricardo Nunes (MDB), na iminência de buscar a reeleição no ano que vem, aproveita o caixa recorde de R$ 47,4 bilhões para ampliar os gastos em obras de recapeamento. Segundo o balanço mais recente da prefeitura, são R$ 3,5 bilhões reservados para esse programa, que pretende renovar o asfalto em mais de 500 trechos de ruas e avenidas de toda a cidade.
A profusão de canteiros de obras na metrópole tem motivado reclamações de motoristas, dentre elas as de que há demora em repintar as faixas de sinalização nas vias em que houve o recapeamento. A maquiadora Marina Dias, de 35 anos, mora na Zona Leste da cidade e diz que presenciou acidentes quase que diariamente na Avenida Doutor Eduardo Cotching, na Vila Formosa, no período após o recapeamento:
— O trânsito ali virou um caos. A avenida já é cheia de retornos, de semáforos. Uma hora tem faixa dupla, na outra tem faixa de ônibus. Com sinalização, já acontece muito acidente ali. Sem ela, passou a ser quase todo dia. Ficou quase um mês sem faixas lá. Demorou, mas depois pintaram.
Os técnicos responsáveis pelo preenchimento dos dados no Infosiga indicaram que, até o fim de agosto, houve 239 acidentes em vias com obras "mal sinalizadas" ou "sem sinalização" em São Paulo — sendo que nos últimos três meses, a média dessas ocorrências foi superior a um acidente por dia. De novo, trata-se do maior número já registrado para o período.
Em 2023, quatro dos oito meses com dados consolidados tiveram pelo menos 30 acidentes com essas características. Nos 48 meses anteriores, essa marca havia sido alcançada em oito ocasiões.
Risco ampliado
Paulo Guimarães chama a atenção para um artigo do Código de Trânsito Brasileiro que diz que nenhuma via pode ser reaberta ao trânsito “enquanto não estiver devidamente sinalizada, vertical e horizontalmente, de forma a garantir as condições adequadas de segurança na circulação”:
— A falta de faixas aumenta consideravelmente o risco de acidentes. Elas são um elemento de segurança na estrutura viária, são balizadoras do tráfego. Sem elas, passa a existir uma confusão em relação à ocupação dos espaços. Os motoristas perdem a noção de onde devem se manter, o que é ainda mais problemático em uma cidade como São Paulo, que tem uma dinâmica muito louca — diz.
Vítima de acidente pode pedir indenização
O GLOBO cruzou os nomes dos logradouros indicados no Infosiga com os das vias em que a prefeitura já concluiu a troca do asfalto ou que ainda estão com obras em andamento. Nesses endereços, houve neste ano ao menos 3.543 acidentes, dos quais 91 resultaram em mortes. Foram, ao todo, 2.103 feridos (com escoriações classificadas como leves ou graves) e 99 óbitos em acidentes de trânsito nessas ruas e avenidas. As campeãs de ocorrências foram a Estrada de Itapecerica, na Zona Sul, e a Avenida Sapopemba, na Zona Leste.
O advogado Vinícius Siqueira, especializado em questões de trânsito, diz que é possível pedir indenização da prefeitura na Justiça em casos de acidentes em vias mal sinalizadas. Para os casos mais simples, as decisões demoram de seis a oito meses para sair:
— O poder público tem a obrigação de manter a sinalização adequada. Para comprovar que um acidente decorreu da falta de sinalização, o motorista ou pedestre pode usar imagens de câmera de bordo ou, se não conseguir, é indicado que ele tire fotos do local no momento do acidente. Sempre recomendamos que a pessoa também chame a autoridade policial para lavrar um boletim de ocorrência, onde fica registrado as condições da via.
A Secretaria Municipal das Subprefeituras informou que os técnicos responsáveis pelo recapeamento aplicam uma camada chamada “binder”, ou “capa de sacrifício”, para conseguirem reabrir as vias para o trânsito antes de concluírem a troca do asfalto. “Essa atenção acontece porque nenhuma via fica interditada durante o dia. O binder é muitas vezes confundido como via finalizada, pelo aspecto que tem, mas não é a última camada, feita por materiais nobres”, explicou.
Essa camada é removida sempre que os trabalhos de recapeamento são retomados e, só após a conclusão definitiva da troca do asfalto, é que a CET é comunicada para providenciar a pintura das novas faixas.
A pasta também destacou que “os trechos interditados são amplamente sinalizados antes dos serviços de recapeamento começarem e essa sinalização permanece até o fim dos trabalhos” e complementou que, “de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, é infração grave não reduzir a velocidade em trecho em obras ou quando o pavimento se apresentar escorregadio, defeituoso ou avariado, conforme informado pela sinalização implantada”.
Fonte: O GLOBO
Risco ampliado
Paulo Guimarães chama a atenção para um artigo do Código de Trânsito Brasileiro que diz que nenhuma via pode ser reaberta ao trânsito “enquanto não estiver devidamente sinalizada, vertical e horizontalmente, de forma a garantir as condições adequadas de segurança na circulação”:
— A falta de faixas aumenta consideravelmente o risco de acidentes. Elas são um elemento de segurança na estrutura viária, são balizadoras do tráfego. Sem elas, passa a existir uma confusão em relação à ocupação dos espaços. Os motoristas perdem a noção de onde devem se manter, o que é ainda mais problemático em uma cidade como São Paulo, que tem uma dinâmica muito louca — diz.
Vítima de acidente pode pedir indenização
O GLOBO cruzou os nomes dos logradouros indicados no Infosiga com os das vias em que a prefeitura já concluiu a troca do asfalto ou que ainda estão com obras em andamento. Nesses endereços, houve neste ano ao menos 3.543 acidentes, dos quais 91 resultaram em mortes. Foram, ao todo, 2.103 feridos (com escoriações classificadas como leves ou graves) e 99 óbitos em acidentes de trânsito nessas ruas e avenidas. As campeãs de ocorrências foram a Estrada de Itapecerica, na Zona Sul, e a Avenida Sapopemba, na Zona Leste.
O advogado Vinícius Siqueira, especializado em questões de trânsito, diz que é possível pedir indenização da prefeitura na Justiça em casos de acidentes em vias mal sinalizadas. Para os casos mais simples, as decisões demoram de seis a oito meses para sair:
— O poder público tem a obrigação de manter a sinalização adequada. Para comprovar que um acidente decorreu da falta de sinalização, o motorista ou pedestre pode usar imagens de câmera de bordo ou, se não conseguir, é indicado que ele tire fotos do local no momento do acidente. Sempre recomendamos que a pessoa também chame a autoridade policial para lavrar um boletim de ocorrência, onde fica registrado as condições da via.
A Secretaria Municipal das Subprefeituras informou que os técnicos responsáveis pelo recapeamento aplicam uma camada chamada “binder”, ou “capa de sacrifício”, para conseguirem reabrir as vias para o trânsito antes de concluírem a troca do asfalto. “Essa atenção acontece porque nenhuma via fica interditada durante o dia. O binder é muitas vezes confundido como via finalizada, pelo aspecto que tem, mas não é a última camada, feita por materiais nobres”, explicou.
Essa camada é removida sempre que os trabalhos de recapeamento são retomados e, só após a conclusão definitiva da troca do asfalto, é que a CET é comunicada para providenciar a pintura das novas faixas.
A pasta também destacou que “os trechos interditados são amplamente sinalizados antes dos serviços de recapeamento começarem e essa sinalização permanece até o fim dos trabalhos” e complementou que, “de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, é infração grave não reduzir a velocidade em trecho em obras ou quando o pavimento se apresentar escorregadio, defeituoso ou avariado, conforme informado pela sinalização implantada”.
Fonte: O GLOBO
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