Número de trabalhadores sindicalizados no país cai ao menor nível em uma década

Número de trabalhadores sindicalizados no país cai ao menor nível em uma década

Pela 1ª vez, Brasil tem menos de 10% da população empregada associada a sindicatos. Efeitos da reforma trabalhista, que derrubou obrigatoriedade de contribuição, ajudam a explicar o tombo

O número de trabalhadores associados a sindicatos trabalhistas no país veio caindo nos últimos anos e atingiu o menor nível em uma década. Pela primeira vez, o Brasil tem menos de 10% dos ocupados sindicalizados. Isso corresponde a um contingente de 9,1 milhões de empregados em 2022. Dez anos antes, em 2012, haviam 14,4 milhões - o equivalente a 16,1% do total de ocupados.

As informações fazem parte da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua, com foco em características adicionais do mercado de trabalho, e foram divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Todas as regiões do país tiveram redução na taxa de sindicalização em 2022. Em relação à 2012, a maior queda foi observada na região Sul (retração de 9,2 pontos percentuais). Já em relação a 2019, pré-pandemia, a retração mais expressiva foi registrada no Sudeste (-2,4 p.p.).

. — Foto: Editoria de Arte/O Globo

Impactos da reforma trabalhista

Aprovada em julho de 2017, a reforma trabalhista tornou a contribuição sindical facultativa. Antes, todos os trabalhadores, sindicalizados ou não, eram obrigados a pagar uma contribuição uma vez por ano ao sindicato de sua categoria profissional. Com a mudança, a obrigatoriedade foi derrubada.

Segundo Adriana Beringuy, gerente da pesquisa do IBGE, a queda no engajamento sindical tem influência dos efeitos da reforma trabalhista.

— Além da queda do imposto sindical, a reforma trouxe consigo a flexibilização de contrato dos trabalhadores. Quanto maior o caráter de vínculos independentes e isolados, mais isso contribui para uma menor participação menor coletiva dos trabalhadores — afirma.

Os números mostram que a expansão da ocupação no Brasil foi acompanhada pelo avanço da sindicalização. Essa trajetória já vinha em queda desde 2016, mas se intensificou no pós-pandemia. Entre 2019 e 2022, o mercado de trabalho chegou a perder ocupação. Mas, após o movimento de recuperação da crise sanitária, houve um incremento de 4,6 milhões de trabalhadores em 2022, em relação ao ano anterior. Ainda assim, a população sindicalizada retraiu em 1,3 milhão no período.

Avanço do MEI, PJ e modalidades flexíveis de trabalho

De acordo com o IBGE, outro fator que explica a queda na sindicalização é o avanço de novas modalidades de trabalho mais flexíveis em relação à CLT, como os contratos de MEI (microempreendedor Individual) e PJ (pessoa jurídica). Além disso, houve um salto no trabalho por demanda em plataformas digitais, movimento global adotado por empresas e trabalhadores.

— A organização em torno do trabalho têm sido cada vez mais individual. E, quanto maior a inserção individual e não coletiva, isso contribui para a perda de adesão aos sindicatos — afirma Adriana Beringuy, gerente da pesquisa.

Governo quer voltar com imposto sindical

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, quer voltar com o imposto sindical obrigatório para os trabalhadores, que pode ser até o triplo do extinto. De acordo com a proposta do ministério, a taxa seria vinculada a acordos de reajuste salarial entre patrões e empregados, que tenham intermediação sindical. O texto está em processo de discussão no governo e pode ser apresentado ao Congresso Nacional em setembro.

Em paralelo, o STF considerou constitucional a cobrança da contribuição assistencial mesmo de empregados não sindicalizados, por acordo ou convenção coletiva. O ministro Luís Roberto Barroso, que propôs a mudança de entendimento sobre o assunto, disse que se trata de uma solução intermediária que garante aos sindicatos alguma forma de financiamento.

Esta cobrança é diferente da contribuição sindical, que é o pagamento aos sindicatos referente a um dia de trabalho e recolhido a cada mês de março. No caso da assistencial, trata-se de uma contribuição a ser fixada em acordo ou convenção coletiva com o objetivo de custear atividades assistenciais dos sindicatos. O valor será definido por cada categoria e aprovado pelos colaboradores em assembleia.


Fonte: O GLOBO

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