Caso das joias: Antes de depor à PF, Cid avaliou que Bolsonaro o 'arrastava para a lama'

Caso das joias: Antes de depor à PF, Cid avaliou que Bolsonaro o 'arrastava para a lama'

Portal Uol teve acesso a mensagens entre ex-ajudante de ordens da Presidência com o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten

O ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid fez um desabafo sobre Jair Bolsonaro na véspera de prestar depoimento à Polícia Federal sobre o caso das joias presenteadas pela Arábia Saudita ao Estado brasileiro. O portal "Uol Notícias" teve acesso a mensagens trocadas via WhatsApp entre o tenente-coronel e o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten. Numa delas, Cid concordou com a visão de que estava sendo "arrastado para a lama" por causa do ex-chefe.

Conforme noticiou o "Uol", em 4 de abril, Wajngarten enviou a Cid um artigo do jornal "Metrópoles" com o título: "Bolsonaro arrasta com ele para a lama seus mais fiéis servidores". O tenente-coronel é um dos ex-auxiliares apontados no texto. "Não deixa de ser verdade", respondeu Cid.

Procurado pelo site, Wajngarten não quis comentar o diálogo. Já a defesa de Mauro Cid afirmou que ele nada tinha a declarar a respeito. Cid está preso desde maio, após operação da PF para apurar a atuação de um grupo que teria inserido dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.

Versões de Mauro Cid

Desde que assumiu a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, o advogado Cezar Bitencourt apresentou diferentes versões sobre a participação dele nas negociações sobre joias recebidas em viagens oficiais. Em duas semanas, o criminalista chegou a afirmar que o ex-ajudante de ordens entregou a Jair Bolsonaro (PL) o dinheiro da venda de um relógio Rolex, mas agora garante que o militar “assumiu tudo” e não acusou o ex-presidente de envolvimento no esquema.

— Sobre a recompra das joias, o Cid assumiu tudo e não colocou Bolsonaro em nada. Não tem nenhuma acusação de envolvimento em corrupção ou suspeita sobre o Bolsonaro. A defesa não está jogando Cid contra Bolsonaro. O Cid faz a sua defesa e esses aspectos de que Bolsonaro poderia ter corrupção ou desvio, inclusive de militares, não procede. Não há (nos depoimentos) nenhuma acusação em relação a honestidade do Bolsonaro — explicou Bitencourt ao blog da jornalista Camila Bonfim, no G1, na sexta-feira.

Ao longo da última semana, Mauro Cid prestou depoimento na sede da Polícia Federal, em Brasília, em três ocasiões, somando mais de 24 horas. As oitivas são mantidas em sigilo. Na semana passada, Cezar Bitencourt esteve no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para, segundo ele, se apresentar e “se colocar à disposição da Corte”.

— Sobre o dinheiro que ele pegava para pagar as contas do ex-presidente, ele disse claramente que era da aposentadoria dele e daquilo que recebia como presidente. Esse era o dinheiro que o Cid pegava para pagar as contas pessoais do Bolsonaro — disse, antes do encontro.

Há cerca de dez dias, o advogado disse ao GLOBO que o militar pretendia prestar novos depoimentos justamente assumindo as negociações para revenda de um relógio Rolex, recebido pelo ex-presidente. Na ocasião, o advogado disse Cid teria seguido as determinações do então chefe e, inclusive, devolvido a ele em espécie o valor recebido pela joia:

— Mauro Cid vendeu o relógio a mando do Bolsonaro com certeza e entregou o dinheiro a ele — contou. — Os 35 mil que entraram na conta do pai dele (o general Mauro Cesar Lourena Cid) era parte do pagamento que ele deu ao ex-presidente.

No entanto, em entrevista à GloboNews no dia seguinte, Cezar Bitencourt informou que essa suposta “confissão” estava restrita ao Rolex e não as demais joias cujo destino é investigado pela PF. Ele também disse que o pagamento pode ter sido entregue por Cid a Bolsonaro ou a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Também em entrevista ao GLOBO, logo após assumir a defesa, Cesar Bitencourt afirmou que a carreira de Mauro Cid foi marcada pelo respeito à “obediência hierárquica” dentro do Exército. Ele disse que o oficial “sempre cumpriu ordens” e isso pode, inclusive, “afastar a culpabilidade dele” em investigações sobre o suposto desvio de joias do acervo presidencial e ainda sobre a suposta fraude em cartões de vacina:

— Então ele assumiu que errou, quer fazer mea-culpa e eu prometi que vou proteger ele, vou acompanhar. São coisas muito complicadas, ele precisa se sentir seguro. Ele vai assumir a responsabilidade da parte dele e o resto é consequência. Cada um com seus próprios problemas.


Fonte: O GLOBO

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