Análise: Flamengo sem DNA campeão dá sinais de terra arrasada que vai além de Sampaoli

Análise: Flamengo sem DNA campeão dá sinais de terra arrasada que vai além de Sampaoli

Time vê título da Copa do Brasil mais distante após apresentação coletiva e individual muito ruim

Acostumados a uma era de conquistas, e a jogadores que forjaram suas idolatrias em momentos decisivos, a torcida do Flamengo que lotou o Maracanã e gerou a maior renda do futebol brasileiro, mais de R$ 26 milhões em uma final de Copa do Brasil, imaginava que a festa proporcionada contra o São Paulo geraria uma espécie de encanto, que transformaria o atual elenco no time galático que empilhou taças nos últimos anos. 

Contra o São Paulo de Dorival Júnior, o que se viu não foi nem sombra de um DNA campeão. Não sobrou quase nada. Restou a derrota por 1 a 0 e uma sensação de fim de ciclo, de que o ano acabou antes da hora. Por isso a renda milionária resultou em ofensas ao presidente Rodolfo Landim.

O abatimento dos jogadores ao apito final, somado às vaias da torcida sobre o grupo e em direção ao técnico Jorge Sampaoli e membros da diretoria deixou o clima pesado para o jogo da volta, em que o Flamengo precisaria vencer por dois gols de diferença para ser campeão. A postura em casa, porém, não dá qualquer indícios de que isso seja possível. 

Não fosse esse Flamengo, ainda com Gabigol, Bruno Henrique, Pedro e a possibilidade de ter o retorno de Arrascaeta, um time que obteve conquistas apesar de alguns treinadores. Deixando a fantasia de lado, a realidade vai além de escolhas erradas de Sampaoli. Passa, e muito, por atletas sem confiança no técnico sim, mas sem espírito competitivo, organização coletiva e tecnicamente em má fase.

O gol de Caleri ilustra muito bem a situação crítica do Flamengo. Bola lançada pelo lado direito da defesa, em que Wesley, por atuar como um ponta, deixa sempre desprotegido. Uma zaga que dá pouco combate. 

No cruzamento, o atacante se desloca para a segunda trave sem ser marcado. E quando a bola chega nele, o goleiro Matheus Cunha sai atrasado, e é facilmente batido com a cabeçada. O São Paulo saiu na frente aos 46 do primeiro tempo depois de uma etapa inicial em que o Flamengo não chutou a gol. Três atacantes, zero arremates. Houve apenas uma chance de perigo em lance de Bruno Henrique.

Gabigol, aberto pela direita, não ofereceu nenhuma resistência. Pedro, ainda que tenha conseguido uma finalização, errou passes demais. Os três foram pesos mortos em um Flamengo acéfalo, já que Gerson não teve capacidade de conduzir o time ao ataque e em muitos momentos se escondeu. 

Havia um buraco entre os setores e o jogo era construído sempre com os zagueiros, que deixaram Pulgar e Victor Hugo de costas e em apuros com passes forçados. A bola naturalmente ia até Matheus Cunha, que muitas vezes dava o chutão.

Na sorte, algumas jogadas de cruzamento aconteceram, mas o Flamengo não teve organização para ser superior na posse de bola, trocar passes e tentar alguma jogada coletiva. Movimentos aleatórios ditaram regra. 

E o São Paulo, mais coeso e intenso, aproveitou bem os espaços. Mesmo sem grande partida de Lucas Moura, Lucas Beraldo e Pablo Maia ditaram o ritmo e tinham na zaga bem postada uma segurança. Rafinha anulou Bruno Henrique. Arboleda, de volta, segurou Pedro e Gabi. No ataque, Caleri conseguia fazer o jogo fluir. Dominava apesar da marcação e distribuía a bola bem.

Depois de constatar o fracasso de sua opção, Sampaoli lançou Everton Ribeiro no segundo tempo, mas tirou Victor Hugo. O time voltou com mais posse de bola e tentou o abafa. No lance mais perigoso, o meia recebeu cruzamento de Ayrton e achou Pedro pelo alto, mas a cabeçada parou na defesa. 

Em seguida, veio Cebolinha, que enfileirou lances individuais sem sentido e desperdiçou uma das chances mais claras, em raro erro de saída do São Paulo. Os visitantes passaram a ficar atrás e tentar o contra-ataque, mas também faltou gás para a parte final.

O jogo chegou em um momento em que ninguém queria arriscar tanto. A torcida do Flamengo ficou irritada com a lentidão da equipe nas transições para buscar o empate. Não havia mais alternativas tão interessantes no banco de reservas. Sampaoli tentou algo com Matheuzinho e Thiago Maia. 

Conseguiu, ao menos, não levar mais gols. E poderia ter igualado o marcador diante do recuo do São Paulo. Ao deixar as principais peças em campo, e tirar apenas Gabi, que sentiu dores musculares, Sampaoli deixou claro que não tinha mais de onde tirar, e os jogadores também provaram que não são mais tão decisivos assim.


Fonte: O GLOBO

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