'Perguntei se tinham matado ele', diz mulher que suspeita de execução de marido por PMs durante operação da PM no Guarujá (SP)

'Perguntei se tinham matado ele', diz mulher que suspeita de execução de marido por PMs durante operação da PM no Guarujá (SP)

Boletim de ocorrência, entretanto, afirma que homem estava armado e que policiais atiraram em legítima defesa. Mulher diz que homem era ambulante e tinha saído para ir ao mercado

Moradores de Morrinhos, no Guarujá, afirmam que policiais militares mataram Filipe Nascimento quando ele havia saído de bicicleta para ir a um mercado comprar macarrão, na noite da última segunda-feira. Em boletim de ocorrência, os agentes contaram uma versão diferente: chegaram a um barraco, onde foram recebidos por um homem que estava armado, e atiraram para se defender.

Filipe tinha 22 anos e trabalhava em uma barraca na Praia das Astúrias, ajudando a servir mesas e montar guarda-sóis. Sua mulher, com quem estava há um ano e meio, relata que ele saiu para ir ao mercado por volta das 20h e, poucos minutos depois, ouviu três disparos. Assustada, saiu na viela onde mora para ver o que havia ocorrido, mas na procura se deparou com policiais jogando sua bicicleta em uma área de mangue e conta que foi tratada com truculência pelos agentes.

— Eu disse ‘policial, essa bicicleta é minha’. Ele falou: ‘Tá ficando louca, caralho, tá vendo que tá tendo operação, vai que uma bala perdida acerta em você e nas crianças?’ Aí ele me empurrou pra um outro barraco. Eu falei que precisava saber onde tava o meu marido. Então eu esperei, esperei. Eu mostrei uma foto do meu marido para os policiais e perguntei se eles tinham prendido, matado ou visto ele, mas os policiais falaram que não. Quando foi meia noite eu fui até a delegacia, encontrei os policiais, que falaram que não haviam matado meu marido.

Na terça-feira, ela foi até o Instituto Médico Legal (IML) de Santos para tentar descobrir o paradeiro de seu marido. Descobriu que ele estava lá, mas só conseguiu liberar o corpo na manhã desta quarta-feira, já que não é legalmente casada com Felipe e precisou ir até a delegacia pedir uma autorização do delegado. O homem não tinha outros familiares na cidade.

Ela questiona o conteúdo do boletim de ocorrência, no qual cinco policiais afirmaram que estavam fazendo uma operação em uma viela de Morrinhos, dois de um lado e três do outro. Quando três agentes entraram em um barraco, subiram uma escada e viram o homem armado. Neste momento, eles atiraram para se defenderem. Foram ao menos três disparos, sendo um de fuzil e dois de pistola. Os policiais alegaram que ouviram barulhos de tiros na viela, mas não sabiam da onde vinham, e que outras pessoas que estavam no barraco pularam a janela.

Douglas Brito, dono da barraca de praia onde Filipe trabalhava há mais de um ano, falou que ele era um “rapaz do bem, que não fazia mal a ninguém”. Filipe tinha passagem pela polícia, mas segundo ele, não havia se envolvido com nada ilícito há anos.

— Ele sempre chegava no horário, fazia tudo direitinho. Ele não estava com medo de sair de casa a noite porque pensava que como não estava fazendo nada de errado, não iriam mexer com ele. Ele se sentiu seguro porque não era envolvido com o crime — contou ao GLOBO.

Filipe foi uma das 16 mortes já confirmadas pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) durante a Operação Escudo, que foi deflagrada na sexta-feira (29) no Guarujá e em Santos, após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, da Rotas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), que foi baleado na Vila Júlia, no Guarujá. Ele chegou a ser socorrido ao Pronto Atendimento da Rodoviária, mas não resistiu aos ferimentos. Um outro policial também foi atingido na mão esquerda.

Em nota, a SSP afirmou que "as forças de segurança atuam em absoluta observância à legislação vigente" e destacou que, em cinco dias de Operação Escudo, a polícia prendeu 58 suspeitos e apreendeu quase 400 kg de drogas e 18 armas, entre pistolas e fuzis. "Todas as ocorrências com morte durante a operação resultaram da ação dos criminosos que optam pelo confronto, colocando em risco tanto vítimas quanto os participantes da ação", afirma a pasta. Os inquéritos são investigados pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (DEIC) de Santos.


Fonte: O GLOBO

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