Escolas públicas mais eficazes, que obtinham bons resultados atendendo crianças mais pobres, foram as mais prejudicadas
As escolas públicas eficazes — aquelas que obtinham, em condições normais, bons resultados mesmo atendendo crianças mais pobres — foram as maiores prejudicadas pela pandemia. A constatação é de um estudo recém-publicado, de Adriano Senkevics e Victor Alcantara, a partir do desempenho de alunos brasileiros do 5º ano do fundamental.
Já sabíamos que a paralisação das aulas presenciais derrubou os níveis de aprendizagem e aumentou a desigualdade, mas Senkevics e Alcantara avançam ao mostrar que o sistema educacional acabou nivelado por baixo, pois “foram os alunos mais pobres das melhores escolas quem pagaram o preço mais caro do impacto pandêmico”.
A principal explicação para isso é que, quando o ensino migrou para o modo remoto, famílias de maior nível socioeconômico apresentaram melhores condições de compensar — em alguma medida — os prejuízos. Só que o mesmo não aconteceu em lares mais pobres.
E a queda nesses casos foi maior entre crianças que partiam de um patamar mais alto de aprendizagem e não tinham em casa os mesmos recursos para atenuar prejuízos. Esse resultado, por um lado, reafirma a importância que essas escolas têm. Por outro, é mais uma evidência de que os recursos tecnológicos e pedagógicos mobilizados fizeram pouca ou nenhuma diferença.
A pesquisa constatou isso também ao utilizar um índice de resposta educacional à pandemia, que avaliou os recursos mobilizados pelas redes e escolas na adaptação ao remoto.
A pesquisa constatou isso também ao utilizar um índice de resposta educacional à pandemia, que avaliou os recursos mobilizados pelas redes e escolas na adaptação ao remoto.
Ao perceberem o pequeno efeito que esses recursos tiveram na aprendizagem, Senkevics e Alcantara concluem que houve “certa apatia das escolas e redes de ensino às ferramentas mobilizadas, o que coloca em xeque a efetividade de tais recursos no enfrentamento da crise”.
Ou seja, os esforços para adaptação do presencial ao remoto foram insuficientes, seja porque alunos e famílias não se apropriaram adequadamente deles, ou simplesmente porque a crise foi forte demais.
Outra constatação relevante do estudo é identificar um perfil de escolas que, pelas razões opostas daquelas consideradas eficazes, sofreram poucos prejuízos de aprendizagem com a pandemia. São estabelecimentos que já apresentavam um resultado prévio tão baixo que “mesmo a maior crise educacional registrada na história não foi suficiente para reduzir o desempenho”.
Um dado surpreendente da pesquisa foi que, no caso bastante específico de alunos de alto nível socioeconômico em escolas de baixo desempenho prévio, houve um incremento no desempenho observado pelos dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Para esse grupo — que, convém explicitar, é uma rara exceção ao padrão verificado no sistema educacional brasileiro —, os resultados pós-pandemia foram até melhores do que os de antes.
Sabemos que os prejuízos com a interrupção das aulas presenciais não se resumem à aprendizagem, pois as escolas são importantes equipamentos sociais, fundamentais em múltiplas dimensões do desenvolvimento infantil. Por isso mesmo, ainda há muito a ser investigado sobre os efeitos devastadores da pandemia na educação.
Fonte: O GLOBO
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