Esquema de pirâmide e pedras preciosas: entenda as acusações contra o marido de Perlla, solto após 10 meses na prisão

Esquema de pirâmide e pedras preciosas: entenda as acusações contra o marido de Perlla, solto após 10 meses na prisão

Patrick Abrahão, casado com a artista, e outros quatro investigados teriam usado pedras preciosas em lavagem de dinheiro

O músico e empresário Patrick Abrahão, casado com a cantora Perlla, se manifestou publicamente pela primeira vez esta semana após passar dez meses na cadeia — acusado de acusado de operar instituição financeira sem autorização legal, gestão fraudulenta de instituição financeira, crime ambiental, lavagem de dinheiro e pertencimento a organização criminosa. A investigação contra o investidor de 25 anos começou após apreensão de esmeraldas na fronteira com Paraguai.

Ele teve a prisão preventiva revogada pela Justiça Federal de Mato Grosso do Sul e foi solto em 10 de agosto. Além dele, outros quatro investigados por suspeita de participar de um esquema de pirâmide financeira criado pela corretora Trust Investing foram beneficiados com a decisão da juíza Júlia Cavalcante Silva Barbosa, da 3ª Vara Federal de Campo Grande.

Abrahão estava preso desde outubro do ano passado, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação La Casa de Papel. Na ocasião, também foram presos Ivonélio Abrahão da Silva, Fabiano Lorite de Lima, Diorge de Araújo Chaves e Diego Ribeiro Chaves. Todos eles tiveram a prisão substituída por medidas cautelares, como a obrigação de comparecer mensalmente perante a juíza e não sair do país sem aval.

Investigação

O grupo foi preso por suspeita de participar de um esquema de pirâmide financeira criado pela corretora Trust Investing que já afetou 1,3 milhão de investidores em mais de 80 países e causou prejuízos de R$ 4,1 bilhões.

Durante a Operação La Casa de Papel, os agentes apreenderam 268 kg de pedras verdes "que se assemelham a esmeraldas" e serão submetidas a perícia e avaliação. Os investigadores apuram se a mineração era usada pelos suspeitos para lavagem de dinheiro.

O judiciário também determinou, na ocasião, o bloqueio de US$ 20 milhões e sequestros de dinheiro em contas bancárias, imóveis de altíssimo padrão, gado, veículos, ouro, joias, artigos de luxo, mina de esmeraldas, lanchas e criptoativos em nome dos suspeitos e de suas empresas.

O grupo praticava crimes contra o sistema financeiro nacional, evasão de dividas, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, usurpação de bens públicos, crime ambiental e estelionato, segundo a PF.

A ação, nomeada de "La Casa de Papel" por conta da dupla nacionalidade espanhola de alguns dos integrantes, foi realizada em parceria com a Receita Federal e a Agência Nacional de Mineração (ANP).

Prisão em casa de luxo

Entre os presos estava o músico e empresário Patrick Abrahão, que é casado com a cantora Perlla. Ele foi preso em casa, em um condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio.

A PF descobriu, na investigação, que os investigados tinham o plano de abrir o próprio banco e a própria "casa da moeda" para fabricar dinheiro por meio de criptoativos. Eles chegaram a criar duas criptomoedas próprias, no fim de 2021, ambas sem qualquer lastro financeiro.

De acordo com os investigadores, o grupo atuava desde 2019. O inquérito policial, no entanto, começou em agosto de 2021, quando duas pessoas foram presas em flagrante na fronteira do Brasil com o Paraguai, em Dourados (MS), com esmeraldas avaliadas em US$ 100 mil. As pedras preciosas estavam ocultas e não tinham origem legal, pois estavam amparadas em nota fiscal cancelada.

A investigação sobre os envolvidos com as esmeraldas revelou um esquema de pirâmide financeira. A organização criminosa usava as redes sociais, promovia reuniões e tinha apoio de uma igreja pertencente a um dos investigados para levantar recursos e captar clientes.

As vítimas eram atraídas por promessas de ganhos diários em percentuais acima do praticado no mercado, que poderiam chegar a até 20% ao mês e mais de 300% ao ano. Os lucros seriam obtidos por meio dos supostos “traders” a serviço da empresa.

Os clientes também eram chamados a atrair novos investidores, em mecanismo que chamavam de “binário”. Na medida em que uma nova pessoa colocava seu dinheiro nas empresas, o responsável por atrair essa vítima obtinha ganhos adicionais. A prática caracteriza o esquema de pirâmide.

Os investigados alegavam que eram sócios de duas instituições financeiras e operavam no Brasil e na Estônia, de forma legal. Mas as empresas não existiam de fato. O grupo também não tinha autorização para a captação e gestão de recursos levantados nesses dois países.

O que dizem as defesas

Em nota enviada ao GLOBO no começo de agosto, após a ordem de soltura, João Francisco Neto, advogado de Abrahão, disse que a defesa comprovou que seu cliente Patrick Abrahão "era apenas um dos milhares de investidores e não tinha nenhum envolvimento na administração da empresa".

"A acusação se demonstrou equivocada e a esperada absolvição é a única forma de reparar, ainda que tardiamente, a violência jurídica que ele e sua família vêm sofrendo", acrescenta o comunicado.

A advogada Talesca Campara de Souza, que representa Lorite no processo, afirmou ao GLOBO que a decisão judicial "foi assertiva, tendo em vista que os réus já se encontravam presos há quase um ano, cooperando com o judiciário, e neste momento não mais oferecem risco à instrução processual ou ainda de reiteração criminosa".

Talesca alegou, ainda, que pesar da acusação de operar sem a autorização do Banco Central, eles não eram um banco, mas sim uma Exchange, "as quais somente foram regulamentadas no final do ano passado e neste ano, através da Lei 14.478/22 e Decreto 11.563/23".


Fonte: O GLOBO

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