Em meio a crise de Bivar com ACM Neto, executiva do União Brasil age para tirá-lo da presidência da sigla

Em meio a crise de Bivar com ACM Neto, executiva do União Brasil age para tirá-lo da presidência da sigla

Ex-prefeito de Salvador reagiu a intervenção do cacique no Amazonas, e legenda tem conflitos em pelo menos seis estados

Dois integrantes da cúpula do União Brasil estão travando uma batalha: o deputado Luciano Bivar (PE), atual presidente da legenda, e o ex-prefeito de Salvador e secretário-geral do partido, ACM Neto. O embate teve início após Bivar fazer uma intervenção no diretório do Amazonas e convocar, unilateralmente, a convenção estadual para tentar eleger lideranças locais afinadas a ele. 

A sigla, que convive com disputas internas desde a sua criação, também tem conflitos no Rio, Pernambuco, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Acre. Em alguns casos, as desavenças resultaram em pedidos de desfiliação.

Por conta da queda de braço no Amazonas, a maioria dos membros da executiva nacional — sete de dez integrantes — enviou aos parlamentares do partido uma nota com críticas a Bivar. Há uma escalada na insatisfação com o presidente da legenda, e uma ala do União se movimenta para que ele não seja reconduzido ao comando da sigla. Ainda não há nome de consenso que possa substituí-lo, mas ganhou força a tentativa de impedir que ele seja reeleito ao posto em maio do ano que vem.

Entre os críticos de Bivar, há a avaliação de que as intervenções dele nos estados ocorrem justamente para lhe garantir maioria na legenda e impedir que outro nome o substitua.

O documento enviado aos parlamentares foi assinado por ACM Neto, José Agripino Maia (ex-senador), Ronaldo Caiado (governador de Goiás), Professora Dorinha Seabra (senadora por Tocantins), Mendonça Filho (deputado federal por Pernambuco), Davi Alcolumbre (senador pelo Amapá e ex-presidente do Senado) e Bruno Reis, prefeito de Salvador.

ACM Neto afirmou que será necessária uma mudança na legenda, abrindo mais espaço para que deputados e senadores tenham maior peso nas decisões:

— O presidente Bivar, infelizmente, tomou uma decisão individual que caberia à executiva nacional, o que mostra a necessidade de uma repactuação interna no partido, inclusive, para que deputados e senadores tenham maior peso nas decisões.

Bivar foi procurado, mas não retornou até o fechamento da reportagem.

Pelo estatuto do partido, a eleição realizada fora de época, como no caso do Amazonas, precisa do aval da executiva nacional. Integrantes da cúpula do partido conseguiram derrubar a convocação de Bivar na Justiça. 

Ele recorreu e perdeu na segunda instância. Rivais do cacique dizem que ele rompeu com um acordo para que o governador do Amazonas, Wilson Lima, ficasse à frente da comissão provisória no estado e o ex-deputado Pauderney Avelino da direção de Manaus. Essa comissão tem a tarefa de organizar o partido para a realização da eleição.

ACM Neto conclui que escolhas políticas não podem ser tomadas individualmente. O receio dele é que a decisão de Bivar abra precedentes interfira nos estados em quaisquer situações.

Caiado se queixou que o presidente da legenda não obedece às regras do próprio partido:

— Nós tratamos de corrigir uma decisão do Bivar, que não tinha respaldo no estatuto do partido.

Resultado da fusão do Democratas (DEM), do qual ACM Neto foi presidente, e PSL, partido liderado por Bivar, o União Brasil surgiu em 6 outubro de 2021 com status de maior partido do Brasil e fundo de R$ 800 milhões. 

Mas com interesses tão diversos, não são incomuns as rusgas entre seus integrantes. Como mostrou O GLOBO, um grupo de deputados do Rio de Janeiro, incluindo a ex-ministra do Turismo Daniela Carneiro, foi à Justiça pedir desfiliação por avaliar que o presidente nacional do partido negociava cargos e tomava decisões no estado sem os consultar.

Interferências

Também há rixas no Maranhão, onde Bivar age para que o deputado Pedro Lucas Fernandes tenha influência sobre a legenda, o que contraria o ministro das Comunicações, Juscelino Filho.

No Mato Grosso do Sul a divergência resultou na desfiliação da senadora Soraya Thronicke, que foi para o Podemos. Aliada de Bivar, ela perdeu o comando da legenda no estado para a ex-deputada Rose Modesto.

Já no Acre houve um acordo, mas o senador Alan Rick ameaçou sair do partido após Bivar e o vice-presidente do União Brasil, Antonio Rueda, mudarem a composição do diretório estadual. Após a dupla de dirigentes recuar, o parlamentar permaneceu na legenda.

Em seu próprio estado, Pernambuco, Bivar enfrenta oposição interna. O deputado Mendonça Filho foi um dos que assinaram a nota contra o correligionário. Recentemente, Bivar destituiu Mendonça da presidência do União Brasil no Recife, mas a decisão foi invalidada pela Justiça.

Desde a fusão, o Bivar e ala de políticos do DEM protagonizam embates. Em abril de 2022, dois meses após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conceder registro à legenda, integrantes da executiva já assinaram nota desautorizando uma candidatura presidencial do hoje senador Sergio Moro, algo que era incentivado por Bivar.

Com a fusão, Bivar buscava a capilaridade que a antiga legenda, o PSL, tinha nos estados. Em 2018, o partido inflou ao filiar Jair Bolsonaro e obteve o maior fundo partidário e eleitoral da época, o que atraiu os políticos do DEM.


Fonte: O GLOBO

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