Dioceses criam comissões para receber denúncias sobre abuso sexual de padres contra crianças e adolescentes

Dioceses criam comissões para receber denúncias sobre abuso sexual de padres contra crianças e adolescentes

Instalação dos grupos foi determinada pelo Papa Francisco em 2019. Nas últimas duas décadas, pelo menos 108 sacerdotes foram acusados ou condenados por crimes sexuais

Dioceses em pelo menos três estados brasileiros instalaram ou preveem a instalação, este ano, de comissões para receber denúncias sobre casos de abuso sexual praticados por membros do clero contra crianças e adolescentes. 

A criação desses departamentos, em todas as dioceses do mundo, está prevista no decreto "Vos estis lux mundi" ("Vós sois a luz do mundo", em latim), assinado pelo Papa Francisco em maio de 2019 e marco nas mudanças da legislação interna da Igreja Católica sobre os crimes sexuais contra pessoas vulneráveis. Pelo menos uma dessas dioceses teve padres denunciados por molestar menores — nas últimas duas décadas, pelo menos 108 sacerdotes foram acusados ou condenados por esse tipo de delito.

O caso mais recente é o da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, em Mato Grosso, que instituiu a Comissão Diocesana de Proteção e Tutela de Crianças, Adolescentes e Pessoas Vulneráveis em 18 de maio. O anúncio de criação da comissão foi feito pelo bispo Dom Maurício da Silva Jardim. Ele afirma que o “momento único” da instalação da comissão é uma resposta ao apelo do Papa Francisco.

Num vídeo divulgado pela diocese, o padre Erivelton de Almeida Postil, coordenador da comissão, leu o decreto episcopal que instalou o grupo. Segundo a diocese, a comissão existe para que as pessoas “cientes desses abusos, possam informar as autoridades da Igreja”, garantindo que essas informações “sejam convenientemente estudadas e que as medidas necessárias sejam tomadas em tempo hábil, evitando o silêncio e a ocultação desses crimes quando ocorrem”.

Em 2019, dois padres da diocese, Jhonatha Almeida da Silva e Thiago Silveira Barros, foram acusados de abusar sexualmente de um adolescente. A denúncia partiu da tia do garoto de 17 anos.

Na Diocese de Oeiras, no Piauí, a comissão foi instituída em fevereiro deste ano pelo bispo Edilson Soares Nobre. Já na Diocese de Jales, no interior de São Paulo, segundo revelou o jornal "Diário da Região" no último dia 19, o bispo de Jales, dom José Reginaldo Andrietta, determinou a formação de uma comissão diocesana para investigar casos suspeitos de pedofilia no clero. “Muito em breve será anunciada a nomeação de seus membros”, disse ele ao jornal.

O livro "Pedofilia na Igreja" será lançado em 14 de junho — Foto: Divulgação

Pedofilia na Igreja

Em junho, a Diocese de Itapeva, também no interior de São Paulo, suspendeu de suas funções o padre Elias Francisco Guimarães, de 65 anos. O afastamento ocorreu após vir à tona a informação de que o sacerdote havia sido condenado, em 2003, a 4 anos e 3 meses de prisão por abuso de menores na Flórida, nos Estados Unidos. 

O caso foi exposto no livro "Pedofilia na Igreja" (Máquina de Livros, 2023), lançado no mesmo mês, onde são relatados crimes sexuais cometidos por 108 membros do clero do Brasil contra crianças e adolescentes. Entre os relatos, está o do padre Elias. Segundo o comunicado da diocese, foi aberto um processo canônico contra o padre.

Os abusos descritos no livro revelam a prática criminosa de sacerdotes de 80 dioceses e arquidioceses, em 23 estados e no Distrito Federal. Há padres, monsenhores (um título de honra concedido a padres), bispos e arcebispos, além de uma freira. Há abusos cometidos tanto por padres diocesanos — que não pertencem a uma ordem religiosa — quanto por frades franciscanos, salesianos, beneditinos e jesuítas, entre outros.


Fonte: O GLOBO

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